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sexta-feira, maio 29, 2020

UM É SORTE ,,,,, OS DEMAIS ......

César Bernardo - maio/2020
As falas diárias do presidente Bolsonaro são inveteradas.... reticências, porém, nunca o nada levando a lugar nenhum. Os que têm o costume do palavrão como pigarro ou virgula podem substituir os pontinhos com a facilidade que oferece o largo espectro vocabular. Ele se anula quando fala, se auto asfixia apertando demais o nó da gravata. 
Mas é um homem de sorte, tem muita gente que o conhecia bem antes ou o conhece melhor agora e mesmo assim o compra. O novo Bolsonaro bem que poderia ganhar na imprensa que ele tanto ofende a similaridade na identificação como o que se faz e porque se faz com o Coronavirus. Não para ofendê-lo, claro, afinal é o presidente de todos os brasileiros, mas para explica-lo com pouquíssimas palavras.
Diz-se novocoronavirus19 justamente para evitar maiores explicações sobre os tantos outros antes identificados, todos perigosos de alguma forma. O sub família Orthocoronavirinae da família Coronaviridae tem seu rabinho preso com morcego, boi, cavalo, alpaca, cobra, camelo, humanos – um vírus corona diferente para cada um. 
Analogamente se o jornalismo profissional cismasse em se referir ao presidente como o novo Bolsonaro apenas o estaria descolando do Bolsonaro político que passou vinte e oito anos como deputado federal, derivando de si um Bolsonaro vereador, outro Bolsonaro deputado federal, outro Bolsonaro senador e ele próprio Bolsonaro presidente. Todos políticos, porém, diferentes entre si.
Diz a literatura jornalística que durante seus 28 anos de mandato na Câmara dos Deputados o Bolsonaro Jair teria apresentado 170 (cento e setenta) projetos de lei, feito que poderia tê-lo distinguido muito, a ponto de credencia-lo para a Presidência da República. Porém, apenas dois desses projetos foram aprovados, os restantes cento e sessenta e oito foram recusados por falta de qualidade.
Seletivamente os projetos do deputado federal Jair Bolsonaro tinham predileção para pautas quase que exclusivamente referentes aos militares, segurança pública, símbolos nacionais. Um de seus apenas dois projetos aprovados em vinte e oito anos de mandato dizia respeito a autorização geral para o uso terapêutico da Fhosfhoetanolamina sintética, a chamada “pílula do câncer”. 
Vê-se, assim, que há similaridade com o Jair Bolsonaro presidente vez que não esconde, hoje, a obsessão por outra pílula milagrosa, a Cloroquina. Para ser justo diga-se que o novo Bolsonaro melhorou, pois defende com o mesmo vigor não uma, mas duas pílulas milagrosas: Cloroquina e Hidroxicloroquina.  
Ontem mesmo dizia a uma amiga que sentiu necessidade de externar seu sentimento de gratidão em relação ao que é hoje, que é enigmático o destino de cada um de nós. O de Bolsonaro é também emblemático. Um dia quis porque quis que a nação tivesse o nome do deputado Enéas Carneiro inscrito no livro dos Heróis da Pátria, por sua oposição ao comunismo. Hoje o Bolsonaro presidente mandou distribuir medalhas, transformou em Grande Oficial da Ordem do Mérito Naval os doutores Abraham Weintraub, Augusto Aras, Marcelo Álvaro Antônio, Jorge Oliveira, Hélio Lopes e Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Se sabem nadar ou para onde remam suas canoas não disse. 
Noutro momento mais adiante um pouco o Bolsonaro deputado quis a revogação da lei que obrigava todos os hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) a oferecer às vítimas da violência sexual um atendimento emergencial, integral e multidisciplinar para vítimas de estupro. Entendia que a medida endossava o compromisso do governo Dilma Rousseff com a legalização do aborto.
O destino, esse que o fogo determinou ao novo mundo, colocou uma fogueira acesa no caminho do ex deputado e atual presidente da República Jair Bolsonaro e deixou perto das chamas um tantão irremovível de combustíveis inflamáveis, a saber: filhos políticos com mandato, SUS e caneta com tinta para escolher e emplacar seus heróis da pátria. 
Ontem mesmo se referiu a um deles como “potencialmente” qualificado para uma vaga no STF: o Dr. Aras.  Sorte dele que já é augusto desde os primeiros dias de vida.


quinta-feira, maio 28, 2020

NADA DE COMPARAÇÃO ...

César Bernardo - maio/2020
Durante anos quase fui assíduo frequentador de botequins, quase. Hoje me vejo afastados deles por motivo de força maior, e bem maior. De dez anos para cá o câncer determinou que os deixassem seguir com seus outros simpatizantes. 
Mas ainda posso defender a linguagem do boteco, a começar dando garantias de que ele tem alma. Mas essa não me atrevo interpretar e muito menos contestar, por muito superior à minha capacidade de compreender os meandros de sua comunicação.
Com que roupa me diria interprete de um boteco um tanto quanto rastaquera, em dado momento com um único cliente, um sujeito mambembe, totalmente em silencio, bem assentado à lateral de uma mesa sem toalha no canto mais sombrio da casa e sobre ela garrafas vazias, uma meio cheia, copo numa mão, cigarro apagado na outra, pernas cruzadas, olhos fixos na ponta do pé mais erguido, levado a esse cenário boêmio por traição da mulher amada, adúltera?
Ou por outra, em outro momento, o mesmo boteco cheio de homens e mulheres alegres, pessoas soltas em algazarra entregues a seguidos brindes comemorativos, aparentemente por motivação em proveito de todo o grupo? 
É preciso respeito para com os botequins e muito esmerado cuidado para não ofender sua alma própria e outras que para ele levam os bêbados, boêmios inveterados, bom vivant, os solitários, desocupados, poetas, prostitutas e prostitutos. Tem alma sim, o boteco.
Junte sua experiencia com o boteco e faça-me o favor de me dizer se tudo aquilo que viu e ouviu na reunião ministerial tida e havida no Palácio do Planalto sob a condução do Presidente da República pode ser chamada de conversa de botequim? Definitivamente não foi. Promiscuidade em excesso não é permitida no boteco, não se gasta tanto bestunto assim nem antes e nem depois das brigas. Não se diz tanto palavrão num boteco porque há respeito pelas damas de companhia dos companheiros presentes. Não se põe o dedo na cara de ninguém como o fez presidente com os seus ministros – o proprietário não consente. 
Não se grita naquele tom com colegas de boteco, ontem eram navalhas e punhais hoje as pistolas respondem a tamanho desrespeito. No boteco, a julgar pelos anos a fio que o frequentei, ninguém monopoliza a palavra – ou ninguém escuta ou saem todos sem pagar a conta. 
Botequim tem alma e regras ou normas, sei lá o que mais se ajusta. Ali tudo se sabe e se diz, ainda que se diga e se saiba mal. Também não se deve comparar frequentadores de boteco com a turma ministerial em questão. Onde já se viu pisotear o “código” de honra de um boteco esculhambando-o a vis palavrões?
Não é preciso ir adiante para deixar claro o vazio dos palácios e a alma silenciosa dos botecos. Se mais for preciso acrescentar que se diga da fidalguia que há nos boêmios, tanta que os leva todos os dias aos mesmos botecos de suas preferências.      

quinta-feira, maio 21, 2020

BOLSA-NARO

 Cesar Bernardo-maio2020.
O governo brasileiro tropeça sem si mesmo praticamente todos os dias. Bastante que o presidente abra a boca para suas “conversas” com seus apoiadores na porta do palácio, ou assine medidas de “seu governo” para publicação no Diário Oficial.
Até agora suas decisões publicadas nos órgãos oficiais de comunicação foram quase todas asteriscos. As falas diárias perante apoiadores e ante celulares deslizam para a condição de reticências porque vai ser retificada mais tarde ou porque algum “infiltrado” da grande imprensa brasileira lhe fez perguntas e insistiu que as respondesse.

Além de asteriscos e reticências também tem os momentos em que o presidente transforma trechos de suas reticencias em pausas sonoras nas mídias audiovisuais, especialmente na televisão. São aquelas explicações ou respostas de seus atos ou de seu governo são palavrões ainda não admissíveis no horário comercial.
Até agora o que escrevemos quase todo mundo viu acontecendo e até mais que isso se tomar em consideração a demissão e nomeação dos ministros da Saúde enquanto avança a pandemia. Mas tem ainda o caso difuso da nomeação e exoneração do Dr. Sergio Moro, ícone da Laja Jato. 

Ninguém em sã consciência apostaria uma garrafa vazia a possibilidade de que atuasse ali sem o apoio de poderosa rede de informantes qualificados. Embora sediada em Curitiba, a Força Tarefa liderada por ele sabia bastante sobre o crime organizado no Rio de Janeiro. Boatos sobre a movimentação do grupo Bolsonaro já circulavam, era no estado fluminense que se sabia da atuação e força política do clã. 
Moro renunciou a carreira na magistratura, aposentou a toga, afastou-se da Laja Jato e se tornou ministro auxiliar de luxo do governo Bolsonaro. Desde a posse na pasta da Justiça e Segurança Pública o ministro brilhou sempre mais que o chefe. 
Foi maltratado e humilhado por causa da Policia Federal, perdeu o cargo por causa de sua oposição ao excessivo interesse do presidente nos “ajustes” que desejava fazer na estrutura administrativa da corporação, a começar por trocas de comando na Superintendência do Rio de Janeiro.
E o que se vê? Investigações em curso nos calcanhares dos Bolsonaro, filho aforado no Rio de Janeiro, filho e pai em Brasilia. Deu em que? Sergio Moro fora do caminho, se possível desmoralizado pelo “núcleo duro” do governo, e periféricos.
Além de asteriscos, reticencias, palavrões há também entrelinhas e aí o ministro Paulo Guedes. O mesmo “núcleo duro” do governo já percebeu que sua tese liberal não reelege Bolsonaro, melhor caminho se revelou a nova bolsa coletiva coronavirus19. Estendida mais um pouco ao longo da pandemia 2020 e retomada lá na frente no próximo período das convenções eleitorais 2022, será tiro e queda.
Quanto a Guedes e sua tese liberal ou se dobram ou caiam fora.

segunda-feira, maio 18, 2020

COVIL DA PANDEMIA COVID19


Tenho pensado muito nos esforços que fiz para que meu nome e eu tivéssemos algum valor, instintivamente, por obediência ou iniciativa própria fui crendo que construía assim um caminho que ao fim me fizesse chegar a um certo nível de importância pelo menos para meus familiares, especialmente meus filhos. 
Confesso que não foi tão penoso percorrer esse caminho ao longo da vida, embora não tenha sido simples, fácil e divertido no seu trajeto mais comprido. Pode ser que tenha errado em considerar certo e bom apenas o que me satisfazia, destacava, prestigiava e me colocava frente às pessoas e ambientes de convivência como alguém útil, necessário até.
 
Mais ou menos assim fui me construindo e me dispondo para as pessoas para ser ajudado e, também, para ajudar. Olhando para trás dá para ver que essa empatia me foi bastante favorável. E pode ser que disso me tenha envaidecido além da medida. E pode também que a própria vida me tenha negado oportunidades para me enxergar melhor nesse contexto.
Correram os anos e com eles chegamos ao tempo da pandemia19, trágica experiência para essa humanidade a que pertenço há sessenta e oito anos. Quanto e sobre ela nunca e nada aprendi, pensando bem quase nem ouvi essa palavra enquanto a escola me instruía. Ao prêmio de um milhão de reais não poderia citar o nome de um único professor(a) que alguma vez a tenha pronunciado em minha presença. Para ser mais conciso: nem em botequins. 
De repente estamos todos no meio dela e em meio a ela já nos curvamos conforme queira nos machucar com seus mais de dez dedos, cada qual com um nome: doença, dor, padecimento, morte, supressão de identidade, negação de histórias de vida, falta de leito hospitalar e vaga nos cemitérios, ausência de velório e acompanhamento, desemprego, corte de salário, fome, desobediência civil, estupidez política e administrativa....
 
Pois bem, daqui ao cabeçalho desse texto está o que me diminui, amedronta e decepciona: supressão de identidade. É tanto que há consenso quando no grupo que ainda me resta integrar ao nos referirmos a alguns grandes amigos recém falecidos e sobre eles concordamos: “ainda bem que morreu antes de ver seus valores destruídos, sua história apagada, seu desaparecimento sem pompas e circunstancias”. 
Não valemos nada, de minha parte constato que de nada serve os cuidados que tive para com minha vida e meu nome. De uns dias para cá ouço dizer como antes ouvia sobre cobras e lagartos: fulano morreu anteontem, cicrano morreu ontem, beltrano mal acabou de morrer e já está enterrado. Onde? Vai saber!.?