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sábado, novembro 05, 2011

DIA NACIONAL DA CULTURA (2011): BELA MENSAGEM

A menina que roubava livros

MARIA TERESA RENÓ


Este é o titulo de um livro, best seller do escritor australiano Markus Zusak, traduzido para o português em 2007, que conta a história de uma menina que viveu na Alemanha nazista e descobriu nos livros que roubava o encanto da leitura, a motivação para sobreviver quando tudo parecia estar perdido. Lendo, ela conseguia trazer para si e aos outros a esperança e a fuga daquela triste realidade. Esta história linda e fascinante narrada interessantemente pela morte que a abordou por três vezes mostra a importância da leitura e as mudanças que ela pode trazer para a vida das pessoas, assim como esta que tenho para contar.

Na região montanhosa do sul de Minas Gerais no início dos anos 70, uma menina de cerca de sete anos e um grupo de crianças um pouco mais velhas, ela já sabia ler, pois fora alfabetizada aos quatro anos, numa cartilha velha, pelas mãos grossas e calejadas do pai agricultor.

Nas férias escolares, após o almoço, as crianças iam passear pelos sítios e fazendas dos arredores onde morava. A motivação maior para os passeios eram as frutas, dependendo da estação, eram amoras, juás, jabuticabas, laranjas, etc.. Em julho os pomares ficavam cheios de laranjas maduras e doces. Sentavam nos pés das laranjeiras e enquanto descascavam as laranjas contavam as aventuras e ouviam as histórias dos mais velhos, quase sempre muito engraçadas.

Algumas das fazendas ainda preservavam o estilo antigo, do ciclo do café, uma casa grande do proprietário e várias casas pequenas ao redor, em geral eram pintadas de branco, conhecidas como as casas dos colonos, dos empregados das fazendas. Uma dessas fazendas era especial porque era a única que tinha jabuticabeiras, jabuticabas grandes e doces, eles subiam nos galhos grossos e ficavam por horas nas árvores, chupando jabuticabas, jogavam os caroços brancos das frutas ao chão e no fim da tarde parecia que havia chovido granizo.

O dono da fazenda das jabuticabas era um senhor velho, vestia-se com calça de linho branco, paletó preto e chapéu branco, muito parecido com os antepassados dos velhos álbuns de família. As crianças tinham medo dele, ele morava na cidade, somente de vez em quando ia visitar a fazenda, até que um dia as crianças souberam que o velho senhor havia morrido. Os empregados da fazenda foram embora e a fazenda ficou abandonada, mas as jabuticabeiras continuavam lá para a alegria da criançada.

Um dia resolveram entrar na casa do falecido, muitas das crianças não entraram com medo que o velho pudesse aparecer feito assombração, a menina entrou, movida pela curiosidade, o que a impressionou foi o quarto onde o velho dormia, era grande claro pela luz do dia que entrava por uma janela aberta, no centro do quarto havia uma cama de casal antiga, ainda feita com um lençol branco, era de madeira grossa escura, com cabeceira alta e um mosquiteiro alto formando um véu branco que descia cobrindo todo o leito vazio. Havia muitos livros, maioria ou todos eram velhos de capa preta endurecida e folhas amareladas pelo tempo, a menina não hesitou em pegar um deles, intitulava-se ROMEU E JULIETA, escrito por Willian Shakespeare, talvez já tivesse ouvido falar ou lhe parecesse familiar aos seus poucos conhecimentos.

Na pequena propriedade de seu pai, em um dos seus refúgios, na sombra do bambual, começou a ler seu primeiro livro de história, era muito difícil, pois era escrito em um português antigo, mais próximo do latim que do português atual, mas se esforçava para entender, a história era fascinante e a fazia viajar em uma época distante e a uma cultura diferente.

Assim como a menina alemã que roubava livros, através da leitura conseguiu driblar a morte e mais tarde escreveu a sua história. A menina da minha história que roubou seu primeiro livro, em decorrência da morte do dono, ou melhor, furtou, mas a denominação não importa, pois em ambos os casos sabemos que não houve crime, através da leitura desejou buscar mais do que a sua condição de vida podia oferecer, tornou-se a primeira mulher nascida naquele pequeno município a se tornar médica e hoje com orgulho é uma das mulheres que escrevem artigo para este jornal.

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