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terça-feira, maio 04, 2021

PESSOAS IMPORTAM

César Bernardo de Souza - ABRIL2021

O dia de hoje, 04 de maio, já está associado a acontecimentos que me impõem o pior dos sofrimentos – a morte de quem importa de fato.

Aqui em Macapá o coronavírus matou Promotor de Justiça Dr. Mauro Guilherme. Lá em Santa Catarina um jovem matou a facadas três crianças de até três anos, e duas professoras que colocaram suas vidas em defesa dessas e outras crianças também marcadas para morrer.  

As crianças importam em tudo, até para prolongar vidas de pessoas sós, idosas. Como foi o caso do papai, feliz o dia inteiro com a chegada, permanência e saída da criançada na Escola Tiburcinho. O barulho alegre e próprio da criança na escola bem ao lado da casa onde ele vivia sozinho há mais de trinta anos, era vida para ele.

As férias escolares davam-lhe um atestado, que ele mesmo traduzia sentimentalmente falando a terceiros: “Parece que a rua morreu sem aquelas crianças”. O valor das crianças para ele tinha essa dimensão.

Deus sabe quantas vezes o matariam se alguém entrasse naquela escola, coo em Santa Catarina e matasse a facadas algumas daquelas pequeninas. Deus sabe como ele morreria se uma das mães daquelas crianças tivesse que responder por morte do tipo a que se investiga ainda quanto ao pequeno Henry, de quatro anos morto ao longo de meses a pancadas – torturado.

O Promotor de Justiça Dr. Mauro Guilherme foi um homem que todos queríamos ser, ou todos deveríamos ser. As crianças mortas em Santa Catarina poderiam nos dar pessoas velhas e boas como o Dr. Mauro.

A vida sem as pessoas não é nada, às vezes uma rua, bairro até mesmo cidade sem elas é quase nada. Dias atrás sem quê nem porquê voltei aos meus 14 anos, quando ainda vivia na casa dos meus pais, ultima na esquina da rua onde nasci e vivi até os 18 anos.

Lembrei, contei, nominei e registrei em arquivo eletrônico trinta e quatro (34) meninas moças, jovens conterrâneas na nossa rua. Rua ainda sem pavimento, carroçável, volta e meia tratada a cascalho.

Nos dias de hoje, cinquenta e cinco anos passados, a rua é rigorosamente a mesma, mantida integra em seus metros, em seu perímetro, com todas as suas casas habitadas, à exceção a do papai, vazia desde sua morte aos 98 anos, em 2018, tem apenas uma moça, Roberta Queiroz. Rapazes também quase não há, se muito dois ou três.

É a rua sem vida, é a vida sem pessoas.  

   

sexta-feira, abril 09, 2021

CARTAS AO PORTADOR

César Bernardo – abril/21

Durante longos anos da minha vida escrevi cartas para amigos, especialmente para minha mãe. Era o meio de que dispunha para diminuir distancias e dividir a nova vida que decidi viver tão longe de casa, em Macapá, Território Federal. E claro que estava nisso um tanto de expectativa exagerada, solidão e medo do desconhecido, do fracasso e do muito que pesaria a desistência. 
Todo início de vida é difícil para qualquer pessoa, para mim tanto mais visto que, visto que o Amapá da década de 70 carecia de tudo, se socorria dos aviões de carreira para tudo, até para internar os tomates e pimentões do consumo geral. 
Foi uma época em que o dinheiro do salário não era suficiente para programar viagem de retorno em razão de férias e feriados, como muito depois veio de ocorrer anualmente. Logo eu já tinha uma família, esposa e filho, razão maior de minha permanência no Amapá. Só depois de seis anos pude tomar um avião de Macapá ao Rio de Janeiro e daí a Minas Gerais, à saudosa Volta Grande. Um grande alivio voltar para rever os meus, dizer-lhes e mostrar-me como me encontrava, quem sabe ouvir de algumas pessoas sobre as cartas que lhe havia enviado, até ali sem resposta. Quando fui de casa papai disse que me emprestava seu nome, portanto também era uma oportunidade de lhe prestar contas de como o estava usando. Também era um retorno de angustia ao não reencontrar certas pessoas tão especiais, porque se foram da cidade, casaram-se, enriqueceram ou morreram. Certo mesmo é que por muito tempo ainda continuei escrevendo cartas, recebendo algumas até que veio o fax. Já um pouco mais folgado com o dinheiro mensal comprei um aparelho para meu uso. Por causa da época e evolução por ele trazida o habito de escrever cartas foi diminuindo de necessidade. Bastante que alguém conhecido na cidade de destino tivesse receptor para que o fax substituísse as mal traçadas linhas. De minha parte aumentei bastante os artigos que escrevia para jornais (Ana Express - Do Dia – Diário do Amapá – Tabloide – Da Cidade – A Gazeta – O Liberal....) de sorte que fizesse as pessoas saberem como eu estava pelos escritos publicados, muitas vezes dando noticias minhas nas entrelinhas, com uso de palavras chaves aplicadas aos textos. Ao dizer, por exemplo, “tudo vai bem, cresce depressa...”, dizia o suficiente para meus familiares que por acaso lessem meus artigos nos jornais. Não lendo não podiam fazer cobranças porque a mensagem tinha sido publicada. Depois veio a internet, a telefonia móvel, o crescimento das redes sociais substituindo e sufocando a Orkut... escrever carta para quê? Mas em meio a essa evolução houve a remanescência da mãe e duas amigas, uma delas muito especial que ainda se comunicava comigo com cartas espaçadas entre si, porém, cartas espetaculares, bem escritas. Foram e estão guardadas, de vez em quando relidas., algumas das quais parecendo cartas de anteontem, atualíssimas. Veio então as modernas redes sociais e o telefone celular nas mãos de cada pessoa, às vezes dois ou mais. Aderi ao facebook, gostei e me afeiçoei à ferramenta tecnológica, através da qual “recuperei” velhos e bons amigos e amigas de àquele tempo. Postagens de cá e de lá e até mensagens expandidas via canal de recados, o Messenger me proporcionaram a satisfação de voltar a interagir com essas pessoas, acrescendo que até posso vê-las. Tudo uma enorme inovação na vida de todos nós, todavia não raro um voo de pombo correio supera a velocidade de internet disponível onde vivo.  

CARTAS AO PORTADOR

César Bernardo – abril/21

Durante longos anos da minha vida escrevi cartas para amigos, especialmente para minha mãe. Era o meio de que dispunha para diminuir distancias e dividir a nova vida que decidi viver tão longe de casa, em Macapá, Território Federal. E claro que estava nisso um tanto de expectativa exagerada, solidão e medo do desconhecido, do fracasso e do muito que pesaria a desistência.



Todo início de vida é difícil para qualquer pessoa, para mim tanto mais visto que, visto que o Amapá da década de 70 carecia de tudo, se socorria dos aviões de carreira para tudo, até para internar os tomates e pimentões do consumo geral. Foi uma época em que o dinheiro do salário não era suficiente para programar viagem de retorno em razão de férias e feriados, como muito depois veio de ocorrer anualmente. Logo eu já tinha uma família, esposa e filho, razão maior de minha permanência no Amapá. Só depois de seis anos pude tomar um avião de Macapá ao Rio de Janeiro e daí a Minas Gerais, à saudosa Volta Grande. Um grande alivio voltar para rever os meus, dizer-lhes e mostrar-me como me encontrava, quem sabe ouvir de algumas pessoas sobre as cartas que lhe havia enviado, até ali sem resposta. Quando fui de casa papai disse que me emprestava seu nome, portanto também era uma oportunidade de lhe prestar contas de como o estava usando. Também era um retorno de angustia ao não reencontrar certas pessoas tão especiais, porque se foram da cidade, casaram-se, enriqueceram ou morreram. Certo mesmo é que por muito tempo ainda continuei escrevendo cartas, recebendo algumas até que veio o fax. Já um pouco mais folgado com o dinheiro mensal comprei um aparelho para meu uso. Por causa da época e evolução por ele trazida o habito de escrever cartas foi diminuindo de necessidade. Bastante que alguém conhecido na cidade de destino tivesse receptor para que o fax substituísse as mal traçadas linhas. De minha parte aumentei bastante os artigos que escrevia para jornais (Ana Express - Do Dia – Diário do Amapá – Tabloide – Da Cidade – A Gazeta – O Liberal....) de sorte que fizesse as pessoas saberem como eu estava pelos escritos publicados, muitas vezes dando noticias minhas nas entrelinhas, com uso de palavras chaves aplicadas aos textos. Ao dizer, por exemplo, “tudo vai bem, cresce depressa...”, dizia o suficiente para meus familiares que por acaso lessem meus artigos nos jornais. Não lendo não podiam fazer cobranças porque a mensagem tinha sido publicada. Depois veio a internet, a telefonia móvel, o crescimento das redes sociais substituindo e sufocando a Orkut... escrever carta para quê? Mas em meio a essa evolução houve a remanescência da mãe e duas amigas, uma delas muito especial que ainda se comunicava comigo com cartas espaçadas entre si, porém, cartas espetaculares, bem escritas. Foram e estão guardadas, de vez em quando relidas., algumas das quais parecendo cartas de anteontem, atualíssimas. Veio então as modernas redes sociais e o telefone celular nas mãos de cada pessoa, às vezes dois ou mais. Aderi ao facebook, gostei e me afeiçoei à ferramenta tecnológica, através da qual “recuperei” velhos e bons amigos e amigas de àquele tempo. Postagens de cá e de lá e até mensagens expandidas via canal de recados, o Messenger me proporcionaram a satisfação de voltar a interagir com essas pessoas, acrescendo que até posso vê-las. Tudo uma enorme inovação na vida de todos nós, todavia não raro um voo de pombo correio supera a velocidade de internet disponível onde vivo.   

     

 

 

 

terça-feira, novembro 03, 2020

LOURO E JOSÉ

 

César Bernardo nov2020

 

Deveria nos assombrar a descoberta de nós mesmos sobre o quanto valemos, ou para o que pensamos que valemos para as outras pessoas. Durante pelo menos um terço de nossa existência nos dedicamos ao que consideramos seja a nossa capacitação para a vida, para o trabalho, para a felicidade, para a luta pela própria vida., luta que não deixa de vislumbrar a vida longa.

Viver quanto mais viver para a vida., embora o espiritismo diga que vivemos uma passagem tanto mais longa quanto mais tenhamos expiação para cumprir na terra. Mas, é indissociável espírito e Jesus, assim como se sabe que antes da chegada de Jesus a esse mundo a concepção de vida terrena dependia muito dos deuses. Vivia-se muito pouco e muito mal se o corpo não fosse coberto pelos paramentos da nobreza ou da força militar.

Veio o verbo de Deus feito homem para junto do homem, trazendo a compreensão de que Deus era pai e todos éramos seus filhos, todos seriamos irmãos, porém, cada um com a sua marca de adesão cristã aos ensinamentos que esse Jesus trazia em favor da conversão geral dos homens às palavras centrais do seu Evangelho.

Jesus era uma semente entre nós e por nós deveria ser morta, para que suas palavras, suas promessas, seu reino germinassem, crescessem e frutificassem entre nós e por nós – e  o foi pela ressurreição.

Crucificado Jesus, ou seja, morta essa semente, os primeiros muitos anos cristãos se constituíram um período em que os homens não dispuseram dos Evangelhos escritos, base para sua orientação de vida. Esse longo período vazio, que durou até cerca de 80 anos depois de Cristo, foi um tempo em que a existência do homem pareceu sem significado. Não ficou mais espaço para a intimidade, para as novas ilusões ou reflorescimentos de velhas esperanças, e a alma, como que em doloroso período de expectação e silencio forçado ficou pelo caminho. Nada capaz de renovar seus sonhos, suas aspirações – espíritos cristalizados.

Quase dois mil anos depois essa mesma humanidade se vê refém de um vírus poderoso, Coronavirus19, manifesto na forma de inusitada pandemia. A essa altura da manifestação de parte da força desse vírus, o que vemos é uma humanidade querendo ignorar seus milhares de mortos e, milhões de reféns Covid19. Os que têm sorte chegam a hospitais, porém, a maioria, fica à própria sorte em suas casas.

Tudo nos levando a aceitar que vivemos novo vácuo entre Deus e o homem, morrendo como em legiões de escolhidos para um combate desigual: um vírus e o vazio como o que ficou nos oitenta anos seguintes à crucificação de Jesus.

Lamentamos esses mortos como se nada tivessem sido em vida, nada importassem aos que ainda vivos  piedosamente se desfazem de seus mortos com chavões: descanse em paz – que Deus possa... – vá em paz – cumpriu sua missão – Deus no comando.

Mas o Brasil e os brasileiros tiveram Tom Veiga Louro José -nome tão esquisito quanto os caminhos do povo e nação brasileiras Todos os dias úteis da semana o Louro, Tom e a Ana Maria entravam na maioria das residências do país. Um papagaio estilizado falante, tão necessário que, respeitosamente, fez da Ana Maria Braga, durante duas décadas, coadjuvante de seu próprio programa de televisão.

O interprete desse papagaio, Tom Veiga, tinha pouco a expiar nessa terra, já que aos 47 anos viu terminada sua missão  terrena foi em paz por comando de Deus, ao encontro do Criador. E para alegria minha, felicidade até, a desencarnação do Tom Veiga causou grande comoção a toda gente brasileira. Teria havido imenso e incontrolável movimento de massas humanas se não estivesse esse imenso país de joelhos para um vírus. Tudo foi além do descanse em paz, que Deus possa, vá em paz, cumpriu sua missão, Deus no comando.

  

 

  

domingo, agosto 02, 2020

CONCORDA OU 'DISCONCORDA'?

Cesar Bernardo – agosto/2020.

Acaso concorde com certas coisas e pessoas inevitáveis, obrigo-me a concordar também com voce. Estaremos em meio a um caso de um sem fim de coisas e pessoas. A televisão exibe aos domingos uma série de filmes bastante divertidos e muito bem produzidos, embora pródigos em repetir bordões. Da última vez que assisti a uma daquelas produções repetia-se que ‘a pizza abre portas’; e concluía: “foi assim que o Bush entrou na Casa Branca. É uma citação apenas, difusa, recurso de roteirista e produtor de televisão, mas com o qual concordo. 

Boa parte da imprensa da época disse que o Prêmio Nobel da Paz devia ter sido concedido a Julius Oppenheimer, e a seguir extinto em nome da autenticidade e valorização definitivas da própria inciativa. Quem o tivesse ganho até ali ficaria onde e como estava, mas dali em diante não haveria mais essa premiação e menos ainda quem a merecesse. E o que foi que fez o Dr. Julius Oppenheimer para ensejar tamanha revisão no mais prodigo processo de avaliação e premiação de atos e fatos da humanidade pela paz, como o era o Prêmio Nobel da Paz? Oppenheimer foi um físico americano oriundo de família judia e filho de pai alemão, também matemático, literato da cultura grega e francesa. Primeiro se envolveu politicamente contra a dominação nazista e depois fez-se republicano americano mediante a deflagração da guerra civil espanhola. Criou, aperfeiçoou a primeira bomba de hidrogênio – a Bomba H. Experimentou-a sobre Hiroshima, matando a uma só explosão mais de cem mil pessoas, inocentes ou não. 
Minha conclusão? Concordo com quem concorda com a sugestão do Prêmio Nobel da Paz ao Dr. Oppenheimer. Não concordo, entretanto, e de jeito nenhum, com quem por quaisquer razões que apresentem critiquem ou discordem dessa linha de pensamento, digamos, pró bomba atômica. O que entendo de Bomba H para que me alinhe e me exponha dessa forma, talvez até achando que haja alguém a influenciar? Nada, cem vezes nada; no entanto, cá para nós, que maior contribuição houve para a paz universal do que os estragos e dores espalhados pelas bombas atômicas um e dois, explodidas sobre Hiroshima e Nagasaki? Antes delas o mundo era uma aldeia conflagrada, beligerante, grandes guerras feitas para girar a roda da economia de ambos os lados, opressores e oprimidos. Por nada um país ou império fazia guerra contra o outro; invadia e bombardeava primeiro e só bem depois assinavam os documentos exigidos nos termos dos tratados internacionais, para a declaração da guerra. Depois do domínio da tecnologia de fabricação de bombas atômicas e equivalentes em mãos de diversos exércitos e organizações criminosas no mundo, que novas grandes guerras explodiram no planeta? Conflitos entre países ainda se registram até em andamento, às vezes até bate boca continentais ocorrem, mas, guerra para valer, não. 
Com o mundo surfando inédita onda de paz mundial – perceba que não disse ‘estado de paz’ mundial – a humanidade chega ao tempo da pandemia, dá de cara com, e se curva diante do Coronavirus19...mais um vírus. Diz-se mundos e fundos sobre pandemia, coronavirus, covid19 e, quanto a isso não vejo nada sobre o que não concordar. Mas, no meio do caminho da turma – Pandemia, Coronavirus19 e Covid19 – tem pedras. Pedras potencialmente mais letais do que novas bombas atômicas, poderosas o suficiente para reabrir a discussão se deve ou não prosseguir a premiação pela Paz: Trump, Bolsonaro, Jong Um ... concorda ou disconcorda?

 

 


quinta-feira, junho 04, 2020

ESTRELA HANNE

César Bernardo - 07 maio-2008
Certa vez, Deus estando a passear pelo firmamento para ver bem de perto como iam as suas criaturas, ouviu risos muito francos aqui mesmo em Macapá, ali nas imediações do barzinho-restaurante do Trapiche Eliezer Levi. Satisfeito com o estado de satisfação da moça que ria, aproximou-se, chamou-a de minha filha e perguntou por que ria tão francamente.
Hanne respondeu-lhe que ria porque acabava de entender o sentido de sua existência: era uma estrela.
Ainda rindo disse a Deus que lhe agradecia tê-la feito estrela e mandado o sol brilhar antes de si, além de pendurá-la fixamente no firmamento diferentemente daquelas estrelas cadentes especialmente importantes para amantes, poetas e principalmente os sonhadores.
Tem sido bom – disse Hanne a Deus – que eu apenas brilhe sem parar.
Deus, celestialmente compreensivo com o estado de espírito daquela sua criatura resolveu aumentar a intensidade da sua luz, mandando que ouvisse o que uma criança dizia à sua mãe naquele momento em, algum ponto da terra:
“Mamãe já vai surgir um novo dia, aquela estrela lá adiante vem sempre antes do sol trazendo o anúncio do suceder dos dias. Que linda!, Quantos pessoas esperam por ela todos os dias!. Todos que a vêem recebem de Deus a graça de viver mais um dia de sonhos, de desejos, de feliz aventura na terra”.
Da forma que apareceu, Deus desapareceu de diante da Hanne,  que por sua vez passou a compreender bem melhor o sentido de sua existência, decidindo doar-se mais ainda ao cumprimento da missão de desarmar o espírito das  pessoas em favor, apenas, da simples tarefa de viver.
Pois bem, Hanne Capiberibe morreu. Quarta feira passada, estando eu nas galerias da Assembleia Legislativa, onde se realizava seu velório, vi seus colegas jornalistas trajando camisas brancas tendo ao peito sua foto bem jovial e no rodapé a frase: te amamos.
Bem depois, no momento das homilias, frei Apolônio interpretou o filme da vida da “estrela” Hanne, dizendo diretamente aos seus pais Orlando e Raquel:
“Acabamos de vê-la bem pequena, criança, jovem, adulta e, morta. Eis a realidade da vida: nos diminuímos para voltar ao ventre de onde viemos.”
Tantas pessoas pediram a Deus pelo restabelecimento de Hanne, milhares de pessoas velaram o seu corpo e o conduziram a ultima morada., sinal inequívoco de que ela foi uma pessoa importante, especialmente para os seus familiares e amigos.
Sendo assim, fiquemos a vê-la como a “estrela Hanne” brilhando todos os dias no céu do Amapá, depois e antes do sol.

segunda-feira, junho 01, 2020

QUE DEUS POSSA . . . .

César Bernardo - junho/2020

 A já prolongada temporada de isolamento social no Brasil já descambou para a gozação nas redes sociais mais comuns, aqui e ali. Fases e mais frases espirituosas, algumas muito bem construídas a ponto de divertir e dar o que pensar. 
Ontem mesmo me apareceu uma muito bem humorada: “se me perguntarem o que a pandemia me ensinou respondo na lata – lavar louça e arrumar casa”. Conheço bem o amigo que a postou ou replicou de postagem original, também conheci sua mãe e o enorme orgulho de nos apresentar o filho como um grande advogado. Sei que arrumar casa e lavar louça nunca foram itens de sua banca.
É grande a quantidade de tiradas como essa, tanto quanto a lista centenária de mortos aqui no Amapá por a tal Covid19. No dia de hoje já são duzentas e vinte e duas essas vítimas do coronavirus, pessoas nossas, muitas delas perdendo a vida sem a devida chance de preserva-la. 
Na casa das dezenas estão lembranças de pessoas assim vitimadas antes de boa convivência comigo, já nas centenas estão todas essas vidas terminadas a peso de frases curtíssimas, useiras e vezeiras piedosas manifestações de pesar: Deus a(o) tenha – Que Deus possa... – Meus pêsames - - -
Assim, simples assim, desaparecemos. Aliás, assim para os especiais porque para os comuns não se chega nem a isso. Um dia qualquer perguntamos por fulano e alguém responde: “vi falar que morreu, mas não tenho certeza”. 
Estamos perdendo muita gente por causa de Covid19, mas somadas a elas estão os mortos de sempre: outras doenças, facada, tiro, atropelamento, queda de moto, suicídio, afogamentos. De uns dias para cá os que permanecemos vivos morremos por dentro ao ver nossa gente tão importante desaparecendo em dias, veladas em horas, enterradas sós e em minutos. Muitas dessas pessoas viveram ilustremente e receberiam honras fúnebres, mas são desaparecidas rapidamente para que sobreviventes não se contaminem de si.
      Estamos na época das grandes chuvas amazônicas, chove demais e nada mais doloroso do que escutar o som do caixão com a água na cova onde deixamos esses nossos entes queridos. É uma dor que sangra e faz em nada os nossos corações. Cansa tantas noticias de morte sobre alguém que voce está impedido de ver estendido na pedra mortuária. Apenas hoje mais sete dos nossos passamos ao livro do Deus a(o) tenha – Que Deus possa... – Meus pêsames - - -
Diz hoje o mesmo advogado agora craque em lavar louça e arrumar casa: “A vida tem me afastado de tanta gente, que quando pergunto quem vai restar uma voz, lá no fundo, responde: Quem for essencial”.




sexta-feira, maio 29, 2020

UM É SORTE ,,,,, OS DEMAIS ......

César Bernardo - maio/2020
As falas diárias do presidente Bolsonaro são inveteradas.... reticências, porém, nunca o nada levando a lugar nenhum. Os que têm o costume do palavrão como pigarro ou virgula podem substituir os pontinhos com a facilidade que oferece o largo espectro vocabular. Ele se anula quando fala, se auto asfixia apertando demais o nó da gravata. 
Mas é um homem de sorte, tem muita gente que o conhecia bem antes ou o conhece melhor agora e mesmo assim o compra. O novo Bolsonaro bem que poderia ganhar na imprensa que ele tanto ofende a similaridade na identificação como o que se faz e porque se faz com o Coronavirus. Não para ofendê-lo, claro, afinal é o presidente de todos os brasileiros, mas para explica-lo com pouquíssimas palavras.
Diz-se novocoronavirus19 justamente para evitar maiores explicações sobre os tantos outros antes identificados, todos perigosos de alguma forma. O sub família Orthocoronavirinae da família Coronaviridae tem seu rabinho preso com morcego, boi, cavalo, alpaca, cobra, camelo, humanos – um vírus corona diferente para cada um. 
Analogamente se o jornalismo profissional cismasse em se referir ao presidente como o novo Bolsonaro apenas o estaria descolando do Bolsonaro político que passou vinte e oito anos como deputado federal, derivando de si um Bolsonaro vereador, outro Bolsonaro deputado federal, outro Bolsonaro senador e ele próprio Bolsonaro presidente. Todos políticos, porém, diferentes entre si.
Diz a literatura jornalística que durante seus 28 anos de mandato na Câmara dos Deputados o Bolsonaro Jair teria apresentado 170 (cento e setenta) projetos de lei, feito que poderia tê-lo distinguido muito, a ponto de credencia-lo para a Presidência da República. Porém, apenas dois desses projetos foram aprovados, os restantes cento e sessenta e oito foram recusados por falta de qualidade.
Seletivamente os projetos do deputado federal Jair Bolsonaro tinham predileção para pautas quase que exclusivamente referentes aos militares, segurança pública, símbolos nacionais. Um de seus apenas dois projetos aprovados em vinte e oito anos de mandato dizia respeito a autorização geral para o uso terapêutico da Fhosfhoetanolamina sintética, a chamada “pílula do câncer”. 
Vê-se, assim, que há similaridade com o Jair Bolsonaro presidente vez que não esconde, hoje, a obsessão por outra pílula milagrosa, a Cloroquina. Para ser justo diga-se que o novo Bolsonaro melhorou, pois defende com o mesmo vigor não uma, mas duas pílulas milagrosas: Cloroquina e Hidroxicloroquina.  
Ontem mesmo dizia a uma amiga que sentiu necessidade de externar seu sentimento de gratidão em relação ao que é hoje, que é enigmático o destino de cada um de nós. O de Bolsonaro é também emblemático. Um dia quis porque quis que a nação tivesse o nome do deputado Enéas Carneiro inscrito no livro dos Heróis da Pátria, por sua oposição ao comunismo. Hoje o Bolsonaro presidente mandou distribuir medalhas, transformou em Grande Oficial da Ordem do Mérito Naval os doutores Abraham Weintraub, Augusto Aras, Marcelo Álvaro Antônio, Jorge Oliveira, Hélio Lopes e Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Se sabem nadar ou para onde remam suas canoas não disse. 
Noutro momento mais adiante um pouco o Bolsonaro deputado quis a revogação da lei que obrigava todos os hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) a oferecer às vítimas da violência sexual um atendimento emergencial, integral e multidisciplinar para vítimas de estupro. Entendia que a medida endossava o compromisso do governo Dilma Rousseff com a legalização do aborto.
O destino, esse que o fogo determinou ao novo mundo, colocou uma fogueira acesa no caminho do ex deputado e atual presidente da República Jair Bolsonaro e deixou perto das chamas um tantão irremovível de combustíveis inflamáveis, a saber: filhos políticos com mandato, SUS e caneta com tinta para escolher e emplacar seus heróis da pátria. 
Ontem mesmo se referiu a um deles como “potencialmente” qualificado para uma vaga no STF: o Dr. Aras.  Sorte dele que já é augusto desde os primeiros dias de vida.