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segunda-feira, novembro 28, 2011

MESTRE AÇAIZEIRO: MEU DISCURSO NA FESTA DE LANÇAMENTO

MACAPÁ, 28 DE NOVEMBRO DE 2011 - ESTADO DO AMAPÁ - SALÃO CULTURAL DO PALACIO LEGISLATIVO "NELSON SALOMÃO"

SAUDAÇÕES:
Exmo. Sr. Moisés Souza, Presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Amapá; meus familiares, professores, colegas da imprensa, amigos e amigas aqui presentes... um abraço e obrigado a todos pela honrosa presença.

Pe. José Busato dizia-nos, e a mim especialmente: “quanto mais em dificuldade estiver mais olhe os pássaros: eles não plantam, não colhem, mas se alimentam todos os dias”.
Logo, começo com os agradecimentos inerentes ao que estamos fazendo hoje aqui: Assembléia Legislativa – Grafica off7 – Paulo Tarso – Gibram Santana– Edvaldo (Center Kenedy) – Dep. Dalto Martins – Empresário Pierre Alcolumbre – Profº. Leonil Pena Amanajás – Dra. Daniele Scapin – Poetas e Poetisas do Boca da Noite – Sindisep (Sindicato do Servidores Federais do Amapá)., esses que fizeram compra antecipada do livro, viabilizando sua publicação.
Tenho o dia de hoje como um dos mais importantes da minha vida, dados biográficos ainda agora apresentados pelo cerimonial indicam um certo interesse meu pela literatura., é esta uma realidade.
Mas, bom seria se o dia de hoje fosse importante para a cultura literária local. Sonhar custa alguma coisa? Custa sim, no mínimo cria angustias. Exmo. Senhor Moisés Souza, presidente da nossa Assembléia Legislativa, saiba que houve um dia de literatura e sonhos aqui em Macapá, em que onze obras, onze autores foram apresentados numa noite só.
Foi um fato que sonhamos relevante, um novo marco na literatura local, um fato que por fim sensibilizaria as autoridades administradoras da cultura local.
Pensávamos que sim, Paulo Tarso, Alcinea Cavalcante, eu e tantos outros, mas não deu em nada, nenhuma capa de jornal. Muitos aqui presentes podem estar ouvindo sobre isso pela primeira vez. Mas, não desanimamos. Reclamei como de costume. Alguém do topo da pirâmide intelectual da época reagiu, publicando em jornais: De onde fala esse César Bernardo...?
Em 2003 a Revista da Literatura Brasileira deu boa resposta ao questionamento. Publicou um conto meu (Convencimento), e o complementou com o seguinte trecho de minha biografia até 2002: “...em 1971 começou a escrever Posse das Arvores, que é seu primeiro e único livro de poemas. Depois disso enveredou pelos caminhos da prosa de ficção e escreveu: O plantador de Cercas, Filho da Vingança, Mestre Açaizeiro, Assembléia dos Peixes e Doutor das Calçadas, além de outros contos curtos da linha infanto-juvenil de uma serie que ele batizou de “Para ler no ônibus”. Todos aguardando publicação. Cesar Bernardo foi convidado a colaborar com artigos e crônicas para diversos jornais da capital (Diário do Amapá – Diário Zerão – Jornal da Cidade – Diário Marco Zero). Além de publicar frequentemente seus textos no informativo eletrônico Ana Express.”
Era tempo de Ana Express, aqui na terrinha Alcinea Cavalcante exigia a publicação do Mestre Açaizeiro: mais de 20 anos de estimulante cobrança.
Paulo Tarso foi outro inconformado com a minha comodidade de escrever só para mim – ambos falarão sobre isso!
Que sonhos, então, me trazem aqui? ¹–O próprio lançamento do livro ²–Expectativa de que ele seja lido ³–Confiança de que encontramos, finalmente, o nosso caminho.
O projeto cultural da Assembléia Legislativa (que pode e deve se rebater nas Câmaras Municipais) pode nos levar muito adiante, avançando juntos com a representação parlamentar do pensamento politico e cultural do povo amapaense.
Quanto a arte de Herivelto Maciel pouco posso dizer, mas do cidadão Herivelto conheço um pouco mais da sua luta pela arte, pela vida. Gosto dele por causa da capacidade de lutar demonstrada em tantas oportunidades.
Um dia, em 2003, mencionei em publicação da Revista da Literatura Brasleira, Ed. 29: “..no dia anterior tudo lá era baldio, um retrato heriveltiano do abandono programado e combinado com a especulação imobiliária palaciana...”. no radapé informei: Herivelto Maciel é um artista plástico bastante conhecido no Amapá, que usa resinas, de açaí e de outros vegetais na composição de suas obras”.
Hoje, não por acaso, tenho a elevada honra de me inserir em mais uma grandiosa exposição de sua vasta obra. Coisa do destino, vontade de Deus.
Herivelto, meu bom amigo, 1983 a 1985 foi tempo de desemprego para mim. Tempo que usei na busca de realização de dois sonhos: Agricultar terras (aeroporto e pólo hortifrutigranjeiro) e, escrever.
Mestre açaizeiro é algo que trago desse tempo. Porém hoje, a partir de agora, Mestre Açaizeiro deixa de ser minha propriedade. Entregando-o ao Dep. Presidente dessa casa do povo, sua excelência o senhor Moisés Souza, passo-o ao domínio publico. Depositando-o em mãos dos meus netos – já que em tempo apropriado o neguei aos meus filhos – deixo-o aos cuidados das crianças.
Pois bem, finalizo, meu sonho nesse momento? Que todas as crianças ribeirinhas tenham a oportunidade de ler e aperfeiçoar Mestre Açaizeiro.
Feliz Natal! Muito obrigado!

quarta-feira, novembro 16, 2011

POLITICA: UMA BOA HISTÓRIA!

VEM AÍ O PARTIDO MIRIM DA RECONSTRUÇÃO.

Um dos meus filhos discutiu fortemente cm docente do Colégio Alexandre Vaz Tavares, onde estudava. Não aceitava que cobrissem de azul as cores em tons marrom característico a escola, desde os muros até a camiseta.
A propósito do pequeno entrevero pus-me entusiasticamente a favor do meu filho, vez que demonstrava conhecimento de causa, capacidade de defender a sua escola, respeito pelas cores que usava em seu uniforme e amor ao Amapá, se berço.
Outra vez vi os meus filhos em luta por uma causa, misturados aos milhares de jovens que aqui no Amapá também pintaram a cara, cantaram o Hino Nacional e detonaram um presidente de mentira. Com essas atitudes até hoje meus filhos são “carapintadas”, alertas às intenções de desmandos dos governantes do plantão. Inegável que a emoção de vê-los rua à fora, de punhos erguidos contra Fernando Collor e ladravazes adjacentes foi uma compensação à angustia que me consome face a impunidade que o Brasil resolveu admitir para com os seus saqueadores, consequentemente seus opressores.
Um dia desse meu filho caçula, Danilo, 14 anos, pediu-me ajuda. Queria uma mãozinha para “arrumar” no papel a concepção que seus companheiros e ele já tinham sobre o Partido Mirim da Reconstrução – PMR. O rascunho que me veio sugeria um inicio de partido político a partir de um Manifesto, fundamento estatutário, programa mínimo, objetivos e metas para 1996/97.
Reuniões já tinha havido, Reno, Acácio, Luara, Luiz e Danilo emergiram delas como os primeiros “dirigentes” partidários, do PMR. Puxa vida – disse-me, a garotada aqui do bairro quer lutar, quer interagir com a vida pratica desde já: são então crianças atentas à realidade delas próprias e com o bem estar das outras crianças.
Estão se organizando para atuar em favor de si mesmas e em favor de outras. Não demora essas crianças ganharão a mídia para anunciar ao Amapá os seus intentos, pouco mais adiante esse mesmo Amapá se orgulhará dessas crianças que hoje lançam a todas as crianças do estado a seguinte Manifesto:
“Os meninos e meninas, moradores e moradoras do bairro Marco Zero do Equador, em Macapá, no Estado do Amapá, desejam, pela ação política, somarem-se aos esforços dos seus pais, das autoridades em geral e aos de todas as pessoas de boa vontade, na defesa dos interesses maiores e gerais do bairro.
Nós, apesar de crianças, ou porque somos crianças, não estamos satisfeitos com a realidade sócio-ambiental do nosso bairro. Muitas crianças estão amargando a dor e as agruras decorrentes do desemprego dos seus pais, logo, queremos e devemos lutar por eles e pelas crianças que dependem deles.
Todas as crianças do bairro estão preocupadas com a ocupação espacial do bairro, que mostra a triste tendência da ausência de preocupação com as crianças, principalmente. Não temos praças, não temos um único campo de futebol, nenhuma área para a pratica de esportes, nossas ruas são escuras, esburacadas, poeirentas, perigosas quanto a nossa segurança mais elementar: nosso direito de ir e vir está ameaçado, principalmente à noite.
Por falta de espaço próprio para as crianças do bairro, e entendendo que a união política da criançada aumenta a força, lançamos esse manifesto para a criação do Partido Mirim da Reconstrução – PMR”.
Macapá, junho de1996
Danilo Bernardo de Souza
Presidente.

O Partido apenas foi “registrado” no jornal Diário do Amapá através da publicação desse artigo, mas funcionou por alguns dias em sua “sede” aqui mesmo em minha casa. Produziu bons frutos: Danilo é Administrador, Acácio é Vereador de Macapá, Reno é Engenheiro Florestal, Luiz é Analista de Sistema. Produziu também uma grande saudade: Luara é falecida. Quanto ao bairro... melhorou muito.

sábado, novembro 05, 2011

DIA NACIONAL DA CULTURA (2011): BELA MENSAGEM

A menina que roubava livros

MARIA TERESA RENÓ


Este é o titulo de um livro, best seller do escritor australiano Markus Zusak, traduzido para o português em 2007, que conta a história de uma menina que viveu na Alemanha nazista e descobriu nos livros que roubava o encanto da leitura, a motivação para sobreviver quando tudo parecia estar perdido. Lendo, ela conseguia trazer para si e aos outros a esperança e a fuga daquela triste realidade. Esta história linda e fascinante narrada interessantemente pela morte que a abordou por três vezes mostra a importância da leitura e as mudanças que ela pode trazer para a vida das pessoas, assim como esta que tenho para contar.

Na região montanhosa do sul de Minas Gerais no início dos anos 70, uma menina de cerca de sete anos e um grupo de crianças um pouco mais velhas, ela já sabia ler, pois fora alfabetizada aos quatro anos, numa cartilha velha, pelas mãos grossas e calejadas do pai agricultor.

Nas férias escolares, após o almoço, as crianças iam passear pelos sítios e fazendas dos arredores onde morava. A motivação maior para os passeios eram as frutas, dependendo da estação, eram amoras, juás, jabuticabas, laranjas, etc.. Em julho os pomares ficavam cheios de laranjas maduras e doces. Sentavam nos pés das laranjeiras e enquanto descascavam as laranjas contavam as aventuras e ouviam as histórias dos mais velhos, quase sempre muito engraçadas.

Algumas das fazendas ainda preservavam o estilo antigo, do ciclo do café, uma casa grande do proprietário e várias casas pequenas ao redor, em geral eram pintadas de branco, conhecidas como as casas dos colonos, dos empregados das fazendas. Uma dessas fazendas era especial porque era a única que tinha jabuticabeiras, jabuticabas grandes e doces, eles subiam nos galhos grossos e ficavam por horas nas árvores, chupando jabuticabas, jogavam os caroços brancos das frutas ao chão e no fim da tarde parecia que havia chovido granizo.

O dono da fazenda das jabuticabas era um senhor velho, vestia-se com calça de linho branco, paletó preto e chapéu branco, muito parecido com os antepassados dos velhos álbuns de família. As crianças tinham medo dele, ele morava na cidade, somente de vez em quando ia visitar a fazenda, até que um dia as crianças souberam que o velho senhor havia morrido. Os empregados da fazenda foram embora e a fazenda ficou abandonada, mas as jabuticabeiras continuavam lá para a alegria da criançada.

Um dia resolveram entrar na casa do falecido, muitas das crianças não entraram com medo que o velho pudesse aparecer feito assombração, a menina entrou, movida pela curiosidade, o que a impressionou foi o quarto onde o velho dormia, era grande claro pela luz do dia que entrava por uma janela aberta, no centro do quarto havia uma cama de casal antiga, ainda feita com um lençol branco, era de madeira grossa escura, com cabeceira alta e um mosquiteiro alto formando um véu branco que descia cobrindo todo o leito vazio. Havia muitos livros, maioria ou todos eram velhos de capa preta endurecida e folhas amareladas pelo tempo, a menina não hesitou em pegar um deles, intitulava-se ROMEU E JULIETA, escrito por Willian Shakespeare, talvez já tivesse ouvido falar ou lhe parecesse familiar aos seus poucos conhecimentos.

Na pequena propriedade de seu pai, em um dos seus refúgios, na sombra do bambual, começou a ler seu primeiro livro de história, era muito difícil, pois era escrito em um português antigo, mais próximo do latim que do português atual, mas se esforçava para entender, a história era fascinante e a fazia viajar em uma época distante e a uma cultura diferente.

Assim como a menina alemã que roubava livros, através da leitura conseguiu driblar a morte e mais tarde escreveu a sua história. A menina da minha história que roubou seu primeiro livro, em decorrência da morte do dono, ou melhor, furtou, mas a denominação não importa, pois em ambos os casos sabemos que não houve crime, através da leitura desejou buscar mais do que a sua condição de vida podia oferecer, tornou-se a primeira mulher nascida naquele pequeno município a se tornar médica e hoje com orgulho é uma das mulheres que escrevem artigo para este jornal.