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quinta-feira, junho 07, 2018

A REVOLUÇÃO DOS MUSEUS ...


O Amapá está mudando para melhor, a população cresce rapidamente, os fatos tomam grandes espaços na imprensa local de forma até surpreendente, como por exemplo, o sinistro que ocorreu lá no garimpo do Lourenço, tão lamentável quanto ao que está a ocorrer com os funcionários públicos, cotados agora para a dispensa do emprego determinada pelo Sr. Bresser nesses próximos três anos.

Mas o que importa dizer é que o Amapá segue em frente, muito embora de costas para a sua memória. Bom e bonito seria se pudéssemos hoje sair de casa para cumprir um roteiro cultural que ao final nos permitisse repassar em um dia toda a história do Amapá. Isso seria possível se tivéssemos aqui em Macapá museus, muitos museus, um ao lado do outro, enchendo um ou dois quarteirões e funcionando vinte e quatro horas por dia.  Se assim fosse, nos seria possível começar a viagem pelo Museu da Imagem e do Som, onde veríamos pedaços importantes da nossa historia e ouviríamos a fala dos nossos lideres celebrando acordos mediante os quais teria surgido o Amapá de hoje. Seria muito bom ver e ouvir o Sr. Janary Nunes “começando” o Amapá.    
Continuaríamos nossa viagem indo ao Museu do Homem para conhecermos a nossa historia antropológica: a passagem do homem por qualquer lugar é sempre marcada pelos hábitos e costumes, bons ou ruins.
Depois, uma passadinha pelo Museu do Garimpeiro para conhecermos a saga desses homens e mulheres que se embrenham pelos rios e matas buscando o ouro, plantando vilas, fazendo a vida acontecer nos recantos mais escondidos da nossa terra. A seguir, uma proveitosa chegadinha ao Museu do Seringueiro com o propósito de vermos, tocarmos e aprendermos com os nossos “chico mendes”.
Uma pausa para um lanche à base de iguarias regionais, na lanchonete bem ali entre o Museu do Índio e do Pescador, outras perolas da antropologia amapaense. Tudo sobre os índios e pescadores estaria lá, ao alcance dos estudantes, dos visitantes locais, dos turistas internacionais, dos próprios índios, principalmente os mais jovens, que teriam nos museus um importante referencial da sua cultura dos tempos idos, quase imemoriais.
Mais adiante, uns metros, estaria o Museu do Curiau mostrando através de suas peças colossais os dias ancestrais da gente africana dali, até hoje uma das mais importantes atrações culturais da nossa terra. Esse museu haveria de ser muito especial, com recepcionistas e cicerones saídos da própria vila, mostrando e falando orgulhosamente das coisas ficadas dos seus avós.
Bem ao lado encontraríamos o belíssimo Museu do Pescador, assim identificado: “Aqui, ao sair para pescar, enfrenta-se o rio-mar”.
E o Museu da Policia Militar? Uma lindeza, falando-nos da época da Guarda Territorial através das armas, fardas, medalhas, fotografias, documentos, lutas e mais lutas em favor da segurança do povo.
Que viagem, heim!? O dia já estaria quase findo e ainda nem teríamos chegado ao Museu de Arte, justo ele a exibir telas, esculturas, criações em barro e manganês, entalhes em madeira, os belíssimos adornos dos mestres-salas e porta-bandeiras das nossas escolas de samba e os destacados adereços que um dia enfeitaram a Avenida FAB nos memoráveis desfiles cívicos em 13 de setembro, alusivos à criação do Território Federal do Amapá.. Ao lado ou um pouco adiante teríamos o expressivo Museu de Artes Sacras....fantástico.
Teríamos ainda a visitar o Museu da Imprensa, o do Manganês, o de Historia Natural, o do Ribeirinho, o de Plantas Medicinais, o Histórico, o do Castanheiro, o do Vaqueiro, o do Madeira, o Naval, o da Construção Civil, o do Comercio, o Sacro, até o da Estrada de Ferro do Amapá teríamos.
Teríamos ou teremos, depende de sonharmos juntos e trabalharmos obstinadamente para tê-los. Quando os tivermos, trarei aqui o meu velho e analfabeto pai para fazê-lo conhecer em um ou dois dias a riquíssima historia (cultural) do Amapá. Papai ensinou que “tudo que é importante tem uma história interessante”.
Os órgãos de administração cultural do Estado e dos Municípios poderiam ou deveriam estar pensando nisso com alguma praticidade, porque é penoso ver o tempo consumindo as coisas e os fatos verdadeiramente importantes para nós, levando consigo a nossa melhor historia, alargando os frisos do ralo da insensibilidade governamental.
Abram-se os museus hoje, confiram o sentimento de autoestima e cidadania das pessoas logo a seguir: todos perceberemos que já perdemos um tempo precioso.         


Macapá, quarta feira – 29/12/1995.