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quinta-feira, dezembro 08, 2016

MAIS QUE UM.

A mídia nacional amanheceu espargindo baba, pelo menos a mídia que ontem apostou na decisão liminar do ministro Marco Aurélio de Melo, do Supremo Tribunal Federal mandando afastar da Presidência do Senado e do Congresso Nacional o senador Renan Calheiros. Essa parte raivosa da mídia nacional não gosta do Renan, considera que seu lugar é na cadeia e não no parlamento nacional.
A Justiça nacional vem dizendo que Renan tem contas a ajustar com a justiça., aliás contas acumuladas que dão ao Renan de hoje o contorno de perigoso criminoso solto pelas ruas junto com criancinhas. A Justiça juntamente com essa parte raivosa da mídia nacional, deixou de punir o Renan a cada crime atribuído a ele até que chegasse à incrível marca de mais de dez processos contra si no próprio Supremo Tribunal. Judiciário e mídia, assim, acomodaram o Renan criminoso do jeito que deu no precioso campo da impunidade que até antes do Juiz Sergio Moro e da Lava Jato era uma certeza para a turma do “sabe com quem está falando”.
Praticamente toda a mídia nacional considera Renan como um dos ainda “coronéis” da politica nacional, e quando pode o coloca acima dos tantos coronéis das igrejas, da indústria, das empreiteiras, do crime organizado e desorganizado, do judiciário, do ministério público e até dos “gerentes” de lixões Brasil afora e adentro.
Renan em sua defesa pode até dizer que espera ansiosamente suas chances de se explicar e se defender das tantas acusações perante a própria justiça....por que não o levam aos tribunais? Marco Aurelio e todos que o apoiaram na intenção de faze-lo no caso atual erraram na origem e por isso ficou a impressão de que Renan se sobrepôs à ordem jurídica nacional.
Durante e depois da votação sobre quem pode e quem não pode permanecer na linha sucessória da Presidência da República não restou duvida de que réus não podem estar. Ponto! Porém, duvidas também não restaram de que o caso, por enquanto, quase se esgotava nessa conclusão. O quase correu a conta de um instituto interno do próprio STF, ícone e dogma, que é o direito de Pedido de Vista ao dispor de qualquer ministro da casa em qualquer assunto. Instituto esse que quando em exercício coloca sub judice o assunto em andamento...qualquer assunto.
Disso sabia sua excelência o ministro Marco Aurélio e sobre isso nunca houve ignorância da parte dos destacados representantes da grande mídia nacional. Nem da pequena mídia, essa em que me vejo de vez em quando.
Assim, os “erros” do Renan, como por exemplo, recusar-se a receber a notificação judicial, entrou para baixo do guarda-chuva popular: “uma coisa puxa a outra”. Ademais, ao contrario de manifestações contundentes como a do jornalista Ricardo Boechat, não há uma Constituição para o Renan. O que há e o que houve foi contornar um erro de um ministro do Supremo Tribunal Federal contra a figura do Presidente do Senado e do Congresso Nacional, que só chega a esse cargo mediante duas eleições constitucionais: pelo eleitor e pelos senadores eleitos.
Afasta-lo daí não é, em principio, prerrogativa do Poder Judiciário, por usurpação de prerrogativas constitucionais do Poder Legislativo. Gilmar Mendes é também ministro do STF, colega de Marco Aurélio quase de mesma cadeira no plenário, e mesmo assim foi ele quem falou em impeachment do colega pelos erros cometidos. Aliás, duvidoso que Marco Aurélio atropelasse um pedido de vista do ministro Celso de Melo, como achou fácil faze-lo com o direito do colega “caçula” Dias Toffoli.  
A mídia raivosa cuidou de abafar essa opinião do ministro Mendes, aliás, polemico sempre, mesmo assim ministro antigo da casa. A mesma mídia sabe que desde o Mensalão que o STF deixou de ser o de antes para quase se transformar num partido politico. Tempos difíceis vive o Brasil, até a sabedoria popular anda confusa: como um erro não justifica outro se uma coisa puxa a outra?      


terça-feira, novembro 08, 2016

PALAVRAS OU ATITUDES?

Gosto da contribuição da mitologia grega em minha vida, encontro nela explicações para os meus erros e força para a jornada. Ontem conheci a esperteza de mais um dos deuses mitológicos – Procusto.
Vi-me, no ato, de volta à minha infância com os meus irmãos em Volta Grande/MG. Na cidade fazia muito frio, em casa o que tínhamos para cobrir eram as pelejas. Suely, Adilson e eu sofríamos menos – éramos menores, baixinhos o suficiente para que nossas pelejas nos cobrissem por inteiro se bem encolhidos na cama.  Celso, Selma e Paulo eram compridos, por mais que se encolhessem pelejavam com a cabeça ou com os pés descobertos.
Procusto é padrasto da peleja, pequeno cobertor ralo. Porém, astuto e mau, tinha duas camas para os seus hospedes. Aos compridos oferecia cama pequena e aos pequenos, grande. Aos primeiros amputava pernas ou cabeças ou pernas e cabeças até que coubessem na cama., dos outros esticava até caberem na cama comprida.      
Daqui para diante a astúcia maldosa de Procusto me remete à realidade financeira do estado do Rio de Janeiro, cujo eco pode retumbar no estado do Amapá daqui a pouco. Pesão é governador Procusto do Rio, Waldez poderá vir a ser governador Procusto do Amapá – ambos têm duas camas para seus hospedes.
Cama curta para servidores que reivindiquem salários mensais pagos integralmente, sem parcelamentos – aí corta-lhes as pernas. Mesma cama para servidores comuns que atrevam a reivindicar salários mensais integrais, correções e reajustes – aí corta-lhes pernas e cabeças.
Cama comprida para servidores especiais - os que determinam seus vencimentos sem tugidos ou mugidos, a esses Pesão Procusto estica bem devagar, com jeito, até que caibam na cama.
Assim, talvez, vejamos o que restará a Waldez Procusto fazer por aqui. Se o fizer farão o mesmo todos os prefeitos dos municípios daqui        


quinta-feira, setembro 29, 2016

CÃO, MÚSICA E CHINA.

Saí à rua hoje por dois motivos muito especiais, caros para mim – ver e ouvir minha neta Jéssica e meu neto Vili cantando a Missa que se celebraria no auditório principal do prédio novo do Ministério Público em honra de Nossa Senhora de Nazaré que por lá peregrinaria, e abraçar o amigo que ao fim da manhã embarcaria para a China com promessa de retornar ao Brasil assim que possível.
Mas entre deixar o portão da casa e chegar aos locais desses objetivos dei com um cachorro estirado meio morto meio vivo numa calçada, contigua ao posto onde podia abastecer o carro. Não era tanta a gasolina que requisitei ao tanque, medida que tenho para a certeza de que foram poucos os minutos que tive para botar os olhos e alma naquele cachorro – nem pequeno nem grande, nem sujo nem limpo. Sofrido como ele só.
Fui-me do posto, lá adiante estacionei quase indevidamente o carro, dei com a portaria e os rigores da recepção cuidadosa da qual e para ninguém o Ministério Publico não abre mão, para em segundos me ver refestelado numa das dezenas de cadeiras poltronas do auditório, dali a pouco capela ou igreja para Nossa Senhora.
Nas quatro primeiras fileiras dessas cadeiras, à direita de quem entrava, estavam os músicos repassando os cantos litúrgicos da cerimonia, entre eles os meus netos. É uma experiência acalentadora para a alma ver e ouvir netos cantando, tanto que fiquei ali fora do mundo em que a santa peregrinava sem pressa alguma e nenhum compromisso com a hora combinada pelo cerimonial, e não ela.
O coral ensaiava como que cantando para mim em desagravo ao adiantando da hora sem padre e santa no altar, que seria mesmo a enorme mesa de serventia àquela sala de reuniões públicas na casa dos fiscais da Lei. Ao enlevo, tendo eu tanta coisa para ruminar ao som de vozes tão especiais, veio-me de volta o cachorro, o potinho de ração e a cumbuquinha de água ao lado, a coleira folgada e suja no pescoço, e o fio nem barbante nem corda prendendo-o na grade, nada disso, no entanto, impedindo que dissesse o que me disse, e que agora me voltava com muita nitidez:
“Pode ser que por minha culpa, mas não vejo porque terminar minha vida desse jeito: corda, ração, água fresca, gente passando, olhando, respeitando, condenando, corpo fraco, ossos ardendo, vista turva, mas nem um outro cachorro a quem possa confiar minhas ultimas palavras....ou rosnados, ou latidos.
Andei por aí virando lixo, outra hora mordendo pneus dos carros em baixa velocidade, em bando atrás de cadela no cio, mas que cachorro em liberdade não fez isso? Não me lembro ter mordido nenhum humano, embora tenha sim rosnado com raiva para uns poucos deles, mas quais? Àqueles que de porrete nas mãos quiseram vir a mim apenas porque fiz pequena menção de me aproximar do irmão que eles tinham bem banhados, escovados, coleirinha delicada no pescoço, essas coisas. Portanto, nenhuma ameaça....aviso de cachorro.
Verdade seja dita, vez ou outra....minto; muitas vezes entrei sim em igrejas, cachorro gosta de sons de sinos, órgãos, corais, cheiro de incenso. Que mal cometi que não seja latir na hora errada no lugar certo? Mas, palavra de moribundo, cantava latindo porque não sabia faze-lo na linguagem humana. É pecado tão grande assim, que me dê por sentença essa calçada e essa corda?
Digo sinceramente, abertamente, corajosamente: cachorro não é burro para teimar indefinidamente. Não há padre ou pastor nesta cidade que possa agora, nos meus estertores, acusar-me de ter feito cachorrada em sua igreja seguidamente. Não sou burro, tenho sentimentos, discernimento  – não que os asnos não os tenham. Mas, nunca fui cachorro suficiente para me oferecer para pontapés tantas vezes num mesmo lugar, ainda que igrejas!
Por ultimo, pergunto a mim mesmo, qual de nós está metido nessa história de petrolão, Lava Jato; quem dos homens com tanta manifestação nas ruas gritou a nosso favor exigindo para já direitos para os cães de rua? Quer saber? Deixa...........”
Padre Rosivaldo iniciou a Missa, que foi do inicio ao fim marcada por belos cantos, muito fervor e devoção à Maria de Nazaré porque outro lugar não há onde haja mais veneração a ela do que no coração do amazônida.
Dali fui às pernas do amigo que já alçava voo para a China, aonde há o costume de não deixar cachorros às calçadas, antes leva-os aos temperos e panelas.

terça-feira, setembro 13, 2016

A SURRA NO MINEIRO(*).....

Nunca tive tanta vontade de mandar dar uma surra em alguém, como esta semana. Ocorre que o César Bernardo, conforme faz anualmente, tira suas férias. Afinal, ninguém é de ferro. O César, junto com a mulher dele, Consolação, reúnem uma penca de netos, mais os filhos, Fernando e Danilo e se mandam pra Volta Grande, aprazível e bucólica cidadezinha daquelas serras mineiras, a meio caminho de Itaipava e Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Pois bem. Quando ele regressa, sempre traz uns litros de excelente cachaça e um pacote, dos grandes, daquela linguicinha mineira que, aliada ao leitão pururuca, ao torresminho, aos queijos e àquelas garotas bonitas faz de Minas Gerais um Estado abençoado com progresso, trabalho e bem-estar de sua gente.
Quanto à surra, o César – não sei por que – cismou de dar mais uns ajustes na linguiça que trouxe. Colocou folhas verdes e uns gravetos, pendurou tudo no alto da chaminé e acendeu a churrasqueira. A fumaça serve para defumar carnes diversas, como é sabido, desde a fundação de Roma.
O problema foi que o César esqueceu que o calor depura a gordura e esta, naturalmente, cai sobre as brasas e eleva as chamas. Ele também não raciocinou nada, colocando toda a quantidade que trouxera de Minas. A tragédia estava escrita.
Para completar a desgraceira, o César saiu de casa, a fim de atender chamados lá no PMDB. Ao voltar, só encontrou – disse-me  – um pedaço de três centímetros de linguiça que, milagrosamente, deixou de ser carbonizado.
Foi-se na fumaça, como é óbvio, a alegria anual dos amigos dele, como eu, que sempre recebem uns agrados mineiros. Assim, estando o César gripado, acho que vou adiar a tal surra para depois das eleições.

(*)-Um dos últimos artigos escritos e publicados pelo jornalista Bonfim Salgado. 

quarta-feira, setembro 07, 2016

MUSAS OU MUSOS ? ? ?

Não há exclusividade alguma em escrever croniquetas como venho fazendo quase diariamente, quem o desejar também o fará, mas escrever para valer ou o que venha a valer não é simples e não para qualquer um. É preciso liberdade para fazê-lo, além do gosto e de um pequeno saber, constatação esta que me veio dias atrás quando pensava uma crônica sobre auto postagens de “musas” diariamente no face book.
Fez-me disso constatar o poeta Osmar Junior em uma de suas Cartas Indignas, onde dizia do seu embate atual entre a criação poética e o relacionamento conjugal – as musas da sua poesia e de seu cancioneiro colocavam contra si a esposa. Ele falando dela e ela entendo tratar-se da outra.
Ao poeta quanto ao amante tanto vale a musa quanto a mais bela princesa do mundo, simplesmente louvam suas criaturas com os nomes que escolhem a cada uma, em nada importando quanto de realidade haja nisso. Sonham e vão compondo suas Teresa, Ana, Maria, Clemens, Sonia, Dalva, Marilda, Augusta...enchem livros, começam e não terminam romances, fazem versos, poemas inteiros, e sequer estão falando de personagens de carne e ossos. São suas musas, pertencem-lhes e pronto.  
Sempre assim, inegável que as mais belas musas foram apenas inventadas pelos versos dos grandes poetas apaixonados, enamorados!  Tanto a um, poeta, quanto a outro, enamorado, é bastante, então, que pensem e creiam na formosura de suas musas, que se acreditem participar de seus pensamentos, que são procurados por elas na solidão de suas noites.  É o quanto basta, aos que criam suas musas segundo suas fantasias e desejos e as fazem as mais belas princesas do mundo ,,,,, nada importa o que pensem a respeito.
Na atualidade desses nossos dias nos vemos, quase todos, diante do face book, a todo instante, focados em caras e bocas e poses de muitas mulheres – várias delas nossas musas do passado - pedindo um comentário elogioso, que só lhes chega por outras mulheres – com as exceções obrigatórias. De uma para outra se vê em profusão as expressões de sempre: linda! Lindona! Arrasou! Poderosooosa! 
Por que, nem o marido nem nós outros postamos lá e para elas o que vai à cabeça? Aí está porque também me alinho aos que advogam que não há liberdade total onde chafurdar os escritores, como alertou Osmar Junior em suas Cartas Indignas. Como trazer o passado ao presente sem causar constrangimentos às que são hoje esposas, ainda namoradas, outra vez amantes, e que ontem foram nossas musas de versos e fantasias?
Caro Osmar Junior, no distante século XVII um grande poeta disse em defesa dos poetas todos: “Meus erros foram erros de amor, portanto, não toques minhas feridas que já são por elas mesmas doloridas demais; meus erros foram somente os teus”.

segunda-feira, agosto 29, 2016

COMO VOTA VOSSA EXCELÊNCIA?

Tive, dia desses, mais uma recaída hipnótica, tirava-me o sossego ouvir a argumentação de uns cinco ou seis senhores senadores contrários a aplicação do impeachment à senhora presidente do Brasil Dilma Rousseff. Era bastante ouvir no dizer deles que aquilo era um golpe e a inquietação subia-me dos pés à cabeça.
Ante os moderados domínios da hipnose de que tomei posse, lembro ter dito que apenas usaria esse meu muito recente talento em casos extremos – se viesse a precisar de dinheiro, fugir-me de prisões, desviar-me do inferno à caminho do céu, ganhar alguns centavos na loteria ou no jogo do bicho, coisinhas assim.
O caso atual é extremo, hoje mesmo começou no Senado Federal o ultimo ato, com duas ou três cenas, o julgamento final da presidente afastada. Deve ter sido seu ultimo dia de presidenta desse país que turma e ela pensaram ser possível transformar em departamento bolivariano. Todavia, nesse momento as pesquisas de opinião não mostram, nenhuma, a tal folgada maioria entre os que se convenceram afasta-la.
É onde posso entrar, aliás, não eu, o meu dom de hipnotizar sem sair de casa. Não sei se dará certo, eu daqui e os senadores de lá, indecisos, mas na tela da televisão. Já vi um tal Padre Quevedo fazer isso, outro ótimo hipnotizador chamado Fabio Puentes também. Eles puderam, eu posso.
Farei assim aos senadores, um a um, quando flagrado por mim de dedo erguido solicitando a palavra como inscrito ou em questão de ordem: darei o comando hipnótico ultimo grau, sempre em latim; repassarei a ordem de elogiar bastante a presidenta (deles) e flexionar quase ao final da fala acrescentando, porém, e repetir para frisar, porém!; e concluir: Sr. Presidente, voto pelo impeachment.
Claro que do meu comando hipnótico constaria a orientação para que após o voto cada qual voltasse ao seu assento numerado, abaixasse a cabeça como que muito chateado e só acordasse do transe depois do registro irreversível do voto no painel eletrônico, aberto à fiscalização do país e do mundo inteiro.
Eu cá nem importaria com a surpreendente reação deles ao acordar do transe, meu talento teria estado à serviço dos interesses maiores do país.
Preventivamente treinaria novos comandos em latim, acaso me sobreviesse a morte por arrependimento teria minhas chances aumentadas para o entendimento com São Pedro no difícil entra não entra no céu
hipnotizadores trapaceiros. Também já disse em um ou dois desses meus textos breves publicados aqui, que para nós dessa ilha brasil necessidade havia de que ele e Deus fossem  brasileiros.     

segunda-feira, agosto 22, 2016

SÃO TUDO E SÃO MAIS.

Os jovens são tudo e são mais no uso das tecnologias de ponta, alguns deles nasceram com smartfhone nas mãos e desse “mundo” sabem tudo. A imagem jovial de todos eles é, em geral, telefone nas mãos e tatuagem no corpo. Ricos ou pobres no Brasil eles são assim.
Mas, porque grande parte deles primeiramente penduram suas vitórias nas mãos de Deus? Em que medida, esclarecidos como são, erguem as mãos para os céus a cada ganho importante para as suas vidas? Parece que irreverentemente eles acham que não há incompatibilidade entre a realidade superior e a tecnologia.
Quanto desse comportamento vimos entre os competidores nos jogos olímpicos Rio-2016? Verdadeira demonstração de que ocorre no meio deles e com eles a já explicada união mística com Deus, a interconexão, no dizer dos budistas.
Agora mesmo acabei de ver pela televisão os jovens jogadores de futebol do Brasil conquistando a primeira medalha olímpica de ouro na história do país e das Olimpíadas, e ao fim todos vimos a garotada externando experiências espirituais, como que devotos fervorosos que se entregam inteiramente a orações. Demonstraram aqueles jovens e ricos atletas que suas conquistas maiores não se dissociam da existência de Deus.
Contudo, competiam com eles jovens alemães tão bem sucedidos quanto, mas que em momento algum demonstraram qualquer sinal de conexão espiritual ou de experiência ou de pensamento que os ligassem a sentimentos religiosos.
A Europa é cristã, os americanos são cristãos que frequentam igrejas regularmente, estaria nisso uma indicação de que a crença na existência de Deus é um refinamento intelectual ou a percepção comum de uma realidade gerada naturalmente pelo cérebro humano?
É eufemismo grosseiro dizer que já fui jovem – todos o fomos. Mas desde lá que me habituei a duas coisas que vieram comigo até a velhice: frequentar igreja e observar bem de perto o comportamento dos jovens.
Na igreja buscava encontrar o meu sagrado, o meu Deus oculto ou revelado na luz das velas, na musica sacra, nos gestos ritualísticos, na liturgia das missas de um modo geral - um mistério encantador.
Outro meu habitué foi e é querer entender o comportamento dos jovens, que em momentos parecem querer se afastar do sagrado e noutros viajam livres e destemidamente em busca dessa “terra espiritual”, tanto mais quando sozinhos, quando nas sombras, quando não sabem a quem recorrer.
Sempre me parece paradoxal ver as igrejas tomadas pelos jovens nos dias que escolhem frequenta-las, o mesmo me parece vê-los em profusão nas  procissões e círios, mais ainda nas marchas para Jesus, movendo-se à razão de centenas de milhares deles pelas ruas, tomados pelo maravilhamento de rezar, louvar, cantar, dançar, como que brincando de ponderar um mundo real e outro distante.
Dizem as minhas observações que os jovens são todos assim: o que lhes parece ser mais é real é mais real, e pronto. De trás para frente ou de frente para trás foi isso que disse o Neymar explicando o sucesso dos seus jovens companheiros ao final do jogo em que se sublimaram aos jovens alemães: “a gente só queria ganhar essa medalha”.
Houve na história da humanidade um jovem genial que logo veio a ser o ícone da humanidade, grife humana cada vez mais grife - Albert Einstein. Consta que jovem ainda, mas já uma mente brilhante respondeu quando foi perguntado sobre Deus e ciência: “A mais bela experiência que podemos ter é a do misterioso. Ele é a emoção fundamental que está no berço da verdadeira ciência. Quem não sabe disso e já não consegue se surpreender ou se maravilhar, está praticamente morto”.    







 


quinta-feira, agosto 18, 2016

NAQUELE TEMPO?

Gosto das homilias dominicais sobre o Evangelho de Jesus, sejam como forem são inspiração para a meditação semanal que normalmente faço, para dar contorno aos meus dias. De vezes anteriores disse que Jesus se valia sempre da cultura para construir suas mensagens, resultando daí ser ele até hoje o maior dos psicólogos e sociólogos que a humanidade já conheceu. Quem de voz, diria eu, é capaz de fazer qualquer acréscimo ou decréscimo no que ele disse?
Domingo passado percebi estupefação a redor de mim a quando da proclamação do seu Evangelho, segundo Lucas – 12,49-53. (“...Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!...vim trazer divisão. Pois, daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”). 
Que Jesus é esse, parece ter sido a pergunta de todos naquela igreja. Depois da homilia o espanto foi maior: Caramba! Que Jesus é esse?
Ora, não é preciso conhecer essa ou aquela família para a certeza de que nela se processam essas palavras de Jesus, necessariamente e não literalmente.
Ele disse que trazia fogo sobe a terra e assim foi a quando do seu batismo, da sua crucificação, da sua morte cruenta. Trazia a divisão nas asas do cristianismo que em tese se antepunha às leis religiosas da época e que depois de sua morte fez o mundo medir-se em antes e depois dele – Cristo.
De tudo ele sabia e em tudo fazia a vontade do Pai, fez apóstolos de seus próprios discípulos sem nunca mexer no livre arbítrio de qualquer deles, sequer o de Judas. Foi o Pai quem dispôs a cada um o livre arbítrio.
É disso que falou em Lucas 12, 49-53 sobre nossas famílias, pois em qual delas de cinco ou mais ou menos pessoas todas vão para a mesma fé, a mesma igreja, a mesma moda, a mesma escolha profissional, a mesma opção sexual, o mesmo modo de vida? Naquela época os pais escolhiam o destino dos filhos, casavam as filhas segundo seus compromissos e dotes, davam aos filhos direitos a mais de uma mulher.
Contou parábolas mostrando a divisão entre pai e filho, sogra e nora deixando claro que, séculos à frente as famílias seguiriam dividas por causa de crenças, dinheiro, matrimonio, opções sexuais, heranças as mais diversas.
A proposito, nesses dias atuais no Brasil, andam as pessoas atordoadas ainda com o caso que mundialmente se denominou “Richthofen” - assassinato ordenado pela filha contra os pais Manfred e Marisia Richthofen.
Suzane Richthofen, a filha, é agora pastora e dias atrás deixou a prisão para comemorar em liberdade o dia dos pais. 






terça-feira, agosto 16, 2016

NEM ESPOLETA...

Que importância tem eu ter vivido dois processos de impeachment de presidentes brasileiros? Não sei, lá adiante pode me valer mais do que vale agora. Por hora instou-me conhecer um tanto mais sobre a pouca ou muita importância do presidente no presidencialismo.
Segundo a imprensa e o cerimonial palacianos um presidente vale um monarca de reinado de quatro anos. Falou está falado, cumpre quem tem juízo – assim pensamos que o seja, súditos que somos.
Em uma das vezes em que estive na sala de visitas de sua casa na Hernestino Borges, embora não o estivesse dizendo a mim, o Presidente Sarney dizia a seus interlocutores diretos sobre a solidão do poder: “o poder é solitário, há solidão no poder”. Isso ainda vai dar em livro.
A partir do que ouvi do ex presidente Sarney passei a me interessar pelo assunto Presidência da Republica, mas já me prometendo nunca exerce-la - é menos que o reinado da rainha da Inglaterra., bem menos.
Para consumo externo o presidente é um absolutista, só pode detê-lo o impeachment, na pratica, no entanto, é manipulado pelos partidos que plantam os ministros na antessala presidencial. Assim, o presidente, por manipulação ou  absolutismo acaba sofrendo impeachment, como ocorre a Presidente Dilma Rousseff. Chegou a ela a solidão do poder, daqui em adiante terá assessores e “assessores” para ajudá-la a guardar alguns segredos de estado. 
Para não diminuir o glamour ao redor da Presidência da República, políticos profissionais transformam o processo de impeachment, aí sim, em algo cheio de simbolismo e realeza. E fá-lo arrastar-se por meses, verdadeiro “período caviar” para a imprensa, para as mídias, para o mercado e marcadores, para o sucessor.
Difusamente está no próprio rito do impeachment a arte de fazer sangrar quem está saindo – não basta perder a cadeira dourada, é preciso curvar-se ao seu peso.
Antes de Dilma foi Collor! Ainda ontem, na muito bem planejada Seção de Pronúncia um dos cinquenta e nove votos “fora Dilma” foi do senador Fernando Collor de Melo: "Constatamos que o maior crime de responsabilidade está na irresponsabilidade pelo desleixo com a política, pelo desleixo com a economia de um país, no aparelhamento do estado que o torna inchado. Nas obstruções de ações da Justiça...”.
Nesse momento, ainda na condição de presidente afastada, Dilma está só, à exceção da fleuma de meia dúzia de senadores e senadoras que todos os dias se repetem na Tribuna do Senado em defesa da tese de que ela, Dilma, não cometeu nenhum crime - penas ao vento, a presidenta já foi descartada até pelo seu “criador”, o ex presidente Lula.
Para o caso da quase ex presidente Dilma a solidão do poder doeu-lhe mais fundo, porque seu afastamento foi profissionalmente ignorado pelos militares, que não emitiram o menor grunhido – nem uma linha escrita para chamar de nota da caserna.
E nisso está a frustração dos governistas petistas dilmistas: apear-se do poder sem nenhum tiro, sequer um estalo de espoleta.

domingo, agosto 14, 2016

O MEU CASO DE AMOR....

Alguém que viva como eu, ou porque não dizer, tanto quanto eu, já testemunhou muitas histórias bonitas de convivência entre duas pessoas, os tais casos de amor. Agora mesmo, em julho, estando em Volta Grande soube do falecimento e velório do Sr. Camargo e não pude deixar de oferecer um testemunho à sua memória: lindo caso de amor entre ele e a Professora Maria José, certamente namorados desde os anos 1940, sempre um para o outro – ele morreu com mais de 90 anos e a deixa em mesma idade mais ou menos.
De vários outros casos assim ouvi falar ou li nos livros nas revistas nas paredes no tronco de arvores, em faixas atadas a aviões com as inscrições “Maria eu te amo”, ou “José eu te amo”. Ou então helicópteros despejando nuvens de pétalas de rosas sobre o amor de duas pessoas.
Tudo isso vi até com certa profusão, até que no dia 15/12/2006 fui à igreja Jesus de Nazaré, aqui mesmo em Macapá, assistir ao casamento do Fabio José dos Santos com a Luany Favacho. A ornamentação da igreja era solido sinal de que fora engalanada para quem verdadeiramente se ama e tem dinheiro. Flores brancas, laços brancos, livreto litúrgico da cerimonia matrimonial que se daria, em tons cinza, fotos dos dois sobressaindo em cinza mais claro na capa, uma peça grande, medindo 31,5 x 22,5cm .
E eu chorando copiosamente, do nariz escorria uma emoção quase dolorosa, os olhos exsudavam lagrimas à conta do inacreditável: Luany ia mesmo se casar com o Fabio.
Naquela igreja poucas pessoas conheciam o drama e a história de amor puro que as duas famílias decidiram levar ao casamento numa igreja que ainda decretava: “que o homem não separe o que Deus uniu”. Os cânticos eram os mais bonitos, foram ensaiados com esmero e entregues a músicos profissionais.
Fabio, poucos meses antes do casamento tivera um diagnostico de câncer Linfoma não-Hodgkin. A noiva, muito jovem, tinha excelente padrão de vida financeira e ele nem tanto. Normal não seria, mas aceitavel sim que o casamento entre eles fosse desfeito ou pelo menos adiado. Por decisão dela, da noiva, haveria como houve o casamento....de fazer chorar um banco de igreja.
Poucos dias depois começou a vida dura do Dr. Fabio, que é advogado – médicos, hospitais, viagens, gastança, remédios, dor, ansiedade, medo, amor pela esposa, amor da esposa, angustia da família, tempo e mais tempo apenas para a doença.
Depois Fabio se fez vereador para a Câmara Municipal de Santana, e a presidiu. Vimos o Vereador Fabio imolando-se na cadeira de presidente dando de si o que ele entendia ser a sua contribuição ao povo enquanto tinha forças, vida em suas artérias. Inexorável o avanço do câncer.
Hoje me veio noticias do Dr. Fabio: está morrendo de câncer e de amor. Já não consegue falar, pode estar nos seus últimos dias, mas quando murmura pede aos cunhados que cuidem bem do seu filho, único filho com a Luany. Não faz esse pedido em presença dela, porque se amam como antes.
Choro enquanto escrevo pelo mesmo motivo de quando entrei dez anos atrás na Igreja Jesus de Nazaré para assisti-los casando-se. Estava ali o meu caso de amor - “Deus deu a eles um filho lindo”, disse-me ao final da conversa o vereador Acacio Favacho, seu cunhado.
O Evangelho do dia, dez anos atrás, quando se casaram dizia: “...o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne”.

terça-feira, agosto 09, 2016

VACAS E BOIS.....


Quem não conhece Volta Grande pouco me acredita quando falo de lá, e quem a conhece bem em nada acredita no que digo. A opinião pública me interessa, é respeitável sob todos os aspectos, mas nesse momento dou mais importância à minha opinião.
Especialmente a de antanho, que foi se consolidando nos botequins, e cá pra nós: há melhor fórum para formação de opinião? Quando você for a Volta Grande ou quando os de lá passar a vê-la com os meus olhos, o que verão será a essência da minha opinião: o inusitado mora lá!
Conhece, acaso, alguma cidade de cuja praça central se possa ver bois pastando no topo dos morros, até com risco de que algum lhe caia à cabeça? No tempo das vacas gordas - Volta Grande já foi cidade de vacas prestigiadas - se podia vê-las pastando placidamente nas várzeas, como damas que não tinham que se esforçar tanto para conseguir o capim de cada dia.
Era um tempo de florestas ainda fincadas no topo dos morros, de bois e vacas tolas, incapazes de perceberem que o topete florestado daqueles morros logo se transformaria em carvão para assá-los em churrascadas monumentais. Aliás - se eu não disser dirão por mim - no Bar do Dri eu mesmo comi dessas vacas e bois, alguns poucos, mas comi sim.
Pois é ao boi que quero chegar, vez que no Brasil de hoje são mais de um para cada habitante, uns 230 milhões de indivíduos bovinos. Cria-los e vende-los - como direi? – tem sido a salvação da lavoura.
Predomina o boi branco em Volta Grande, mas vi lá nos pastos da Piedade uma boiada absolutamente preta, de pelagem e couro pretos. Livrem-me de xenofobia se a esses também couber a designação elegante de euro ou afro ou indianos descendentes. Brancos e pretos que vi por lá são zebuínos, bos indicus na origem, com certeza.
Não vi racismo no e contra o rebanho, todos, brancos e pretos, muito bem tratados. Papai anda dizendo que já não são sacrificados no pasto como antes, após queda de morro, pernas quebradas. Defende a sua tese com base na ausência de urubus, que graças aos veterinários não acham mais uma vitela sequer para comer.
No banco da Praça Benedito Valadares, em dias de ócio neste ultimo julho, troquei olhares com a boiada branca do Chalé – eu imaginando e os tais ruminando. Pensava eu: coitado desses bois saradões, sem vacas, sem filhos, sem mugidos, sem tugidos., como chegam hoje ao abate?
Antigamente (falei a alguns intelectuais da terra que é preciso resgatar a história da Charqueada do Seu Gaspar) eram abatidos a pancadas na testa ou choupadas na nuca, morre não morre eram sangrados a faca para “não machucar a carne”. Minha mania de não dormir parece que vem daí, gostava de ver o “trabalho” do Vadinho e do Sebastião Pescoço enquanto esperava a encomenda do papai – até hoje não gosto do olhar de vitelos de encontro ao meu.
Volta Grande não era assim, mas está assim: mais bois, pouquíssimas vacas, raríssimas bezerras, pouco leite e bem mais rosbife, quase nenhum carro de boi e muitos caminhões com bois; cidade mais pobre - a crise!
Paradoxalmente, por lá hoje em dia, nota-se nos “homus urbanus nativus” pouco interesse pelo boi. E na minha opinião, apenas minha opinião, o momento econômico exige descer o boi do morro e coloca-lo no cabeçalho de toda e qualquer discussão.  


segunda-feira, agosto 01, 2016

LEIS .......E

INJUSTIÇAS

Os brasileiros estão na expectativa da definição do governante do país, que se compensa vivendo dias de exaltação à justiça e ao Juiz Federal Dr. Sergio Fernando Moro. Concomitantemente vive-se um tempo de desprezo àqueles magistrados que em nome da lei tentaram negar justiça a notórios corruptos, valendo-se da debochada estratégia do prende e solta velho de guerra no Brasil - sem tornozeleira eletrônica solta, com ela fique-se em prisão domiciliar em suas mansões, ou seja, é contra a Lei o chão frio das celas para finíssimos ladravazes.
Leigos como eu no assunto não podem ir além do entendimento de que deve haver uma lei mandando distribuir tornozeleiras a essa gente.
Conhece-se que as leis dadas pelo homem aos homens, ou são justas ou são injustas; em seu “Tratado da Lei”, São Tomaz de Aquino explicou que para serem justas as leis terão que ter três condições: “Dirigir-se ao bem comum – Razão do seu fim; não ultrapassar o poder de quem a institui – Razão do seu autor; ser igualitária para todos – Razão da sua forma”. São injustas “quando se oponham ao bem humano, ao violarem qualquer das três condições, consideradas como justas”.
Certa vez Jesus de Nazaré, pelo que era e o que é,diante da aplicação da lei, e da mulher adultera por ela condenada, disse a mesma coisa ou mais que a mesma coisa com apenas oito palavras: “Quem não tem pecado atire a primeira pedra”.
Dessa mulher adultera aos dias de Carlinhos Cachoeira, Fernando Kavendish, Barusco, Vacari, Cerveró e outros ladravazes muito vorazes são decorridos dois mil anos, e o que mudou? Nada! Qual a marca do Brasil nesse contexto? A velha e vantajosa impunidade.
Recentemente uma nova lei nacional ajudou bastante a reduzir mortes nas estradas e ruas brasileiras, a que ficou conhecida por Lei Seca...mas até quando se conservará justa como até aqui tem sido? Brevemente as ruas estarão cheias dos novos carros sobre trilhas magnéticas, sem necessidade de motorista, que estarão liberados para tudo, inclusive viajar tomando um bom vinho...Lei Seca neles? Não haverá a mesma justiça nisso.
O terrorismo internacional está a plenas explosões no mundo, existem leis para preveni-lo e combater os irracionais que o planejam e praticam, mas são leis de cada país – justas ou injustas? Seria mais justo uma lei universal a que todos os juízes e tribunais do mundo julgassem, condenassem ou absolvessem segundo ela? Haveria países autores  com razões para institui-la?
Sócrates, maior dos filósofos gregos, 470 a.C, já dizia a esse respeito: “É preciso cumprir as leis injustas, para que os cidadãos não se neguem a cumprir as justas”. Louis de Secondat, o Montesquieu, politico, escritor e grande filosofo francês, século XVI, a mesmo respeito disse: “as leis decorrem da realidade social e da história concreta própria ao povo considerado. Não existem, portanto, leis justas ou injustas. O que existe são leis mais ou menos adequadas a um determinado povo e a uma determinada circunstancia de época ou lugar”.
Não há lei que me ampare nem justiça que justifique meter-me entre tão grandes Tomaz de Aquino, Sócrates, Montesquieu, Sergio Moro... Feliciano de Silva disse-o bem, muito antes de Montesquieu: “A razão da sem razão que à minha razão se faz, de tal maneira a minha razão enfraquece, que com razão me queixo”.   




quarta-feira, julho 06, 2016

ESTÚPIDOS......

SÓ PARA ESTÚPIDOS
Duas coisas procuro logo ao chegar numa cidade qualquer: igreja e banca de jornais. Fiz isso ontem aqui em São Paulo e hoje pela manhã antes que os meus acompanhantes acordassem para o café fui comprar jornais.
E só deu Negra Li: “Negra Li vai registrar queixa após sofrer ataques racistas”.
Liliane de Carvalho, cantora, compositora, atriz, solitista do coral da USP, rapper..., cidadã brasileira. A internet mostra que se trata de uma bela mulher, porém, negra. O “porém” aí da frase não é meu, é da motivação do texto que quero escrever.
O Brasil, quanto a isso e a quase tudo que o macula, não muda. Meio século atrás, em 1964, um hotel aqui em São Paulo recusou hospedaria à cantora Elza Soares. Jornais da época, no geral, disseram: “estrêla de palco e televisão, musa de Garrincha e moça de cor. Está bom de se fazer um “revival” da Lei Afonso Arinos...”. O empresário da a artista agiu judicialmente contra o hoteleiro criminoso.
Negra Li é a Elza Soares 52 anos depois. Mas, o caso de agora bem  trabalhado poderia ser uma poderosa e lucrativa propaganda a nossa favor – dos brasileiros, e não apenas de nós negros.
Já estamos nas Olimpíadas Rio 2016, que se projeta com a maior e melhor de todos os tempos – a questão do Bem Vindo ao Inferno (Welcome to Hell) não é coisa de Brasil nem do Rio de Janeiro olímpico, mas de policiais civis e governo civil, portanto, da democracia administrativa mal encaminhada por ambos: governo e polícia.   
Hoteleiro racista e policiais estúpidos tratam apenas de seus interesses, o primeiro imaginando que seus demais hospedes brancos pensam como ele e esses policiais imaginando que aeroporto é fórum trabalhista.
Praticas assim, para o mundo de hoje, que a internet mostra como quer ao mundo inteiro, são vantagens comparativas para o Brasil de hoje. Especificamente sobre o racismo, democracia racial brasileira não é fraqueza que se deva ocultar – é atrativo a mostrar. Da forma que trata os racistas e as vitimas é, essa democracia racial, um artigo de propaganda e atração turística não tão procurado, mas tão bom como a comida mineira, os índios amazônicos, a cultura gaúcha, a saga nordestina ou como todas as belezas da “cidade maravilhosa”.
E por quê? Por causa de planilhas das delegações atléticas que vão competir e brilhar nas olimpíadas no Brasil, Rio de Janeiro, ao longo de um mês – será um Rio de Janeiro que certamente nunca vi: cheio de estrangeiros.
São pessoas interessantes que já começaram a chegar, em grande parte habitante de países onde só há gente de uma cor, ou onde há uma barreira rígida separando as cores das pessoas – é aí que está o que nos favorece: a democracia racial brasileira, a nossa mistura descuidosa, é espetáculo fascinante e incomum para eles, é, justamente, o querem ver, como funciona e se realmente funciona.
Pode ser que ocorra - porque há estúpidos em todo lugar do mundo – um ou outro visitante estúpido, perigosamente reacionário e, portanto, indesejável, que busque no Brasil/Rio de Janeiro (ou evite, porque pode existir) um hotel que não seja exclusivo de brancos.
Em maioria, o turista chega aqui (principalmente o que vem dos países onde o negro é segredado pela linha de cor), anseia ver com os seus próprios olhos que país é o nosso onde a cor das gentes não importa.
Mas a estupidez  de brasileiros racistas impunes pode decepciona-los, engana-los se verificarem que aqui a segregação também é regra - apenas mais hipócrita.




sexta-feira, junho 24, 2016

GENTE MEDONHA

Depois da Lava jato o Brasil é outro – os brasileiros ainda são os mesmos, mas logo não o serão. O noticiário tem sido a mesmice: indiciados, conduzidos coercitivamente, interrogados, delatores, delatados, condenados, amarrados com tornozeleiras eletrônicas.
Fora da Lava Jato, tudo na mesma: roubalheira sem fim, os de sempre roubando o mesmo Brasil.
Dado ao noticiário de todos os dias, todos os dias penso no que diria o meu amigo Bonfim Salgado se ainda estivesse aqui na terra perdendo tempo em conversas comigo – agora fala-me do alto.
Tagarelamos muito sobre essa opção nacional pela corrupção, vezes iguais nos perguntamos que diabos habitavam os corredores dos tribunais de justiça, e com que força atuavam sobre seus juízes impedindo que se decidissem a por fim na roubalheira nacional e grilhões nos tornozelos dos ladrões que estavam submetendo a nação. A isso Bonfim respondia: “é uma gente medonha”.
Bonfim foi para mim como o são os verdadeiros bons amigos, quando ele morreu senti perto o dia em que também eu iria desse mundo. Não diria que morreu, mas diminuiu muito com a ausência dele o estilo do escrever jornalístico aqui na pagina Amapá. Era laborioso na arte de pintar jornais com as letras, tanto que dava a impressão de que todos podíamos fazer igual. Ilusão, impossibilidade, ele sabia naturalmente escrever “difícil” com extrema simplicidade, mas com isso não inibia, ao contrário estimulava seus leitores.
Nos tempos dos nossos drinques, quase diários, que também eram tempos dos seus grandes escritos, pensava eu lá do alto da minha mesquinharia: se não fosse eu próprio gostaria de ser o Bonfim com a caneta nas mãos, na base dessa notória mesquinharia diria a mim mesmo: você não pode querer ser um João Ubaldo, um Cony, um Jânio, um Élio Gaspari.
Parecendo adivinhar esses meus querer ser, muitas vezes ao telefone, na mesa de bar, nas redações, aqui em casa o Bonfim dizia-me a saudação costumeira: “não entendo, porque você tendo tudo do amapaense seja mineiro”. Assim fomos de monólogos e diálogos até que sem mais nem menos chagou a morte para ele, se bem que o sei que teve nisto um pouco da sua mania de não voltar atrás de decisões tomadas.
Ele no reino dos justos e nós aqui na nação do “petrolão”, do Machado e do Cerveró e do Barusco e do Youssef e do Vacari e do Delcidio e deles e não mais nossa, segue a vida segundo a Vara do Juiz Federal Dr. Sergio Moro. Vida que segue muito pouco segundo a parábola do mestre - a Cesar o que é de Cesar.
Claro está que a moeda que tanto roubaram é o Real, porém, na equivalência do Dólar, ou seja, três por um, quatro por um. Nem um níquel da quadrilha fora encontrado nos bancos do Brasil, tudo lá fora, em dólares - embora pareça que o STF não acredita nisso.
Debocham, delatam, pintam e bordam, devolvem o que eles próprios declaram que roubaram, se explicam como refinados assaltantes, e ao fim e ao cabo são condenados a viver reclusos por dois ou três anos em suas mansões (construídas com parte do botim) vigiados por uma tornezeleira cara, paga pelo contribuinte.
Até ouço o Bonfim esclarecendo essa fase da vida nacional: “fosse na China pagariam a bala que os fuzilariam, aqui nem a tornezeleira, é uma gente medonha”.             




domingo, junho 12, 2016

FICA COMO ESTÁ.

Azevedo Costa usa o face book me perguntando: “até onde poderemos suportar esta situação neste País ?”.
Conheci o Azevedo líder da oposição, chefe politico do MDB, primeiro Prefeito eleito de Macapá. A vida nos permitiu seguir convivendo à miúde (Manuel Bandeira dizia que as palavras mais feias da língua portuguesa são miúde, quiçá e alhures) e por isso sei que não precisa da minha opinião, mas é gentil.
O caro amigo está envergonhado da vida politica nacional, mas o Brasil é nosso, pensam que tem jeito - acho que não tem, ou por muito tempo ainda não terá. Porém, o mundo aniversaria a cada milhão de anos – logo, tempo para melhorar tem.
Amanhã, 13, começa nova semana politica, não sendo feriado nem se falará em Santo Antônio. O assunto no Brasil será ainda mais o arranjo que se quer dar para termos, ainda em outubro, nova eleição presidencial. É balela, mas é o assunto.
Mesmo que todos os deputados, senadores e o presidente da Republica atual renunciassem aos seus mandatos de pouco ou nada adiantaria fazer novas eleições. A maioria deles voltaria eleita e dessa vez com certificado de honestidade, e aí sim teríamos uma república podre com incontestável atestado de sanidade.
O que sustenta essa discussão de outra eleição é primeiro a desenfreada corrupção que tomou conta do país e depois, quem sabe, a busca de solução para a crise politica mãe da assombrosa crise econômica.
 Estamos a dias do centenário do imortal Deputado Ulysses Guimarães, se vivo estivesse. Lembremos, quando Ulysses ergueu a Constituição de 1988, a que promulgou, ele disse: “A corrupção é o cupim da Republica...”.
Pois começa e termina aí a resposta que o Azevedo procura. O bem calculado processo de instituir oficialmente a corrupção no Brasil primeiro doutrinou o povo a repetir e defender que democracia é apenas “governo do povo e pelo povo”. Disso se aproveitou a demagogia e com ela os “defensores” do povo se instalaram no poder.
De repente a Lava Jato., aparece um juiz federal, apenas um, o Dr. Sergio Moro dizendo a cada ordem de prisão contra os gigantes da corrupção e do mando politico no país, a cada sentença condenatória de um réu que democracia, antes, é a construção do povo. Isso dito aos ouvidos da corrupção ficou claro desde as primeiras palavras que os acusados e investigados eram apenas corruptos, não estúpidos, não burros.
Resistir à Lava Jato não é possível nem inteligente, mudar sim. Mudar travestindo mais uma vez os ideais democráticos em jogo de interesse é a palavra de ordem para os plenários dos parlamentos nacionais, o jeito é só um: novas eleições.
Seria mesmo, desde que também fosse decisão colocar em quarentena de 16 anos todos esses que exercem mandato hoje, impedi-los de indicar, apoiar, bancar e eleger prepostos.
Teríamos aí sim a chance de fazer existir no Brasil a democracia a que se refere o Juiz Federal Dr. Sergio Moro: construir um povo.
Mas, caríssimo Azevedo, é querer demais...fica como está. 


sábado, maio 28, 2016

BRIGA PELA CULTURA?


De certa forma foi interessante – ou está sendo – o bate-boca nacional sobre o status administrativo da pasta de cultura: tem que ser ministério, não serve secretaria. Sei não, muito me engano ou tem enorme pote de ouro no fim desse arco-íris. Foi muita briga pelo botim.
Mas o bate-boca pode ter sido a marca de um novo tempo no Brasil, a começar por ordenar o desenvolvimento nacional à luz da cultura, transpondo dela para o fazer cotidiano a marca que nos tem faltado para melhorar a vida e baratear a sua qualidade.
Ao tempo da preparação dos seus apóstolos Jesus usou exaustivamente a cultura para fixar seu evangelho no coração dos homens, ensinava com o recurso das parábolas, que se fundamentavam na forma de vida das pessoas daquela época – a parábola O Bom Pastor é exemplo acabado dessa pratica.
Na região em que viviam predominavam os desertos, mas também os rebanhos e os pastores. Aqueles não eram donos de terras, não havia cercas para separar rebanhos especialmente quando conduzidos a sítios do deserto onde houvesse surgido pastagem e água. A essa noticia todos conduziam para aí os seus animais, em franca maioria ovelhas para sustento e vestuário.
Pastores e rebanhos permaneciam ali pelo tempo de duração do pasto para os animais, depois cada pastor usava o seu código gutural para separar suas ovelhas, apartando-as das demais. Não havia briga nem roubo nem enganação, as ovelhas conheciam seus pastores e estes a elas. Eles falando e elas balindo tomavam um novo rumo em segurança.
Ainda hoje, no deserto da Nigéria os vaqueiros nativos, cultos, sabem determinar onde tem chance de haver água subterrânea. Aí cavam muitos poços rasos, encontrando a água constroem ao lado cochos toscos onde as vacas vão beber, põem-se dentro dos poços e trabalham freneticamente transpondo ao cocho água que só serve aos bichos.
Em aparente confusão gutural cantam, assoviam, produzem sons peculiares aos quais o rebanho está condicionado, que chega e bebe sem avançar na água alheia.
Então, sabendo bem disso, Jesus se valeu da cultura dominante para dizer de si e da evangelização que veio fazer: “Eu sou o bom pastor, conheço as minhas ovelhas e elas a mim, à minha voz, seguem-me”.  
Mas não só, de muitas outras praticas culturais da época Jesus lançou mão para se fazer entender, como demonstram tantas citações ao trigo, à uva, a celeiros, a vinhateiros, a figueiras, ao joio, à jumentos, camelos, dromedários, sementes, terras boas e nem tanto para o cultivo; também à dança, musica, festas, pesca, navegação, moedas, templos, palácios.
Na politica brasileira de hoje há mais joio que trigo, no Ministério da Cultura mais servos maus que bons, mas ao que parece a cultura caiu no gosto de todos. Quem sabe não tenha chegado o tempo de cortar e atirar ao fogo a árvore que não dá fruto: a Lei Rouanet.



 



 


segunda-feira, maio 16, 2016

JURISPRUDÊNCIA ESQUISITA.

Algumas coisas são inacreditáveis, mas explicáveis – há o caso do roubo de um elefante. Talvez já tenha falado disso algumas vezes, mas não custa voltar ao caso do Fininho e do circo de onde ele afanou um elefante, a estrela da companhia, à luz de um dia, de pouco movimento.
A ideia de se apoderar daquele elefante foi amadurecida a certo preço, todos os dias o Fininho ia ao circo, de dia para estudar o jeitão do animal e rotina do tratador, às noite de espetáculos para tornar-se insuspeito do roubo.
Certo dia contratou um caminhão adequado para o transporte do bicho e o mandou estacionar bem adiante da porta de saída do circo, era tardezinha de segunda-feira, único de descanso para toda trupe., quase sem vida no circo.
Fininho foi ao animal sem vigilância, disse-lhe algo bem próximo de uma das orelhas, deu-lhe macias pancadinhas com um bastão à altura dos joelhos e com isso puseram-se em movimento normalmente – foram saindo do circo.
Ao se aproximar do caminhão, de rampa abaixada pronto para o embarque outra vez Fininho falou algo bem próximo de uma das orelhas do bicho, deu-lhe vigoroso cutucão de bastão na axila, fez como que o empurrando e, com isso, o enorme elefante foi se acomodar na carroceria do caminhão baú. Fechada a porta foram-se dali. As pessoas que viram as manobras julgaram tratar-se do amestrador do animal procedendo conforme ordens do circo – simples assim.
Inacreditável? Mas foi como expliquei. Quando a espantosa noticia do roubo do elefante se espalhou o próprio Fininho foi instado a ter uma opinião sobre o assunto, pois assíduo que era ao próprio circo: Elefante? Que elefante?
No Rio de Janeiro, ainda hoje, está um caso bem mais difícil de acreditar e explicar. É tanto que se não aparecer por lá uma força tarefa análoga a Lava Jato, o caso continuará na escuridão e seguirá envergonhando o sistema judiciário estadual.
Desapareceu por lá a uma só vez centenas de milhares de toneladas de aço, vigas enormes, da sustentação do complexo elevado de ligação rodoviária Mauá-Tiradentes, na orla portuária da cidade do Rio de Janeiro.
A astucia do Fininho aplicada como “método” ao roubo do elefante custou desmoralização geral na cidade, inclusive a ele próprio por ter devolvido o bicho também à luz do dia, mas lhe rendeu comutação de pena como reconhecimento ao talento para roubar.
Pode estar aí irrefutável jurisprudência para o caso do aço no Rio de Janeiro, que para ser roubado requereu imensos guindastes para embarque e desembarque, dezenas de grandes carretas abertas para o transporte da carga, batedores profissionais para abrir passagem no trânsito intenso da cidade a qualquer hora do dia ou da noite, e indescritível operação de desembarque e escondimento das muitas e imensas vigas roubadas.
Esclarecer o roubo é também o caso de honras, clarinadas, busto de aço e discursos públicos para enaltecimento do ladrão com tanto talento. Dá de mil em qualquer ladrão apanhado na Lava Jato.