A televisão
está rodando um clip educativo sobre o joão de barro, peça que a cada vez que
vejo faz-me lembrar dos anos mágicos vividos em minha cidade natal: Volta
Grande.
O
joão de barro é um pássaro da minha infância e adolescência, época em que os
postes da iluminação pública da cidade eram de ferro (trilhos de linha férrea),
encimados por cruzetas de madeira, sobre cuja pequena extensão o pássaro marrom
construía sua “casa”. Bandos de joão de
barro “invadiram” a cidade dessa maneira porque a devastação atingia gravemente
seu habitat natural, aí se estabelecendo as plantações, principalmente a
pastagem.
Os
pardais, bem depois, chegaram para expulsa-lo de seu ninho, mas não da cidade,
não dos postes. As andorinhas eram outras que se aproveitavam desses ninhos tão
bem feitos.
O
joão-de-barro é um pássaro muito popular, mas que não chega aqui na Amazonia
(sobe até o sul de Tocantins). Dele se diz que o macho pode encerrar uma fêmea
infiel no ninho até que ela morra, que constrói seu ninho com a abertura na
direção oposta do vento e da chuva, o que não tem comprovação. Diz-se até que
ele é um pássaro religioso: não constrói ninho aos domingos e dias santos.
Lenda
indígena diz que o joão-de-barro (Tiantiá) foi um guerreiro apaixonado pela jovem
Kuairúi, mas que não puderam se casar porque Tiantiá nao sabia construir uma
cabana. Por isso o pajé os transformou em pássaros que se ajudam na construção
do ninho.
Ecologicamente
o joão-de-barro prefere as áreas de vegetação esparsa ou campos abertos. Passa
grande parte do tempo no solo, caminha pausadamente, alternado com curtas
corridas. Caracteristicamente se alimenta de insetos e larvas, aranhas e outros
artrópodes, e até pode ingerir semente que encontre pelo chão, quase nunca nas
arvores.
São
aves monogâmicas (um macho fiel a uma fêmea e vice versa), união duradoura.
Cantam (rufus) juntos, brigam juntos por seu território, trabalham juntos na construção
do ninho, em certa medida chocam juntos seus ovos.
Seu
ninho tem o formato de um forno (furnarius), gosta de pregá-los em galhos
baixos de árvores e troncos secos para nidificar, sempre escolhendo pontos de
boa visibilidade do entorno. Em zona urbana, onde está perfeitamente adaptado,
prefere postes elétricos, mas também, aproveitando beirais de edificações.
Uma outra
curiosidade sobre essas aves é a que indica que elas constroem ninhos praticamente
durante todo o ano, sem, contudo, que haja qualquer relação com período
reprodutivo. Todavia esse trabalho guarda relação estreita com o regime de
chuvas do local, e, da consequente disponibilidade de barro fresco, palha,
esterco. Entre dois e dezoito dias a “casa” fica pronta. Depois é forrada com
fibras vegetais, pelos, cerdas e penas. [.
A fêmea
coloca de 3 a 4 ovos brancos, que serão incubados pelo casal após a postura do
terceiro ovo, cuja eclosão dos filhotes se dará num prazo de 14 a dezoito dias.
Assim que nascem os filhotes emitem silvos imitando a cobra como auto defesa. O
casal os alimenta, com vinte dias de vida deixam o ninho.