César Bernardo - maio/2020
As falas diárias do presidente Bolsonaro
são inveteradas.... reticências, porém, nunca o nada levando a lugar nenhum. Os
que têm o costume do palavrão como pigarro ou virgula podem substituir os pontinhos
com a facilidade que oferece o largo espectro vocabular. Ele se anula quando
fala, se auto asfixia apertando demais o nó da gravata.
Mas é um homem de sorte, tem muita gente
que o conhecia bem antes ou o conhece melhor agora e mesmo assim o compra. O novo
Bolsonaro bem que poderia ganhar na imprensa que ele tanto ofende a similaridade
na identificação como o que se faz e porque se faz com o Coronavirus. Não para
ofendê-lo, claro, afinal é o presidente de todos os brasileiros, mas para explica-lo
com pouquíssimas palavras.
Diz-se novocoronavirus19 justamente para
evitar maiores explicações sobre os tantos outros antes identificados, todos
perigosos de alguma forma. O sub família Orthocoronavirinae
da família Coronaviridae tem seu rabinho preso com morcego, boi, cavalo,
alpaca, cobra, camelo, humanos – um vírus corona diferente para cada um.
Analogamente se o jornalismo profissional
cismasse em se referir ao presidente como o novo Bolsonaro apenas o estaria
descolando do Bolsonaro político que passou vinte e oito anos como deputado
federal, derivando de si um Bolsonaro vereador, outro Bolsonaro deputado
federal, outro Bolsonaro senador e ele próprio Bolsonaro presidente. Todos políticos,
porém, diferentes entre si.
Diz a literatura jornalística que durante seus
28 anos de mandato na Câmara dos Deputados o Bolsonaro Jair teria apresentado
170 (cento e setenta) projetos de lei, feito que poderia tê-lo distinguido
muito, a ponto de credencia-lo para a Presidência da República. Porém, apenas
dois desses projetos foram aprovados, os restantes cento e sessenta e oito foram
recusados por falta de qualidade.
Seletivamente os projetos do deputado
federal Jair Bolsonaro tinham predileção para pautas quase que exclusivamente
referentes aos militares, segurança pública, símbolos nacionais. Um de seus apenas
dois projetos aprovados em vinte e oito anos de mandato dizia respeito a autorização geral para o uso terapêutico
da Fhosfhoetanolamina sintética, a chamada “pílula do câncer”.
Vê-se, assim, que há similaridade com o Jair
Bolsonaro presidente vez que não esconde, hoje, a obsessão por outra pílula milagrosa,
a Cloroquina. Para ser justo diga-se que o novo Bolsonaro melhorou, pois
defende com o mesmo vigor não uma, mas duas pílulas milagrosas: Cloroquina e
Hidroxicloroquina.
Ontem mesmo dizia a uma amiga que sentiu
necessidade de externar seu sentimento de gratidão em relação ao que é hoje,
que é enigmático o destino de cada um de nós. O de Bolsonaro é também
emblemático. Um dia quis porque quis que a nação tivesse o nome do deputado
Enéas Carneiro inscrito no livro dos Heróis da Pátria, por sua oposição ao
comunismo. Hoje o Bolsonaro presidente mandou distribuir medalhas,
transformou em Grande Oficial da Ordem do Mérito Naval os doutores Abraham
Weintraub, Augusto Aras, Marcelo Álvaro Antônio, Jorge Oliveira, Hélio Lopes e
Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Se sabem nadar ou para onde remam suas
canoas não disse.
Noutro momento mais adiante um pouco o Bolsonaro
deputado quis a
revogação da lei
que
obrigava todos os hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) a oferecer às
vítimas da violência sexual um atendimento emergencial, integral e
multidisciplinar para vítimas de estupro. Entendia que a medida endossava o
compromisso do governo Dilma Rousseff com a legalização do aborto.
O destino, esse que o fogo determinou ao novo mundo,
colocou uma fogueira acesa no caminho do ex deputado e atual presidente da
República Jair Bolsonaro e deixou perto das chamas um tantão irremovível de combustíveis
inflamáveis, a saber: filhos políticos com mandato, SUS e caneta com tinta para
escolher e emplacar seus heróis da pátria.
Ontem mesmo se referiu a um deles como “potencialmente”
qualificado para uma vaga no STF: o Dr. Aras. Sorte dele que já é augusto desde os primeiros
dias de vida.