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segunda-feira, maio 18, 2020

COVIL DA PANDEMIA COVID19


Tenho pensado muito nos esforços que fiz para que meu nome e eu tivéssemos algum valor, instintivamente, por obediência ou iniciativa própria fui crendo que construía assim um caminho que ao fim me fizesse chegar a um certo nível de importância pelo menos para meus familiares, especialmente meus filhos. 
Confesso que não foi tão penoso percorrer esse caminho ao longo da vida, embora não tenha sido simples, fácil e divertido no seu trajeto mais comprido. Pode ser que tenha errado em considerar certo e bom apenas o que me satisfazia, destacava, prestigiava e me colocava frente às pessoas e ambientes de convivência como alguém útil, necessário até.
 
Mais ou menos assim fui me construindo e me dispondo para as pessoas para ser ajudado e, também, para ajudar. Olhando para trás dá para ver que essa empatia me foi bastante favorável. E pode ser que disso me tenha envaidecido além da medida. E pode também que a própria vida me tenha negado oportunidades para me enxergar melhor nesse contexto.
Correram os anos e com eles chegamos ao tempo da pandemia19, trágica experiência para essa humanidade a que pertenço há sessenta e oito anos. Quanto e sobre ela nunca e nada aprendi, pensando bem quase nem ouvi essa palavra enquanto a escola me instruía. Ao prêmio de um milhão de reais não poderia citar o nome de um único professor(a) que alguma vez a tenha pronunciado em minha presença. Para ser mais conciso: nem em botequins. 
De repente estamos todos no meio dela e em meio a ela já nos curvamos conforme queira nos machucar com seus mais de dez dedos, cada qual com um nome: doença, dor, padecimento, morte, supressão de identidade, negação de histórias de vida, falta de leito hospitalar e vaga nos cemitérios, ausência de velório e acompanhamento, desemprego, corte de salário, fome, desobediência civil, estupidez política e administrativa....
 
Pois bem, daqui ao cabeçalho desse texto está o que me diminui, amedronta e decepciona: supressão de identidade. É tanto que há consenso quando no grupo que ainda me resta integrar ao nos referirmos a alguns grandes amigos recém falecidos e sobre eles concordamos: “ainda bem que morreu antes de ver seus valores destruídos, sua história apagada, seu desaparecimento sem pompas e circunstancias”. 
Não valemos nada, de minha parte constato que de nada serve os cuidados que tive para com minha vida e meu nome. De uns dias para cá ouço dizer como antes ouvia sobre cobras e lagartos: fulano morreu anteontem, cicrano morreu ontem, beltrano mal acabou de morrer e já está enterrado. Onde? Vai saber!.?  





 


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