Translate

terça-feira, março 21, 2017

AMORES INEXISTENTES....

De uns tempos para cá dei de me submeter à lembranças afáveis do passado, do tempo em que, jovem ainda sonhava amar qualquer mulher que por um instante ou tempo deitara os olhos em mim com aparente meiguice.
Tanto eu quanto todos os jovens rapazes daquela pequena cidade nos demos a esse enlevo e neste embalo vivemos dias felizes sem o menor incomodo às mulheres que “amávamos” sem que elas soubessem do nosso amor, uma delas que fosse. Primas, professoras, colegas de escola, vizinhas, de repente eram a nossa “paixão” – muitas vezes em troca de simples corriqueiro, bom dia.
Assim, felizes para sempre, construímos cercas ao redor de nós mesmos quanto a um dia qualquer ter que prestar contas ao próprio passado, como me acontece tão pesadamente hoje.
Décadas depois desse tempo feliz – quando amávamos quem queríamos sem nenhuma necessidade de reciproca – o destino trás de volta ao meu cotidiano essas mulheres, meus amores de ontem.
A internet, o face book quase que as coloca em meu quarto como que a compensar o desconhecimento com que elas passaram e passam alheias pelos meus sentimentos da juventude.
Amei algumas delas e mesmo hoje, décadas após, sem que  qualquer delas desconfie, não me arrisco a contar detalhadamente a história e citar nomes. E que sorte tem elas ignorando que as amei naquele tempo!
Todas se casaram ou se deram muito bem na vida, o que jamais teriam conseguido comigo. Não fui prospero na vida, não consegui bons negócios, nem bons empregos, nem poder politico – fiz-me à poesia, à boemia, à vidinha repetitiva, entregue à solidão, a alguns ou muitos desperdícios, a arrependimentos, a culpas, ao auto exilio.
Continuo amante da lua, do sereno, dos bares, dos cinemas, dos teatros, da literatura e dos sonhos – ainda quero dar a volta ao mundo em pelo menos trezentos dias.    
Reencontro algumas dessas mulheres amadas de ontem e lá está uma rainha do lar dentro de uma soberba mansão, outra como executiva de multinacional, outra dona de um salário até suspeito, e quase todas casadas com homens de negócios....quem diria?
A decência que fez da minha vida um jeito fácil de viver me faz desejar-lhes que estejam e vivam felizes, principalmente as que conseguiram esses extraordinários maridos.
É certo que nesta vida nos dias de hoje nada se cria, segundo essa máxima incontestável no campo dos sentimentos juvenis é provável que os filhos dessas mulheres em idade de se apaixonar estejam repetindo a nós daquele tempo. É que o amor se constrói com o tempo e o tempo destrói o amor, mas nada pode contra a paixão.
Paixão não passa porque é a forma mais feliz de se iniciar na liberdade de sonhar.