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terça-feira, novembro 03, 2020

LOURO E JOSÉ

 

César Bernardo nov2020

 

Deveria nos assombrar a descoberta de nós mesmos sobre o quanto valemos, ou para o que pensamos que valemos para as outras pessoas. Durante pelo menos um terço de nossa existência nos dedicamos ao que consideramos seja a nossa capacitação para a vida, para o trabalho, para a felicidade, para a luta pela própria vida., luta que não deixa de vislumbrar a vida longa.

Viver quanto mais viver para a vida., embora o espiritismo diga que vivemos uma passagem tanto mais longa quanto mais tenhamos expiação para cumprir na terra. Mas, é indissociável espírito e Jesus, assim como se sabe que antes da chegada de Jesus a esse mundo a concepção de vida terrena dependia muito dos deuses. Vivia-se muito pouco e muito mal se o corpo não fosse coberto pelos paramentos da nobreza ou da força militar.

Veio o verbo de Deus feito homem para junto do homem, trazendo a compreensão de que Deus era pai e todos éramos seus filhos, todos seriamos irmãos, porém, cada um com a sua marca de adesão cristã aos ensinamentos que esse Jesus trazia em favor da conversão geral dos homens às palavras centrais do seu Evangelho.

Jesus era uma semente entre nós e por nós deveria ser morta, para que suas palavras, suas promessas, seu reino germinassem, crescessem e frutificassem entre nós e por nós – e  o foi pela ressurreição.

Crucificado Jesus, ou seja, morta essa semente, os primeiros muitos anos cristãos se constituíram um período em que os homens não dispuseram dos Evangelhos escritos, base para sua orientação de vida. Esse longo período vazio, que durou até cerca de 80 anos depois de Cristo, foi um tempo em que a existência do homem pareceu sem significado. Não ficou mais espaço para a intimidade, para as novas ilusões ou reflorescimentos de velhas esperanças, e a alma, como que em doloroso período de expectação e silencio forçado ficou pelo caminho. Nada capaz de renovar seus sonhos, suas aspirações – espíritos cristalizados.

Quase dois mil anos depois essa mesma humanidade se vê refém de um vírus poderoso, Coronavirus19, manifesto na forma de inusitada pandemia. A essa altura da manifestação de parte da força desse vírus, o que vemos é uma humanidade querendo ignorar seus milhares de mortos e, milhões de reféns Covid19. Os que têm sorte chegam a hospitais, porém, a maioria, fica à própria sorte em suas casas.

Tudo nos levando a aceitar que vivemos novo vácuo entre Deus e o homem, morrendo como em legiões de escolhidos para um combate desigual: um vírus e o vazio como o que ficou nos oitenta anos seguintes à crucificação de Jesus.

Lamentamos esses mortos como se nada tivessem sido em vida, nada importassem aos que ainda vivos  piedosamente se desfazem de seus mortos com chavões: descanse em paz – que Deus possa... – vá em paz – cumpriu sua missão – Deus no comando.

Mas o Brasil e os brasileiros tiveram Tom Veiga Louro José -nome tão esquisito quanto os caminhos do povo e nação brasileiras Todos os dias úteis da semana o Louro, Tom e a Ana Maria entravam na maioria das residências do país. Um papagaio estilizado falante, tão necessário que, respeitosamente, fez da Ana Maria Braga, durante duas décadas, coadjuvante de seu próprio programa de televisão.

O interprete desse papagaio, Tom Veiga, tinha pouco a expiar nessa terra, já que aos 47 anos viu terminada sua missão  terrena foi em paz por comando de Deus, ao encontro do Criador. E para alegria minha, felicidade até, a desencarnação do Tom Veiga causou grande comoção a toda gente brasileira. Teria havido imenso e incontrolável movimento de massas humanas se não estivesse esse imenso país de joelhos para um vírus. Tudo foi além do descanse em paz, que Deus possa, vá em paz, cumpriu sua missão, Deus no comando.

  

 

  

domingo, agosto 02, 2020

CONCORDA OU 'DISCONCORDA'?

Cesar Bernardo – agosto/2020.

Acaso concorde com certas coisas e pessoas inevitáveis, obrigo-me a concordar também com voce. Estaremos em meio a um caso de um sem fim de coisas e pessoas. A televisão exibe aos domingos uma série de filmes bastante divertidos e muito bem produzidos, embora pródigos em repetir bordões. Da última vez que assisti a uma daquelas produções repetia-se que ‘a pizza abre portas’; e concluía: “foi assim que o Bush entrou na Casa Branca. É uma citação apenas, difusa, recurso de roteirista e produtor de televisão, mas com o qual concordo. 

Boa parte da imprensa da época disse que o Prêmio Nobel da Paz devia ter sido concedido a Julius Oppenheimer, e a seguir extinto em nome da autenticidade e valorização definitivas da própria inciativa. Quem o tivesse ganho até ali ficaria onde e como estava, mas dali em diante não haveria mais essa premiação e menos ainda quem a merecesse. E o que foi que fez o Dr. Julius Oppenheimer para ensejar tamanha revisão no mais prodigo processo de avaliação e premiação de atos e fatos da humanidade pela paz, como o era o Prêmio Nobel da Paz? Oppenheimer foi um físico americano oriundo de família judia e filho de pai alemão, também matemático, literato da cultura grega e francesa. Primeiro se envolveu politicamente contra a dominação nazista e depois fez-se republicano americano mediante a deflagração da guerra civil espanhola. Criou, aperfeiçoou a primeira bomba de hidrogênio – a Bomba H. Experimentou-a sobre Hiroshima, matando a uma só explosão mais de cem mil pessoas, inocentes ou não. 
Minha conclusão? Concordo com quem concorda com a sugestão do Prêmio Nobel da Paz ao Dr. Oppenheimer. Não concordo, entretanto, e de jeito nenhum, com quem por quaisquer razões que apresentem critiquem ou discordem dessa linha de pensamento, digamos, pró bomba atômica. O que entendo de Bomba H para que me alinhe e me exponha dessa forma, talvez até achando que haja alguém a influenciar? Nada, cem vezes nada; no entanto, cá para nós, que maior contribuição houve para a paz universal do que os estragos e dores espalhados pelas bombas atômicas um e dois, explodidas sobre Hiroshima e Nagasaki? Antes delas o mundo era uma aldeia conflagrada, beligerante, grandes guerras feitas para girar a roda da economia de ambos os lados, opressores e oprimidos. Por nada um país ou império fazia guerra contra o outro; invadia e bombardeava primeiro e só bem depois assinavam os documentos exigidos nos termos dos tratados internacionais, para a declaração da guerra. Depois do domínio da tecnologia de fabricação de bombas atômicas e equivalentes em mãos de diversos exércitos e organizações criminosas no mundo, que novas grandes guerras explodiram no planeta? Conflitos entre países ainda se registram até em andamento, às vezes até bate boca continentais ocorrem, mas, guerra para valer, não. 
Com o mundo surfando inédita onda de paz mundial – perceba que não disse ‘estado de paz’ mundial – a humanidade chega ao tempo da pandemia, dá de cara com, e se curva diante do Coronavirus19...mais um vírus. Diz-se mundos e fundos sobre pandemia, coronavirus, covid19 e, quanto a isso não vejo nada sobre o que não concordar. Mas, no meio do caminho da turma – Pandemia, Coronavirus19 e Covid19 – tem pedras. Pedras potencialmente mais letais do que novas bombas atômicas, poderosas o suficiente para reabrir a discussão se deve ou não prosseguir a premiação pela Paz: Trump, Bolsonaro, Jong Um ... concorda ou disconcorda?

 

 


quinta-feira, junho 04, 2020

ESTRELA HANNE

César Bernardo - 07 maio-2008
Certa vez, Deus estando a passear pelo firmamento para ver bem de perto como iam as suas criaturas, ouviu risos muito francos aqui mesmo em Macapá, ali nas imediações do barzinho-restaurante do Trapiche Eliezer Levi. Satisfeito com o estado de satisfação da moça que ria, aproximou-se, chamou-a de minha filha e perguntou por que ria tão francamente.
Hanne respondeu-lhe que ria porque acabava de entender o sentido de sua existência: era uma estrela.
Ainda rindo disse a Deus que lhe agradecia tê-la feito estrela e mandado o sol brilhar antes de si, além de pendurá-la fixamente no firmamento diferentemente daquelas estrelas cadentes especialmente importantes para amantes, poetas e principalmente os sonhadores.
Tem sido bom – disse Hanne a Deus – que eu apenas brilhe sem parar.
Deus, celestialmente compreensivo com o estado de espírito daquela sua criatura resolveu aumentar a intensidade da sua luz, mandando que ouvisse o que uma criança dizia à sua mãe naquele momento em, algum ponto da terra:
“Mamãe já vai surgir um novo dia, aquela estrela lá adiante vem sempre antes do sol trazendo o anúncio do suceder dos dias. Que linda!, Quantos pessoas esperam por ela todos os dias!. Todos que a vêem recebem de Deus a graça de viver mais um dia de sonhos, de desejos, de feliz aventura na terra”.
Da forma que apareceu, Deus desapareceu de diante da Hanne,  que por sua vez passou a compreender bem melhor o sentido de sua existência, decidindo doar-se mais ainda ao cumprimento da missão de desarmar o espírito das  pessoas em favor, apenas, da simples tarefa de viver.
Pois bem, Hanne Capiberibe morreu. Quarta feira passada, estando eu nas galerias da Assembleia Legislativa, onde se realizava seu velório, vi seus colegas jornalistas trajando camisas brancas tendo ao peito sua foto bem jovial e no rodapé a frase: te amamos.
Bem depois, no momento das homilias, frei Apolônio interpretou o filme da vida da “estrela” Hanne, dizendo diretamente aos seus pais Orlando e Raquel:
“Acabamos de vê-la bem pequena, criança, jovem, adulta e, morta. Eis a realidade da vida: nos diminuímos para voltar ao ventre de onde viemos.”
Tantas pessoas pediram a Deus pelo restabelecimento de Hanne, milhares de pessoas velaram o seu corpo e o conduziram a ultima morada., sinal inequívoco de que ela foi uma pessoa importante, especialmente para os seus familiares e amigos.
Sendo assim, fiquemos a vê-la como a “estrela Hanne” brilhando todos os dias no céu do Amapá, depois e antes do sol.

segunda-feira, junho 01, 2020

QUE DEUS POSSA . . . .

César Bernardo - junho/2020

 A já prolongada temporada de isolamento social no Brasil já descambou para a gozação nas redes sociais mais comuns, aqui e ali. Fases e mais frases espirituosas, algumas muito bem construídas a ponto de divertir e dar o que pensar. 
Ontem mesmo me apareceu uma muito bem humorada: “se me perguntarem o que a pandemia me ensinou respondo na lata – lavar louça e arrumar casa”. Conheço bem o amigo que a postou ou replicou de postagem original, também conheci sua mãe e o enorme orgulho de nos apresentar o filho como um grande advogado. Sei que arrumar casa e lavar louça nunca foram itens de sua banca.
É grande a quantidade de tiradas como essa, tanto quanto a lista centenária de mortos aqui no Amapá por a tal Covid19. No dia de hoje já são duzentas e vinte e duas essas vítimas do coronavirus, pessoas nossas, muitas delas perdendo a vida sem a devida chance de preserva-la. 
Na casa das dezenas estão lembranças de pessoas assim vitimadas antes de boa convivência comigo, já nas centenas estão todas essas vidas terminadas a peso de frases curtíssimas, useiras e vezeiras piedosas manifestações de pesar: Deus a(o) tenha – Que Deus possa... – Meus pêsames - - -
Assim, simples assim, desaparecemos. Aliás, assim para os especiais porque para os comuns não se chega nem a isso. Um dia qualquer perguntamos por fulano e alguém responde: “vi falar que morreu, mas não tenho certeza”. 
Estamos perdendo muita gente por causa de Covid19, mas somadas a elas estão os mortos de sempre: outras doenças, facada, tiro, atropelamento, queda de moto, suicídio, afogamentos. De uns dias para cá os que permanecemos vivos morremos por dentro ao ver nossa gente tão importante desaparecendo em dias, veladas em horas, enterradas sós e em minutos. Muitas dessas pessoas viveram ilustremente e receberiam honras fúnebres, mas são desaparecidas rapidamente para que sobreviventes não se contaminem de si.
      Estamos na época das grandes chuvas amazônicas, chove demais e nada mais doloroso do que escutar o som do caixão com a água na cova onde deixamos esses nossos entes queridos. É uma dor que sangra e faz em nada os nossos corações. Cansa tantas noticias de morte sobre alguém que voce está impedido de ver estendido na pedra mortuária. Apenas hoje mais sete dos nossos passamos ao livro do Deus a(o) tenha – Que Deus possa... – Meus pêsames - - -
Diz hoje o mesmo advogado agora craque em lavar louça e arrumar casa: “A vida tem me afastado de tanta gente, que quando pergunto quem vai restar uma voz, lá no fundo, responde: Quem for essencial”.




sexta-feira, maio 29, 2020

UM É SORTE ,,,,, OS DEMAIS ......

César Bernardo - maio/2020
As falas diárias do presidente Bolsonaro são inveteradas.... reticências, porém, nunca o nada levando a lugar nenhum. Os que têm o costume do palavrão como pigarro ou virgula podem substituir os pontinhos com a facilidade que oferece o largo espectro vocabular. Ele se anula quando fala, se auto asfixia apertando demais o nó da gravata. 
Mas é um homem de sorte, tem muita gente que o conhecia bem antes ou o conhece melhor agora e mesmo assim o compra. O novo Bolsonaro bem que poderia ganhar na imprensa que ele tanto ofende a similaridade na identificação como o que se faz e porque se faz com o Coronavirus. Não para ofendê-lo, claro, afinal é o presidente de todos os brasileiros, mas para explica-lo com pouquíssimas palavras.
Diz-se novocoronavirus19 justamente para evitar maiores explicações sobre os tantos outros antes identificados, todos perigosos de alguma forma. O sub família Orthocoronavirinae da família Coronaviridae tem seu rabinho preso com morcego, boi, cavalo, alpaca, cobra, camelo, humanos – um vírus corona diferente para cada um. 
Analogamente se o jornalismo profissional cismasse em se referir ao presidente como o novo Bolsonaro apenas o estaria descolando do Bolsonaro político que passou vinte e oito anos como deputado federal, derivando de si um Bolsonaro vereador, outro Bolsonaro deputado federal, outro Bolsonaro senador e ele próprio Bolsonaro presidente. Todos políticos, porém, diferentes entre si.
Diz a literatura jornalística que durante seus 28 anos de mandato na Câmara dos Deputados o Bolsonaro Jair teria apresentado 170 (cento e setenta) projetos de lei, feito que poderia tê-lo distinguido muito, a ponto de credencia-lo para a Presidência da República. Porém, apenas dois desses projetos foram aprovados, os restantes cento e sessenta e oito foram recusados por falta de qualidade.
Seletivamente os projetos do deputado federal Jair Bolsonaro tinham predileção para pautas quase que exclusivamente referentes aos militares, segurança pública, símbolos nacionais. Um de seus apenas dois projetos aprovados em vinte e oito anos de mandato dizia respeito a autorização geral para o uso terapêutico da Fhosfhoetanolamina sintética, a chamada “pílula do câncer”. 
Vê-se, assim, que há similaridade com o Jair Bolsonaro presidente vez que não esconde, hoje, a obsessão por outra pílula milagrosa, a Cloroquina. Para ser justo diga-se que o novo Bolsonaro melhorou, pois defende com o mesmo vigor não uma, mas duas pílulas milagrosas: Cloroquina e Hidroxicloroquina.  
Ontem mesmo dizia a uma amiga que sentiu necessidade de externar seu sentimento de gratidão em relação ao que é hoje, que é enigmático o destino de cada um de nós. O de Bolsonaro é também emblemático. Um dia quis porque quis que a nação tivesse o nome do deputado Enéas Carneiro inscrito no livro dos Heróis da Pátria, por sua oposição ao comunismo. Hoje o Bolsonaro presidente mandou distribuir medalhas, transformou em Grande Oficial da Ordem do Mérito Naval os doutores Abraham Weintraub, Augusto Aras, Marcelo Álvaro Antônio, Jorge Oliveira, Hélio Lopes e Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Se sabem nadar ou para onde remam suas canoas não disse. 
Noutro momento mais adiante um pouco o Bolsonaro deputado quis a revogação da lei que obrigava todos os hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) a oferecer às vítimas da violência sexual um atendimento emergencial, integral e multidisciplinar para vítimas de estupro. Entendia que a medida endossava o compromisso do governo Dilma Rousseff com a legalização do aborto.
O destino, esse que o fogo determinou ao novo mundo, colocou uma fogueira acesa no caminho do ex deputado e atual presidente da República Jair Bolsonaro e deixou perto das chamas um tantão irremovível de combustíveis inflamáveis, a saber: filhos políticos com mandato, SUS e caneta com tinta para escolher e emplacar seus heróis da pátria. 
Ontem mesmo se referiu a um deles como “potencialmente” qualificado para uma vaga no STF: o Dr. Aras.  Sorte dele que já é augusto desde os primeiros dias de vida.


quinta-feira, maio 28, 2020

NADA DE COMPARAÇÃO ...

César Bernardo - maio/2020
Durante anos quase fui assíduo frequentador de botequins, quase. Hoje me vejo afastados deles por motivo de força maior, e bem maior. De dez anos para cá o câncer determinou que os deixassem seguir com seus outros simpatizantes. 
Mas ainda posso defender a linguagem do boteco, a começar dando garantias de que ele tem alma. Mas essa não me atrevo interpretar e muito menos contestar, por muito superior à minha capacidade de compreender os meandros de sua comunicação.
Com que roupa me diria interprete de um boteco um tanto quanto rastaquera, em dado momento com um único cliente, um sujeito mambembe, totalmente em silencio, bem assentado à lateral de uma mesa sem toalha no canto mais sombrio da casa e sobre ela garrafas vazias, uma meio cheia, copo numa mão, cigarro apagado na outra, pernas cruzadas, olhos fixos na ponta do pé mais erguido, levado a esse cenário boêmio por traição da mulher amada, adúltera?
Ou por outra, em outro momento, o mesmo boteco cheio de homens e mulheres alegres, pessoas soltas em algazarra entregues a seguidos brindes comemorativos, aparentemente por motivação em proveito de todo o grupo? 
É preciso respeito para com os botequins e muito esmerado cuidado para não ofender sua alma própria e outras que para ele levam os bêbados, boêmios inveterados, bom vivant, os solitários, desocupados, poetas, prostitutas e prostitutos. Tem alma sim, o boteco.
Junte sua experiencia com o boteco e faça-me o favor de me dizer se tudo aquilo que viu e ouviu na reunião ministerial tida e havida no Palácio do Planalto sob a condução do Presidente da República pode ser chamada de conversa de botequim? Definitivamente não foi. Promiscuidade em excesso não é permitida no boteco, não se gasta tanto bestunto assim nem antes e nem depois das brigas. Não se diz tanto palavrão num boteco porque há respeito pelas damas de companhia dos companheiros presentes. Não se põe o dedo na cara de ninguém como o fez presidente com os seus ministros – o proprietário não consente. 
Não se grita naquele tom com colegas de boteco, ontem eram navalhas e punhais hoje as pistolas respondem a tamanho desrespeito. No boteco, a julgar pelos anos a fio que o frequentei, ninguém monopoliza a palavra – ou ninguém escuta ou saem todos sem pagar a conta. 
Botequim tem alma e regras ou normas, sei lá o que mais se ajusta. Ali tudo se sabe e se diz, ainda que se diga e se saiba mal. Também não se deve comparar frequentadores de boteco com a turma ministerial em questão. Onde já se viu pisotear o “código” de honra de um boteco esculhambando-o a vis palavrões?
Não é preciso ir adiante para deixar claro o vazio dos palácios e a alma silenciosa dos botecos. Se mais for preciso acrescentar que se diga da fidalguia que há nos boêmios, tanta que os leva todos os dias aos mesmos botecos de suas preferências.      

quinta-feira, maio 21, 2020

BOLSA-NARO

 Cesar Bernardo-maio2020.
O governo brasileiro tropeça sem si mesmo praticamente todos os dias. Bastante que o presidente abra a boca para suas “conversas” com seus apoiadores na porta do palácio, ou assine medidas de “seu governo” para publicação no Diário Oficial.
Até agora suas decisões publicadas nos órgãos oficiais de comunicação foram quase todas asteriscos. As falas diárias perante apoiadores e ante celulares deslizam para a condição de reticências porque vai ser retificada mais tarde ou porque algum “infiltrado” da grande imprensa brasileira lhe fez perguntas e insistiu que as respondesse.

Além de asteriscos e reticências também tem os momentos em que o presidente transforma trechos de suas reticencias em pausas sonoras nas mídias audiovisuais, especialmente na televisão. São aquelas explicações ou respostas de seus atos ou de seu governo são palavrões ainda não admissíveis no horário comercial.
Até agora o que escrevemos quase todo mundo viu acontecendo e até mais que isso se tomar em consideração a demissão e nomeação dos ministros da Saúde enquanto avança a pandemia. Mas tem ainda o caso difuso da nomeação e exoneração do Dr. Sergio Moro, ícone da Laja Jato. 

Ninguém em sã consciência apostaria uma garrafa vazia a possibilidade de que atuasse ali sem o apoio de poderosa rede de informantes qualificados. Embora sediada em Curitiba, a Força Tarefa liderada por ele sabia bastante sobre o crime organizado no Rio de Janeiro. Boatos sobre a movimentação do grupo Bolsonaro já circulavam, era no estado fluminense que se sabia da atuação e força política do clã. 
Moro renunciou a carreira na magistratura, aposentou a toga, afastou-se da Laja Jato e se tornou ministro auxiliar de luxo do governo Bolsonaro. Desde a posse na pasta da Justiça e Segurança Pública o ministro brilhou sempre mais que o chefe. 
Foi maltratado e humilhado por causa da Policia Federal, perdeu o cargo por causa de sua oposição ao excessivo interesse do presidente nos “ajustes” que desejava fazer na estrutura administrativa da corporação, a começar por trocas de comando na Superintendência do Rio de Janeiro.
E o que se vê? Investigações em curso nos calcanhares dos Bolsonaro, filho aforado no Rio de Janeiro, filho e pai em Brasilia. Deu em que? Sergio Moro fora do caminho, se possível desmoralizado pelo “núcleo duro” do governo, e periféricos.
Além de asteriscos, reticencias, palavrões há também entrelinhas e aí o ministro Paulo Guedes. O mesmo “núcleo duro” do governo já percebeu que sua tese liberal não reelege Bolsonaro, melhor caminho se revelou a nova bolsa coletiva coronavirus19. Estendida mais um pouco ao longo da pandemia 2020 e retomada lá na frente no próximo período das convenções eleitorais 2022, será tiro e queda.
Quanto a Guedes e sua tese liberal ou se dobram ou caiam fora.

segunda-feira, maio 18, 2020

COVIL DA PANDEMIA COVID19


Tenho pensado muito nos esforços que fiz para que meu nome e eu tivéssemos algum valor, instintivamente, por obediência ou iniciativa própria fui crendo que construía assim um caminho que ao fim me fizesse chegar a um certo nível de importância pelo menos para meus familiares, especialmente meus filhos. 
Confesso que não foi tão penoso percorrer esse caminho ao longo da vida, embora não tenha sido simples, fácil e divertido no seu trajeto mais comprido. Pode ser que tenha errado em considerar certo e bom apenas o que me satisfazia, destacava, prestigiava e me colocava frente às pessoas e ambientes de convivência como alguém útil, necessário até.
 
Mais ou menos assim fui me construindo e me dispondo para as pessoas para ser ajudado e, também, para ajudar. Olhando para trás dá para ver que essa empatia me foi bastante favorável. E pode ser que disso me tenha envaidecido além da medida. E pode também que a própria vida me tenha negado oportunidades para me enxergar melhor nesse contexto.
Correram os anos e com eles chegamos ao tempo da pandemia19, trágica experiência para essa humanidade a que pertenço há sessenta e oito anos. Quanto e sobre ela nunca e nada aprendi, pensando bem quase nem ouvi essa palavra enquanto a escola me instruía. Ao prêmio de um milhão de reais não poderia citar o nome de um único professor(a) que alguma vez a tenha pronunciado em minha presença. Para ser mais conciso: nem em botequins. 
De repente estamos todos no meio dela e em meio a ela já nos curvamos conforme queira nos machucar com seus mais de dez dedos, cada qual com um nome: doença, dor, padecimento, morte, supressão de identidade, negação de histórias de vida, falta de leito hospitalar e vaga nos cemitérios, ausência de velório e acompanhamento, desemprego, corte de salário, fome, desobediência civil, estupidez política e administrativa....
 
Pois bem, daqui ao cabeçalho desse texto está o que me diminui, amedronta e decepciona: supressão de identidade. É tanto que há consenso quando no grupo que ainda me resta integrar ao nos referirmos a alguns grandes amigos recém falecidos e sobre eles concordamos: “ainda bem que morreu antes de ver seus valores destruídos, sua história apagada, seu desaparecimento sem pompas e circunstancias”. 
Não valemos nada, de minha parte constato que de nada serve os cuidados que tive para com minha vida e meu nome. De uns dias para cá ouço dizer como antes ouvia sobre cobras e lagartos: fulano morreu anteontem, cicrano morreu ontem, beltrano mal acabou de morrer e já está enterrado. Onde? Vai saber!.?  





 


quarta-feira, abril 22, 2020

É BOM ESCREVER?

Abril/2020 - Cesar Bernardo
 O que mais doeria a um escritor do que admitir que escreve para imitar os que escrevem, escreve para que os amigos descubram que leva jeito e que tem uma maneira própria de contar seus casos.
Escreve porque intui algo que pode ser arte e do quanto me torna visível um livro publicado de minha autoria. Porque o conteúdo dos meus livros pode oportunizar uma vida melhor se acaso fiz boa escolha temática.
Ainda que se leia pouco, o livro ainda que na estante dá status, até impõe respeito. Ora, o livro por mais que desprezado e fechado sempre será útil ao escritor autor, especialmente se o escreve por escrever.
É, pois, que, escrevo para os que me leem, para os que se aprazem com a noticia de que publiquei mais uma “obra”, para gaudio do amigo que sequer vai a festa de lançamento, mas pede galantemente que lhe reserve o seu exemplar. Também escrevo para o amigo do peito, com o qual deverei gastar bastante para lhe fazer chegar às mãos um exemplar, talvez mais alguns outros anteriores, com palavras bem escolhidas da dedicatória, envelope caro e muitos selos no pacote postal o mais rapidamente possível enviado.
De um amigo assim posso esperar alguma dedicação ao ponto de ler trechos do meu livro para demonstrar apreço quando os falarmos. Poderá, quem sabe, falar de mim e do livro se dispuser de espaço publicitário. Um ou outro desses bons amigos, sempre cultos, poderá comparar meu livro ao de algum grande escritor, é para ele que escrevo.  
Quanto a mim, escritor, mantenho-me crédulo nesse ou naquele Ministro, Secretário de Cultura ou de Educação, uma celebridade, na namorada oculta, como tendo lido um dos meus livros. São famosos e podem me tornar famoso também.
De mais a mais, como agora, escrevo para não deixar que se torne vadio o meu gosto, jeito e prazer de escrever.   

segunda-feira, abril 06, 2020

E SE O CORONAVIRUS19 CISMAR DE FICAR?

César Bernardo de Souza - 04/2020 
Não sei, acho que poucos o sabem, qual a gênese do vírus – quando surgiu, como surgiu, quando e qual espécie animal atacou pela primeira vez, etc.
No entanto, a história e a ciência têm bom arquivo sobre esse micro organismo. Ou será que não? Talvez não, há um histórico de dor e danos econômicos deixados por eles.
Em 1918 um desses vírus prostrou o mundo inteiro sob a denominação de “a peste” ou gripe espanhola” – uma injustiça contra a Espanha, vitimada duas vezes ao mesmo tempo. Em 1976 outro vírus deitou a África, atacando-a impiedosamente e daquela vez denominado Ebola.
Entremeio a 1918 e dias atuais vírus e virulência andaram por aí confrontando a soberania humana, ou mais que isso já que é do homem a responsabilidade de cuidar dos animais domésticos – quase existe um vírus para cada espécie deles.
Nesse momento o vírus Corona19 está nos pulmões do mundo inteiro, a Covid19 é como se convencionou denominar a doença causada por ele. Primeiro botou os sistemas de saúde de todo o mundo de cócoras, depois dobrou a espinha de todos os governos do planeta.
E o que houve? O vírus resolveu dar uma voltinha por aí empoleirando-se em pessoas, multiplicando-se de uma pessoas a outra para ao final do passeio deixar uma conta pendurada nos cofres do mundo talvez da ordem de três ou quatro dezenas de trilhões de dólares.
As lideranças mundiais e todos nós mortais comuns estamos dizendo um ao outro: faça a sua parte para atravessarmos logo a crise. Acho que é mesmo assim a fazer, embora não imagine quantos de nós vamos faltar na contagem final.
Parte desse porquê se deve aos cientistas e governantes que não admitiram antes, bem antes, a possibilidade de um vírus assim tão poderoso voando por aí. Acabou vindo, isolou bilhões de pessoas entre paredes, desde mim até o papa; pintou, bordou, matou e continuará matando milhares de pessoas ao redor do mundo.
Vírus arrogante esse, veio exterminando de cima para baixo, castigando mais a velha culta e rica Europa e depois as Américas, Ásia, África, Oceania. Lutar contra ele acabou unindo todo o mundo, governantes, políticos e cientistas mundo afora se dizem em guerra contra o Coronavirus19.
Pode ser que, imagino que sim, referências reducionistas injustamente atribuídas a ele e à sua virulência, custe mais vidas, mais tempo, muito mais dinheiro. É tarde para negar que o vírus surpreendeu
E pode surpreender muito mais acaso o mundo não se prepare agora para uma possível terceira onda ainda mais virulenta, letal, do mesmo vírus ou que um ou dois anos mais adiante surja um novo vírus corona tão ou mais impiedoso que esse, apanhando os governos sem dinheiro, os sistemas de saúde destruídos completamente, e as pessoas todas com muito menos capacidade orgânica de reagir.   

sábado, março 21, 2020

ARREBATAMENTO!

Cesar Bernardo - 05 jan 2009. 

Um dia desses senti imensa saudade da minha irmã Yeda, falecida décadas atrás quando tinha, ainda, seis anos: era linda. Voltando para casa pela via Beira Rio, em Macapá, de repente, quando trafegava à altura da Escola Santa Inês, “estava” Yeda dentro do meu carro, não me olhava nem falava, não ria ou chorava. Parei o carro, fixei-a, chorei. Depois fui para casa, faltavam ainda dois dias para o natal de Jesus, em 2008.
Dias depois, horas antes do amanhecer ouvia o Hildon dizendo que Caxias, seu colega de apresentação do programa Acorda Cidade tinha estado na radio e “dado de cara” com o Arnaldo Araújo, radialista notável que ali trabalhara tantos anos, porém falecido.
Caxias teria se desestruturado por causa disso e, sem condições emocionais de apresentar o programa naquele dia deixou-o à responsabilidade exclusiva do amigo.
De certa forma ocorreu a Caxias o mesmo que a mim, no “encontro” com a minha irmã, num tipo de coisa que a mim impressiona mais que amedronta.
Semana passada – é hoje 5 de janeiro de 2009 – ouvi impressionante relato sobre arrebatamento, veio-me da parte do jornalista Reginaldo Borges a partir dos microfones da Radio 102.9, onde ele ancora o programa O Estado é Noticia, que dali diariamente sai para todo o Estado do Amapá.
Reginaldo dizia que viajava por uma estrada estadual e não avistava nada em movimento – nenhuma pessoa, pipa no ar, nenhum veículo, nenhum animal. Tocou para a cidade de Macapá, mas apenas para constatar que parecia não ter restado vida nas tantas ruas, avenidas e becos que tão bem conhecia por ter nascido nesse mesmo contexto urbano. Avistava restaurantes, panificadoras, bancos, postos de abastecimento de combustíveis, e tudo dava na mesma: visão do vazio, sem gente.
Ora, conhecedor que é de profecias narradas nos livros bíblicos - "Eis que vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados. Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados." (I Co. 15:51,52).
"Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." (I Tes. 4:16,17).
Reis 2, 11: "Ora, enquanto seguiam pela estrada conversando, de repente apareceu um carro de fogo com cavalos também de fogo, separando-os um do outro, e Elias subiu para o céu no turbilhão".
"A busca infrutífera certifica apenas que Elias não é mais deste mundo; seu destino é mistério que Eliseu não quer desvendado".
"Eu gostaria de receber uma porção dupla de teu espírito" (v. 9). Ao que lhe respondeu Elias: "Fizeste um pedido difícil. Mas se me vires ao ser arrebatado do teu lado terás o que pediste; se não me vires, não o terás" "O espírito de Elias repousou sobre Eliseu" -
Reginaldo, assim, se viu deixado dos seus semelhantes como que para prestar contas dos seus atos já no juízo final., imaginei a angustia que sentiu!
Não atino com razões que possam assistir as três situações aqui relatadas, não decifro que avisos, cobranças ou afirmações positivas possam estar contidas nas “visões” da Yeda e do Arnaldo Araújo, e de todas as pessoas “desaparecidas” das vistas do Reginaldo.
Ontem liguei para o Reginaldo para comentar sua narrativa e pedir-lhe que voltasse ao assunto oportunamente com microfones abertos para os milhares de pessoas que o escutam diariamente. É que, desconfio, são poucas ou pouquíssimas as pessoas dentre seus milhares de ouvintes que sabem ou ouviram falar de arrebatamento. Ele, Reginaldo, é um jornalista estudioso com muitas condições de esclarecer bem sobre esta profecia bíblica. Ouvindo-o pode ser que Caxias e eu entendamos melhor o que nos ocorreu.     

quinta-feira, março 19, 2020

MNEMÔNICA

Cesar Bernardo- mar20.

Os filhos têm e são incentivados, financiados e em alguns casos forçados à individualidade, quase isolamento. Primeiro na própria casa e concomitantemente, noutra escala, na própria vida. Defende-os completamente o ECA, a cultura, o ante bullying. A rua os ataca, unicamente.
É feliz e sente-se bem realizado e situado na vida o casal ou mãe ou pai que entrega ao filho o primeiro quinhão de sua herança tão logo desmame: o seu quarto.
Um orgulho dizer: “o meu filho tem um cantinho só seu”. Tanto faz que o rebento tenha tantos ou quantos anos. Nisso já está uma ida ou vinda do pêndulo da ilusão humana ocidental não paterna, não materna, não conjugal apenas. Cada qual no seu quadrado é questão de prosperidade.
Nesse seu cantinho a criança repousa e se aquece apenas de direitos, já é muito mais do que mais e não pode ser desrespeitada a qualquer hora por adultos sem que lhe batam à porta antes. Nunca contrariar a sua ou outra criança em seu “mundo” ou “espaço”, com atos e opiniões contrarias ao que ela espalhou pelo chão, pregou na parede, pendurou o que quis onde quis .... no seu latifúndio.
É direito da criança fazer ali o que bem queira ou não queira. Pode, inclusive, trancar-se nesse seu mundo para em outro abstrair-se indefinidamente em “pesquisas” e jogos eletrônicos em seu tablet ou smartfone.
É crime grave contra o direito dessas crianças alguém se meter nessa seara, assim como é obrigação paterna ou o que a substitua proporcionar-lhes um pacote de férias fora da área geográfica familiar.
Essa paradinha na vida dos pimpolhos deve ser longe do país, de preferencia nos Estados Unidos, sem a menor relação com o deserto do Arizona.... Disney, para começar e encurtar conversa.
Também faz parte da educação delas participar diretamente da reconciliação dos pais via troca de joias caríssimas e o indispensável dar-se um tempo em Paris, ilha de Malta, Vienna ou o que o valha. É para servir de exemplo e aprendizagem para as crianças que ainda vão crescer.
E não se diga que sejam costumes ultra modernos; não são. Estão muito lá atrás os anos de outros procedimentos que cederam lugar aos dias, usos e costumes atuais. Foram aqueles, pode-se dizer, longos anos, períodos da história humana quase que radicalmente opostos aos de agora.
Lá as crianças eram instruídas e treinadas para a vida em grupo, ouvir e confiar nos mais velhos, buscar e valorizar a vida livre de paredes e cercas, confiar e crer em Deus. Autodefesa. Nada de confiar a maquinas e algoritmos a sua defesa, suas decisões, suas escolhas, suas obrigações.
Aliás, é bom parar por aqui até que se saiba se não está nesse texto parte ou virgula que me remeta ao Código de Direito Civil por ofensa à dignidade da criança e do adolescente. Essa coisa de matar o tempo em leito de hospital pode dar em dose insuportável ao moribundo.  

   






quarta-feira, março 18, 2020

CORREDOR HOSPITALAR

Cesar Bernardo - março 2020 - HSLSC 
Curioso estar hospitalizado, o sujeito não se manda, convive com a certeza de que não foi devidamente atendido, não houve barulho do mundo externo, não sabe nada do que está ocorrendo e apesar disso enche-se de gratidão por tudo e todos que não o deixaram morrer.
Inegável que a televisão e principalmente o telefone celular anulam a sensação de vida escassa que antes passeia nos corredores do hospital. Como quem não quer nada entram, tomam espaço num cantinho do leito do paciente, daí a pouco se refestelam no íntimo espiritual já vulnerável de quem não podia mais reagir a tempo de rejeitar a depressão.
Nesses termos a tecnologia melhorou muito o ambiente hospitalar, noutros piorou na medida exata da velha toada das partidas dobradas. É que para o paciente conectado não há segredos de si mesmo, nem questionamento da qualidade do serviço médico ou da segurança sanitária do hospital.   
Importa mesmo que auxiliado pelo Google pelo menos tome parte nos prognósticos, posologias e profilaxias até sugerindo e ensinando, no mínimo corroborando tais encargos médicos e paramédicos com postagens, curtidas, visualizações e comentários de seus seguidores nas redes sociais.
Esse “novo” mundo hospitalar não cede lugar ao devido repouso do paciente. Quanto mais curtido, visualizado e comentado menos dorme, menos se concentra na auto recuperação, recebe mais visitas, menos interage com o “ecossistema” hospitalar. 
Tal sobreposição ao repouso incorpora a visão do dominador força a aceitação, que atua para intervir, modificar. É uma força poderosa que o faz desconsiderar o risco que a permanência prolongada em internação hospitalar sempre representou.
Por esse processo, diga-se, que se rebate para milhares de pessoas em trânsito nos hospitais, pendura-se na fachada dessas casas de saúde um crachá onde se lê as seguintes palavras de advertência: Infecção Hospitalar.
Já de meu turno, useiro e vezeiro de internações, gosto da solidão do hospital. Sei que flutuo nessa atmosfera porque estou doente muito mais que solitário. Nesse ambiente e nessas condições consigo administrar melhor minhas utopias de vida eternamente jovem, a voz interior soa mais clara: voce também é mortal.
Porém, há um ganho em tudo isso que me enriquece sem sobressaltos, qual seja, consigo voltar no tempo batendo minhas próprias asas. Então volto: Infância e adolescência vêm primeiro que o tempo, flor, sol, lua, chuva, tudo parecendo inusitado no mundo. Passos, abraços, ruas, encontros desfeitos no vento, mesmo assim tudo importa, nada importa mesmo junto.
Assim, jovem, ao tempo em que já quase tudo importa, nada é primeiro, nem esperança nem sonho ou silêncio. O sol e a lua brilham mais, encantam além dessa porta, uma profusão de juventude, nuvens brancas, céu azul intenso.
Em me vendo apaixonado, vivo noites de espera - tempo encantador, tudo primeiro outra vez, descoberta que embevece e conforta., tempo de amor, coração a dois, porém, crepúsculo de dor. Só depois dos tempos chego ao tempo d’ouro do amor, porém, cadê sol, lua, chuva, música, luz, flor... nada mais é agora. É na plenitude desses tempos que o hospital me parece agradável.
Contudo, muito me contentaria se agora mesmo comunicassem o meu auto de alta. Ouço bater à porta: Quem bate? É o Coronavirus19! Não adiante bater, não deixo voce entrar

domingo, março 08, 2020

MIRE-SE NAS MULHERES CELTAS

O povo Celta (designação dada a um conjunto de povos organizados em tribos e ligado a um mesmo tronco linguístico) viveu há milênios atrás e se espalhou a partir do IIº milênio a.C, estabelecendo-se mais significativamente na Escócia, França, Portugal, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Ilha de Man, Cornuália, País de Gales, Bélgica, Irlanda.
A unidade básica da sua organização social era o clã, composto por famílias aparentadas que partilhavam um núcleo de terras agrícolas, mas que mantinham a posse individual do gado que apascentavam.
Sua organização política era dividida em três classes: o rei e os nobres, os homens livres e os servos, artesãos, refugiados e escravos.  Este último grupo não possuía direitos políticos. A esta estrutura secular, agregavam-se os sacerdotes (druidas), bardos e ovados, todos com grande influência sobre a sociedade.
A divindade máxima era feminina, a Deusa-Mãe, cuja manifestação era a própria natureza. Formavam uma sociedade politeísta (crença em deuses).
CODIGO DE HONRA DAS MULHERES CELTAS:
Ama teu homem e segue-o, mas somente se ambos representarem um para o outro o que a Deusa Mãe ensinou: Amor, companheirismo e amizade.

Jamais permita que algum homem te escravize. Nasceste livre para amar, e não para ser escrava.

Jamais permita que o teu coração sofra em nome do amor. Amar é um ato de felicidade, por quê sofrer?

Jamais permita que teus olhos derramem lágrimas por alguém que nunca te fará sorrir.

Jamais permita que o uso do teu próprio corpo seja cerceado. O corpo é a morada do espírito, por quê mantê-lo aprisionado?

Jamais permita que o teu nome seja pronunciado em vão por um homem cujo nome tu nem sequer sabe.

Jamais permita que o teu tempo seja desperdiçado com alguém que nunca terá tempo para ti.

Jamais permita ouvir gritos em teus ouvidos. O Amor é o único que pode falar mais alto.

Jamais permita que paixões desenfreadas te transportem de um mundo real para outro que nunca existiu.

Jamais permita que outros sonhos se misturem com os teus, fazendo-os virar um grande pesadelo.

Jamais acredite que alguém possa voltar quando nunca esteve presente.

Jamais permita que teu útero gere um filho que nunca terá um pai.


Jamais permita viver na dependência de um homem como se tivesse nascida inválida.

Jamais te ponha linda e maravilhosa a fim de esperar por um homem que não tem olhos para te admirar.

Jamais permita que teus pés caminhem em direção a um homem que só vive fugindo de ti.

Jamais permita que a dor, a tristeza, a solidão, o ódio, o ressentimento, o ciúme, o remorso e tudo aquilo que possa tirar o brilho dos teus olhos te dominem, fazendo arrefecer a força que existe em ti.

E, sobretudo, jamais permita que tu mesma perca a dignidade de ser mulher.






sexta-feira, março 06, 2020

JUQUINHA E O MEU MUNDINHO.

César Bernardo - mar/2020
Resolvi sair do meu mundinho, hoje em dia pouco mais ou menos que meu quarto, vez em quando hospital, laboratórios médicos, supermercado. E não foi só por isso, minha fonte disparou a senha MCP/DF; era preciso conferir.
Então fui a duas ou três bancas de jornais à espreita do que poderia ser uma imposição difícil de se rejeitar. Com certa ansiedade e muita discrição verifiquei não haver manchetes nos jornais confirmando meu nome para o cargo de Subministro da Economia.
Teria ocorrido veto ao meu nome não se sabe ainda por iniciativa de quem, do Presidente ou do Ministro da Economia ou de ambos. Dessa vez, confesso, bateu a frustração. Não que fossem favas contadas, sei que o Planalto sabia da minha opinião crítica sobre as regalias criadas para o Juquinha. Só não sabia que fosse isso razão para o veto.
Juquinha é o cachorro do ex-governador Sergio Cabral, do Rio de Janeiro. Não devo afirmar se Juquinha era dele ou da Primeira Dama Adriana Anselmo, mais de um que de outro ou igualmente de ambos. Seria uma leviandade perante a imagem de casal perfeito que Cabral e Adriana passavam, sempre lado a lado, presenteando-se regiamente um ao outro. Mereciam um cachorro! Por onde andará o mimado Juquinha?
Nunca tive nada contra o Juquinha, se dormia em mesma cama que o casal, se comia em mesma mesa, se dividia a banheira com eles. Nunca me importei com isso, nem mesmo com a coleira de platina que trazia ao pescoço, se autêntica ou proveniente de feiras paraguaias.
Agora, queiram me desculpar, inclusive o Juquinha que é o menos culpado, mas nunca o suportei engalfinhado com a babá, refestelado num helicóptero público só para ele. É fechar os olhos e vê-lo ainda acenando com a pata através do vidro impecavelmente transparente do aparelho.
Não fosse a sabedoria divina, e providência também, há muito que o teria fulminado com flechas de indignação lançadas pelos meus olhos, e o derrubado de um daqueles voos debochados. Salvou-o a assertiva de Deus, que nos diz claramente: “Não me alcançarás se rezardes sendo maus, pedirdes maldosamente, quiserdes coisas más”.   
Então, ao que parece e deduzo, foi esse malquerer ao Juquinha causa de queda e descarte do meu nome lá no Planalto, já que foi e se mantém aberta a vaga no lugar do Sub Monsueto, posto em gordura quente por ter se contraposto ao ministro Paulo Guedes na questão do “pibinho” 2019.
Sejamos claros, é tempo! Não foi apenas maus pensamentos contra o Juquinha nem a sugestão de que sextando servissem a ele uma cervejinha Novohorizontina, ou que semestralmente dessem ao peludo uma semana de descanso lá na China, não em sítios onde ainda se aprecia o consumo da carne de cachorro..... em Wuhan.
O impeditivo mor, mesmo, foi a pregação que andei fazendo afirmando que empossado trabalharia para incluir como caput em uma das reformas políticas à vista: “Tomando-se por base as 134 horas de voo gratuito do Juquinha em aeronave pública exclusiva, fica o Erário na obrigação inalienável de proporcionar pelo hora e meia de voo em igual condições a cada criança nascida em solo carioca, mediante apresentação de Certidão de Nascimento, dada e passada em cartório oficial”.
Foi esse o tropeço e causa do meu retorno ao meu mundinho.

segunda-feira, fevereiro 17, 2020

MÃES DOWN

Em algum tempo alguém disse, e muito bem, que “...uma mãe, afinal, é uma mãe., quando nasce o filho, quando cuida do filho, quando o filho adoece ou quando não está doente; quando vê com lágrimas nos olhos a entrada no primeiro dia da escola; quando o defende com garra por motivos justos ou injustos; quando luta incondicionalmente e custa a admitir o erro do filho ou salta de alegria com seus acertos; pobre ou rica; instruída ou não, as mães em um determinado momento ficam iguais, são fãs irrequietas com o sucesso dos filhos, por mais prosaica que seja a homenagem, para elas um pequeno pedaço de glória é um motivo de comemoração, palmas, sorrisos...”.
As mães são isso mesmo, mas podem ser mais, como me ocorre admitir mediante três “crianças” que conheço de duas mães que há tantos anos avisto e não conheço tanto assim. As aspas aí acima colocam entre elas pessoas portadoras de Síndrome se Dow, sobre as quais tenho meus olhos postos há muitos anos.
Pela medida cronológica comum a mim e elas, não são mais crianças. A julgar pelo aspecto fenotípico de suas mães, trinta e cinco, quarenta anos pode ser a idade temporal dessas três pessoas Dow.
Duas delas revi hoje na igreja e de tão crianças que se apresentam até divertem o nosso lado lúdico, naturalmente. Outra, a mais velha entre elas, já não vejo de uns três anos para cá. Dito isso, sobre elas não preciso dizer mais – é sobre suas mães que quero oferecer essas maltraçadaslinhas.
Essas parecem a mim mais mães que as demais em nível e em linha: ricas ou pobres, instruídas ao não em escolas superiores, pele dessa ou daquela cor, urbanas ou rurais sãs ou mais ou menos doentes, isso ou aquilo, são mais mães.
Por isso mesmo terei o mais cuidado que possa com minhas palavras porque tudo o mais suportaria, menos ofende-las, arranha-las um mínimo que seja. Pelos filhos que têm, pela angustia que vivem.
O caso de ontem na igreja era de duas irmãs Dow. Exigiram muito de sua mãe de sorte a não interferirem no andamento da Missa e concentração dos fiéis ao redor. Queriam atenção, queriam brincar com sinais, com toques, com risos.
A mãe controlava-as com calma, paciência, tolerância e energia. Em dado momento socorreu-se com outra mãe pedindo que passasse um banco a trás, se assentasse noutra extremidade e com isso ajudasse-a a conter as crianças entre elas.
No olhar daquela mãe só se via amor por aquelas filhas. O mesmo amor que sempre vi nos olhos da mãe da outra criança Dow, que já não vejo há anos. Mãe não, disse que não podia arranha-las: super mães. Ambas, no entanto, com uma falha talvez não de suas responsabilidades: precocemente envelhecidas.
A Síndrome de Dow não é doença nem defeito, apenas uma ocorrência trissômica causada por um cromossomo extra no par 21, assim denominada em memória do Dr. John Langdon Down, o médico britânico que descreveu integralmente a síndrome em 1866. Mas, é causa de forte preconceito, talvez causa também do envelhecimento precoce e surgimento dos cabelos brancos que as valorosas mães Dow normalmente exibem.

segunda-feira, janeiro 27, 2020

ACORDA MENINA !!!!!


A comunicação hoje é fenomenal embora não se contraponha aos meus 68 amos de vida: não surpreende, mas assusta ou incomoda.
Hoje foi dia de mídia global sobre a jornalista Ana Maria Braga, apresentadora do MAIS VOCE da Tv Globo por fazer o auto anúncio de um novo câncer de pulmão cobrando mais de si e dos médicos do que os outros dois anteriores, que tratou e venceu. No dia de hoje ela foi mais celebre do que seu papagaio Louro José – foi literalmente não falado, o que é péssimo para a espécie.
A repercussão foi grande, e tanto que em mim deixou impregnada a impressão quase literal de que praticamente já ao fim desse dia (já são 22 horas) a Ana Maria continua na mesma entrevista coletiva iniciada no meio da manhã.
E nisso consiste a força da comunicação nos dias de hoje. Qualquer tecla que aperte em meu computador, qualquer toque na tela do telefone, traz aos meus olhos e quase ao tato dos meus dedos a própria Ana Maria Braga. Arrisco-me a dizer que se não concorresse ela a noticia das mortes trágicas das nove pessoas na queda do helicóptero do atleta global Kobe Bryant, inclusive ele e sua filha, nada mais seria noticia que não fosse o auto anúncio de novo câncer no pulmão ameaçando seriamente a vida da celebra Ana Maria Braga.
Gosto dela e creio que todos os outros cancerosos do Brasil também. Queiramos ou não emana dela, sim, uma força que nos ajuda na luta diária contra o câncer. Muitas vezes quase vencido aqui em meu quarto voltei à lida com o falatório dela: “Acorda menino.....”. Gosto igualmente daquele papagaio desajeitado, Louro José. Dos bolos e doces dificilmente um deles me sensibilizou.  
Em todas as vezes que fui animado pela energia da colega Ana Maria outra coisa não pude imaginar que não fosse o poder da morte sobre nós humanos – sobre os papagaios, não sei.
Não lutamos contra a doença, mas contra a morte. Sofremos o quanto nem suportamos apenas porque sabemos da infalibilidade da morte e mesmo assim, iludidos, queremos vencê-la. É cada um de nós oferecendo esforços ao grande objetivo da humanidade: vencer a morte.
Para mim bastam a imagem e a mensagem da Ana Maria que a imprensa hoje veloz, eficiente, bem ilustrada oferece animando-nos à vida apesar dos rigores da doença: não dá para vencer a morte nem enganá-la, mas dá sim para empurra-la um pouco mais para adiante.
Isso Deus concederá a ela e tomara que a mim também.  

César Bernardo de Souza - 27/jan/2020.