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sexta-feira, agosto 05, 2011

ENCONTREI EM: NLSON MONTORIL - ARAMBAÉ

Onde estão os imortais amapaenses?

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Rodrigo Cunha · Santana, AP
20/3/2006 · 7 · 1
Você sabia que existe a Academia Amapaense de Letras? Existe. E desde 21 de junho de 1952, quando foi inaugurada pelo primeiro governador do Território Federal do Amapá, Janary Gentil Nunes. A informação foi publicada no blog do historiador Edgar Rodrigues [www.edgar.rodrigues.zip.net]. Edgar também é um dos membros da Academia Amapaense de Letras que, segundo ele, desde a última composição (1988), nunca realizou uma reunião.

Na época de sua fundação, a Academia de Letras reunia os principais intelectuais da terra, como Heitor Picanço (o único ainda vivo), Antonio Munhoz, Cora de Carvalho, José Benevides, Paulo Eleutério Cavalcante, Amaury Farias, entre outros. A principal função do órgão, segundo Janary, era "participar, orientar a caminhada do povo amapaense", como consta em seu discurso, realizado na extinta Piscina Territorial, em 6 de julho de 1956 (leia o discurso na íntegra abaixo).

O governador do Território sentia-se muito satisfeito pela criação da academia e relembrava obras históricas que resgatavam a história do Amapá, tais como "História das Fortificações Construídas pelos Portugueses", de Arthur Vianna; "Verdadeiro Eldorado", de Alfredo Távora Gonçalves; "La France Equinociale", de Henry Coundreau e as próprias edições do primeiro impresso do Amapá, o "Pinzonia".

Em 31 de agosto de 1988, durante o governo de Jorge Nova da Costa, houve uma reorganização de membros da Academia Amapaense de Letras. O historiador Nilson Montoril assumira a presidência. O advogado Antonio Cabral de Castro, a professora Aracy Miranda de Montalverne, o historiador Estácio Vidal Picanço, o advogado Georgenor de Souza Franco, o historiador Dagoberto Damasceno Costa, o sociólogo Fernando Pimentel Canto e o professor Manuel Bispo Correa assumiram o novo silogeu.

Segundo Edgar Rodrigues, a academia se encontra inativa e toda a documentação continua nas mãos de Nilson Montoril que desde 1988 não teria organizado nenhuma reunião cultural.

Falta de interesse
Segundo Nilson Montoril, presidente da Academia Amapaense de Letras e ocupante da cadeira número dez, de patrono Francisco Torquato de Araújo (pai de Nilson), o que existe é a falta de interesse. O presidente ainda explica que a falta de reunião entre os membros da Academia Amapaense de Letras se deu pela falta de corporativismo em manter a instituição viva. "Quando a professora Aracy Mont'Alverne e o Hélio Pennafort eram vivos, e o Dom Luís Soares Vieira ainda estava aqui, nós reuníamos. Depois, nunca mais houve reuniões entre os membros", afirma.

Em 1988, foram nomeados 21 membros. A idéia inicial era seguir o padrão francês, com 40 sócios. Mas preferiu-se deixar para preencher posteriomente. Dos que tomaram posse neste ano, sete já morreram e três se mudar para outros Estados. Entre os que faleceram estão: Aracy Mont'Alverne, Hélio Pennafort, padre Jorge Basile, Estácio Vidal Picanço, Arthur Marinho e Isnard Lima. Os três que não estão mais no Amapá, são Dom Luís Soares Vieira, Dagoberto Damasceno Costa e Georgenor de Souza Franco.

Até hoje, a academia não possui sede. Houve a idéia de transformar o prédio do antigo Fórum de Macapá em um centro cultural, onde se locaria a Academia Amapaense de Letras e o Instituto Histórico e Cultural do Amapá, que também não possui sede. Mas com a posse do governador Gilton Garcia, em 1990, que também foi membro da Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe, cedeu o prédio para a OAB/AP.

Nessa época, as reuniões dos membros aconteceram no Conselho de Educação, quando Nilson Montoril era presidente desta instituição, e depois na casa do historiador.

O professor explica que há interesse em resgatar a academia e o instituto por parte do Estado, que solicitou ao Conselho de Cultura analisar as atuais condições desses órgãos. "O órgão está todo legalizado, tenho todas as documentações, incluindo o estatuto. Caso venhamos em breve reativar a academia, é só publicar o edital, convidar todos que tenham interesse em participar, receber o currículo com a proposta de ingresso e organizar uma comissão de seleção", explica Nilson Montorial, que planeja convidar pessoas jovens para participar da academia, mesclando com a 'velha guarda'.

Discurso de Janary Nunes
Senhor presidente, senhores membros, excelentíssimas senhoras, senhores.

O Amapá é uma idéia em marcha para o porvir, é um sonho que se realiza a cada instante. Debruçado entre o Oiapoque e o Jarí no maciço guiano, cuja idade é da formação da terra, contempla na direção do nascente a imensidão do oceano e ao sul do gigantesco Amazonas, que liga os Andes ao mar vislumbrando seu destino universal. A história da incorporação de seu solo à pátria, é o mais inteligente e o mais perseverante capitulo do livro de outro escrito pela diplomacia luso-brasileira na fixação das nossas fronteiras.

O Amapá merece assim uma academia, cujos membros sejam os garimpeiros de suas pedras preciosas ainda por descobrir, nesse cascalho rico que é o seu passado, nossa mina que é a sua natureza. Surpreende-nos entretanto, senhores acadêmicos, a honra demasiada que nos concedem, escolhendo-nos membros honorários de vossa sociedade. Não encontramos frases apropriadas para exprimir nossa gratidão a esse gesto que nos cativa eternamente.

Desejamos que a Academia Amapaense de Letras, constituída de homens de cultura, acompanhe, participe e oriente a caminhada que o vosso povo vai trilhar. Os acadêmicos têm sido alvo de críticas nem sempre justas e serenas. Acusam-nos de esterilidade, de limitação à rebeldia criadora, de cenáculo vaidoso onde se esfria a chama sagrada da beleza.

Mas tantas já foram as graças de Deus derramadas sobre esta terra, que as nossas esperanças se animam e dão-nos a certeza de que a Academia Amapaense de Letras formará um ambiente propício aos altos remígios do Espírito. O Amapá é um convite irresistível aos que possuem sensibilidade e aptidão para traduzir em palavras o que sentem.

Antes da criação do Território, Aurélio Buarque escreveu interessante ensaio intitulado AMAPÁ. Alfredo Távora Gonçalves levou-nos o VERDADEIRO ELDORADO. Mário da Veiga Cabral nas edições de sua COROGRAFIA BRASILEIRA, divulgou episódios da formação da fronteira setentrional. Arthur Vianna fez a HISTÓRIAS DAS FORTIFICAÇÕES CONSTRUÍDAS PELOS PORTUGUESES. Palma Muniz, através dos ANAIS DA BIBLIOTECA E ARQUIVO PÚBLICO DO PARÁ, deu-nos a HISTÓRIA DOS MUNICÍPIOS DE MACAPÁ, MAZAGÃO E MONTENEGRO. Jorge Hurley mostrou a participação de Macapá e Mazagão na Cabanagem. Emílio Goeldi situou as cerâmicas do Cunani e do Maracá. O general Rondom imprimiu RODOVIA MACAPÁ/CLEVELÃNDIA. Alexandre Vaz Tavares e Acelino de Leão cantaram as belezas de seu torrão natal. Pedro de Moura e Josalfredo Borges divulgaram elementos básicos de nossa geologia. Dois cientistas franceses publicaram volumosos ENSAIOS SOBRE A GUIANA BRASILEIRA. Henry Coundreau com LA FRANCE EQUINOCIALE e Brousseau com LES RICHESSES DE LA GUYANE FRANÇAISE.

Macapá teve um jornal impresso: PINSONIA. Eis a obra em resumo de algumas famosas personalidades amapaenses ou que passaram por aqui deixando sua marca intelectual.

Aguardam divulgação os estudos de Álvaro da Cunha, Alceu Magnani e Lucio de Castro Soares. Ainda não foram descritas como merecem, no seu heroísmo anônimo a existência do balateiro, esses caboclos indômitos que munidos de um pouco de sal, jabá e farinha, embrenham-se na mata, somem e desaparecem na floresta para voltarem meses após, maltrapilhos e doentes. Eis senhores acadêmicos, alguns temas que pedem livros e mais livros. A cultura de um povo só se conquista acumulando experiências, somando conhecimentos, multiplicando pesquisas. Alcançaremos a meta que aspiramos.

Pioneiros da segunda metade do século XX, lutemos para fazer do Amapá, desta terra generosa e deste povo amigo, um conjunto amigo e feliz, onde não falte a crença que constrói nem a beleza e nem o amor.

Transcrito do jornal "O Amapá", de 6 de julho de 1953

ENCONTREI EM: NLSON MONTORIL - ARAMBAÉ

Onde estão os imortais amapaenses?

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Rodrigo Cunha · Santana, AP
20/3/2006 · 7 · 1
Você sabia que existe a Academia Amapaense de Letras? Existe. E desde 21 de junho de 1952, quando foi inaugurada pelo primeiro governador do Território Federal do Amapá, Janary Gentil Nunes. A informação foi publicada no blog do historiador Edgar Rodrigues [www.edgar.rodrigues.zip.net]. Edgar também é um dos membros da Academia Amapaense de Letras que, segundo ele, desde a última composição (1988), nunca realizou uma reunião.

Na época de sua fundação, a Academia de Letras reunia os principais intelectuais da terra, como Heitor Picanço (o único ainda vivo), Antonio Munhoz, Cora de Carvalho, José Benevides, Paulo Eleutério Cavalcante, Amaury Farias, entre outros. A principal função do órgão, segundo Janary, era "participar, orientar a caminhada do povo amapaense", como consta em seu discurso, realizado na extinta Piscina Territorial, em 6 de julho de 1956 (leia o discurso na íntegra abaixo).

O governador do Território sentia-se muito satisfeito pela criação da academia e relembrava obras históricas que resgatavam a história do Amapá, tais como "História das Fortificações Construídas pelos Portugueses", de Arthur Vianna; "Verdadeiro Eldorado", de Alfredo Távora Gonçalves; "La France Equinociale", de Henry Coundreau e as próprias edições do primeiro impresso do Amapá, o "Pinzonia".

Em 31 de agosto de 1988, durante o governo de Jorge Nova da Costa, houve uma reorganização de membros da Academia Amapaense de Letras. O historiador Nilson Montoril assumira a presidência. O advogado Antonio Cabral de Castro, a professora Aracy Miranda de Montalverne, o historiador Estácio Vidal Picanço, o advogado Georgenor de Souza Franco, o historiador Dagoberto Damasceno Costa, o sociólogo Fernando Pimentel Canto e o professor Manuel Bispo Correa assumiram o novo silogeu.

Segundo Edgar Rodrigues, a academia se encontra inativa e toda a documentação continua nas mãos de Nilson Montoril que desde 1988 não teria organizado nenhuma reunião cultural.

Falta de interesse
Segundo Nilson Montoril, presidente da Academia Amapaense de Letras e ocupante da cadeira número dez, de patrono Francisco Torquato de Araújo (pai de Nilson), o que existe é a falta de interesse. O presidente ainda explica que a falta de reunião entre os membros da Academia Amapaense de Letras se deu pela falta de corporativismo em manter a instituição viva. "Quando a professora Aracy Mont'Alverne e o Hélio Pennafort eram vivos, e o Dom Luís Soares Vieira ainda estava aqui, nós reuníamos. Depois, nunca mais houve reuniões entre os membros", afirma.

Em 1988, foram nomeados 21 membros. A idéia inicial era seguir o padrão francês, com 40 sócios. Mas preferiu-se deixar para preencher posteriomente. Dos que tomaram posse neste ano, sete já morreram e três se mudar para outros Estados. Entre os que faleceram estão: Aracy Mont'Alverne, Hélio Pennafort, padre Jorge Basile, Estácio Vidal Picanço, Arthur Marinho e Isnard Lima. Os três que não estão mais no Amapá, são Dom Luís Soares Vieira, Dagoberto Damasceno Costa e Georgenor de Souza Franco.

Até hoje, a academia não possui sede. Houve a idéia de transformar o prédio do antigo Fórum de Macapá em um centro cultural, onde se locaria a Academia Amapaense de Letras e o Instituto Histórico e Cultural do Amapá, que também não possui sede. Mas com a posse do governador Gilton Garcia, em 1990, que também foi membro da Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe, cedeu o prédio para a OAB/AP.

Nessa época, as reuniões dos membros aconteceram no Conselho de Educação, quando Nilson Montoril era presidente desta instituição, e depois na casa do historiador.

O professor explica que há interesse em resgatar a academia e o instituto por parte do Estado, que solicitou ao Conselho de Cultura analisar as atuais condições desses órgãos. "O órgão está todo legalizado, tenho todas as documentações, incluindo o estatuto. Caso venhamos em breve reativar a academia, é só publicar o edital, convidar todos que tenham interesse em participar, receber o currículo com a proposta de ingresso e organizar uma comissão de seleção", explica Nilson Montorial, que planeja convidar pessoas jovens para participar da academia, mesclando com a 'velha guarda'.

Discurso de Janary Nunes
Senhor presidente, senhores membros, excelentíssimas senhoras, senhores.

O Amapá é uma idéia em marcha para o porvir, é um sonho que se realiza a cada instante. Debruçado entre o Oiapoque e o Jarí no maciço guiano, cuja idade é da formação da terra, contempla na direção do nascente a imensidão do oceano e ao sul do gigantesco Amazonas, que liga os Andes ao mar vislumbrando seu destino universal. A história da incorporação de seu solo à pátria, é o mais inteligente e o mais perseverante capitulo do livro de outro escrito pela diplomacia luso-brasileira na fixação das nossas fronteiras.

O Amapá merece assim uma academia, cujos membros sejam os garimpeiros de suas pedras preciosas ainda por descobrir, nesse cascalho rico que é o seu passado, nossa mina que é a sua natureza. Surpreende-nos entretanto, senhores acadêmicos, a honra demasiada que nos concedem, escolhendo-nos membros honorários de vossa sociedade. Não encontramos frases apropriadas para exprimir nossa gratidão a esse gesto que nos cativa eternamente.

Desejamos que a Academia Amapaense de Letras, constituída de homens de cultura, acompanhe, participe e oriente a caminhada que o vosso povo vai trilhar. Os acadêmicos têm sido alvo de críticas nem sempre justas e serenas. Acusam-nos de esterilidade, de limitação à rebeldia criadora, de cenáculo vaidoso onde se esfria a chama sagrada da beleza.

Mas tantas já foram as graças de Deus derramadas sobre esta terra, que as nossas esperanças se animam e dão-nos a certeza de que a Academia Amapaense de Letras formará um ambiente propício aos altos remígios do Espírito. O Amapá é um convite irresistível aos que possuem sensibilidade e aptidão para traduzir em palavras o que sentem.

Antes da criação do Território, Aurélio Buarque escreveu interessante ensaio intitulado AMAPÁ. Alfredo Távora Gonçalves levou-nos o VERDADEIRO ELDORADO. Mário da Veiga Cabral nas edições de sua COROGRAFIA BRASILEIRA, divulgou episódios da formação da fronteira setentrional. Arthur Vianna fez a HISTÓRIAS DAS FORTIFICAÇÕES CONSTRUÍDAS PELOS PORTUGUESES. Palma Muniz, através dos ANAIS DA BIBLIOTECA E ARQUIVO PÚBLICO DO PARÁ, deu-nos a HISTÓRIA DOS MUNICÍPIOS DE MACAPÁ, MAZAGÃO E MONTENEGRO. Jorge Hurley mostrou a participação de Macapá e Mazagão na Cabanagem. Emílio Goeldi situou as cerâmicas do Cunani e do Maracá. O general Rondom imprimiu RODOVIA MACAPÁ/CLEVELÃNDIA. Alexandre Vaz Tavares e Acelino de Leão cantaram as belezas de seu torrão natal. Pedro de Moura e Josalfredo Borges divulgaram elementos básicos de nossa geologia. Dois cientistas franceses publicaram volumosos ENSAIOS SOBRE A GUIANA BRASILEIRA. Henry Coundreau com LA FRANCE EQUINOCIALE e Brousseau com LES RICHESSES DE LA GUYANE FRANÇAISE.

Macapá teve um jornal impresso: PINSONIA. Eis a obra em resumo de algumas famosas personalidades amapaenses ou que passaram por aqui deixando sua marca intelectual.

Aguardam divulgação os estudos de Álvaro da Cunha, Alceu Magnani e Lucio de Castro Soares. Ainda não foram descritas como merecem, no seu heroísmo anônimo a existência do balateiro, esses caboclos indômitos que munidos de um pouco de sal, jabá e farinha, embrenham-se na mata, somem e desaparecem na floresta para voltarem meses após, maltrapilhos e doentes. Eis senhores acadêmicos, alguns temas que pedem livros e mais livros. A cultura de um povo só se conquista acumulando experiências, somando conhecimentos, multiplicando pesquisas. Alcançaremos a meta que aspiramos.

Pioneiros da segunda metade do século XX, lutemos para fazer do Amapá, desta terra generosa e deste povo amigo, um conjunto amigo e feliz, onde não falte a crença que constrói nem a beleza e nem o amor.

Transcrito do jornal "O Amapá", de 6 de julho de 1953