Sou
dos que defendem os políticos, não os que se valem dos mandatos e mesmo da
política para roubalheiras, negociatas, tráfico de influência, etc. Já houve um
tempo em que a carteirada tinha, praticamente, força de lei - mais do que o
“sabe com quem está falando”? Ainda que em menor proporção, esse tipo de coisa
ainda funciona apesar de mais e maior dificuldade de disfarçar, negar, esconder
– o celular vigia e enuncia tudo.
O
caso do juiz, no Rio de Janeiro, primeiro carteirando e depois mostrando com
quem a Agente de Transito estava falando talvez concorra para o fim desses
arbítrios no Brasil: ele, o juiz “deus” não apresentou a habilitação para
dirigir carros; ela, a Agente de Transito não cometeu erro algum cobrando a
habilitação e afirmando que ele não era deus. Acabou condenada a pagar
indenização ao juiz, dessa forma confirmado pelo “sistema” como deus.
Também
sou daqueles que entendem que o proceder político não demanda ou se refere
apenas àqueles que disputaram e conquistaram um mandato eletivo, e no Brasil o
exerce sob execração pública. A composição dos tribunais também é política,
embora devesse fundamentar-se mais no notório saber, na ficha limpa, etc. Os
comandos militares, dos ministérios, das estatais, das autarquias, também não
se estabelecem sem, pelo menos, o acordo político. Via de regra o julgamento popular desses entes políticos entra na descendente quando a alguns deles se atribui ganhos excessivos, manipulação de poder, malversação de todas as ordens, vantagens indevidas, remunerações várias até legais, mas imorais.
Mas, viva o poeta: “a mão que afaga é a mesma que apedreja”. A crítica popular não refuta ou não condena outros ganhos legais, imorais ou no mínimo escandalosos fora do ambiente público administrativo.
Por
exemplo? Artistas em profusão estão aí “trabalhando” algumas horas de alguns
dias em troca de milhões de reais por mês. Dão de si e em troca lições de
liberdade de expressão (ainda bem), talento e cultura em profusão. Não se
discute que entregam a muitos o benefício desse trabalho.
Mas,
para mim, é mais imediato para o povo o bom trabalho político. Não é preciso citar nomes de artistas e desportistas e executivos regiamente remunerados pelos seus serviços (numericamente são muito mais que os bons políticos), mas para o caso do trabalho político produtivo vou citar José Sarney.
Cito-o
por sabe-lo muito criticado e até odiado por milhões de brasileiros, muitas
vezes à revelia do usufruto de benefícios decorrentes de algum trabalho
político que ele realizou para a coletividade, a saber: Quotas para minorias
negras. Lei Sarney para cultura (trocaram para Lei Rouanet). Vale-alimentação.
Vale-transporte.
Impenhorabilidade da casa própria (que não pode mais ser
tomada por dívida). Dispensa de IPI para aquisição do automóvel do taxista,
máquina da costureira, computador de trabalho... Farmácia básica. Aposentadoria do trabalhador
rural. Cota a deficiente. Extensão dos benefícios da previdência ao trabalhador
do campo. Décimo terceiro salário para o funcionalismo público civil e militar.
Correção do salário mínimo acima da inflação. Legalização dos partidos tidos
como clandestinos. Anistia aos líderes sindicais. Liberdade sindical. Programa
do leite (considerado pela Unesco o melhor combate à fome do mundo). Acesso à
energia no interior (atual Luz para Todos). Seguro desemprego. Distribuição
gratuita do coquetel que detém a Aids (considerado o melhor programa do mundo
contra essa terrível epidemia).
É
muito, dirão uns, pouco ou nada dirão outros conforme seus apanhados sobre a
vida política, e até particular, de José Sarney. Mas, aí estão fatos!
De
trinta anos para cá o Brasil voltou a ser espaço democrático para a livre
expressão e manifestação – diz-se e pensa-se o que quer. Talvez não em mesma
medida, mas o país vai deixando de ser lugar fértil da dissimulação na
política, e fora dela.
Segundo
o escritor americano Nathaniel Hawthorne, ninguém pode, por muito tempo, ter um
rosto para si mesmo e outro para a multidão sem ao final confundir qual deles é
o verdadeiro.
Vivi
38 anos da minha vida filiado a um único partido político, militando
pragmaticamente nesse partido e na política. Porém, antes, durante e depois
nunca deixei de cuidar do meu quinhão cultural e intelectual que me ajudam a
compreender o que podem realizar as celebridades nacionais. Todas podem e devem dar mais para o país, na política, nas artes, nos negócios, etc, como fizeram e fazem alguns nos seus misteres.