César Bernardo – abril/21
Durante longos anos da
minha vida escrevi cartas para amigos, especialmente para minha mãe. Era o meio
de que dispunha para diminuir distancias e dividir a nova vida que decidi viver
tão longe de casa, em Macapá, Território Federal. E claro que estava nisso
um tanto de expectativa exagerada, solidão e medo do desconhecido, do fracasso
e do muito que pesaria a desistência.
Todo início de vida é difícil para
qualquer pessoa, para mim tanto mais visto que, visto que o Amapá da década de
70 carecia de tudo, se socorria dos aviões de carreira para tudo, até para
internar os tomates e pimentões do consumo geral. Foi uma época em que o
dinheiro do salário não era suficiente para programar viagem de retorno em
razão de férias e feriados, como muito depois veio de ocorrer anualmente. Logo eu já tinha uma
família, esposa e filho, razão maior de minha permanência no Amapá. Só depois
de seis anos pude tomar um avião de Macapá ao Rio de Janeiro e daí a Minas
Gerais, à saudosa Volta Grande. Um grande alivio voltar
para rever os meus, dizer-lhes e mostrar-me como me encontrava, quem sabe ouvir
de algumas pessoas sobre as cartas que lhe havia enviado, até ali sem resposta. Quando fui de casa papai
disse que me emprestava seu nome, portanto também era uma oportunidade de lhe
prestar contas de como o estava usando. Também era um retorno de
angustia ao não reencontrar certas pessoas tão especiais, porque se foram da
cidade, casaram-se, enriqueceram ou morreram. Certo mesmo é que por
muito tempo ainda continuei escrevendo cartas, recebendo algumas até que veio o
fax. Já um pouco mais folgado com o dinheiro mensal comprei um aparelho para
meu uso. Por causa da época e evolução por ele trazida o habito de escrever
cartas foi diminuindo de necessidade. Bastante que alguém conhecido
na cidade de destino tivesse receptor para que o fax substituísse as mal
traçadas linhas. De minha parte aumentei bastante os artigos que escrevia para
jornais (Ana Express - Do Dia – Diário do Amapá – Tabloide – Da Cidade – A
Gazeta – O Liberal....) de sorte que fizesse as pessoas saberem como eu estava
pelos escritos publicados, muitas vezes dando noticias minhas nas entrelinhas,
com uso de palavras chaves aplicadas aos textos. Ao dizer, por exemplo,
“tudo vai bem, cresce depressa...”, dizia o suficiente para meus familiares que
por acaso lessem meus artigos nos jornais. Não lendo não podiam fazer cobranças
porque a mensagem tinha sido publicada. Depois veio a internet, a
telefonia móvel, o crescimento das redes sociais substituindo e sufocando a Orkut...
escrever carta para quê? Mas em meio a essa
evolução houve a remanescência da mãe e duas amigas, uma delas muito especial
que ainda se comunicava comigo com cartas espaçadas entre si, porém, cartas
espetaculares, bem escritas. Foram e estão guardadas, de vez em quando
relidas., algumas das quais parecendo cartas de anteontem, atualíssimas. Veio então as modernas
redes sociais e o telefone celular nas mãos de cada pessoa, às vezes dois ou
mais. Aderi ao facebook, gostei e me afeiçoei à ferramenta tecnológica, através
da qual “recuperei” velhos e bons amigos e amigas de àquele tempo. Postagens de cá e de lá e
até mensagens expandidas via canal de recados, o Messenger me proporcionaram a
satisfação de voltar a interagir com essas pessoas, acrescendo que até posso
vê-las. Tudo uma enorme inovação
na vida de todos nós, todavia não raro um voo de pombo correio supera a
velocidade de internet disponível onde vivo.