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terça-feira, novembro 03, 2020

LOURO E JOSÉ

 

César Bernardo nov2020

 

Deveria nos assombrar a descoberta de nós mesmos sobre o quanto valemos, ou para o que pensamos que valemos para as outras pessoas. Durante pelo menos um terço de nossa existência nos dedicamos ao que consideramos seja a nossa capacitação para a vida, para o trabalho, para a felicidade, para a luta pela própria vida., luta que não deixa de vislumbrar a vida longa.

Viver quanto mais viver para a vida., embora o espiritismo diga que vivemos uma passagem tanto mais longa quanto mais tenhamos expiação para cumprir na terra. Mas, é indissociável espírito e Jesus, assim como se sabe que antes da chegada de Jesus a esse mundo a concepção de vida terrena dependia muito dos deuses. Vivia-se muito pouco e muito mal se o corpo não fosse coberto pelos paramentos da nobreza ou da força militar.

Veio o verbo de Deus feito homem para junto do homem, trazendo a compreensão de que Deus era pai e todos éramos seus filhos, todos seriamos irmãos, porém, cada um com a sua marca de adesão cristã aos ensinamentos que esse Jesus trazia em favor da conversão geral dos homens às palavras centrais do seu Evangelho.

Jesus era uma semente entre nós e por nós deveria ser morta, para que suas palavras, suas promessas, seu reino germinassem, crescessem e frutificassem entre nós e por nós – e  o foi pela ressurreição.

Crucificado Jesus, ou seja, morta essa semente, os primeiros muitos anos cristãos se constituíram um período em que os homens não dispuseram dos Evangelhos escritos, base para sua orientação de vida. Esse longo período vazio, que durou até cerca de 80 anos depois de Cristo, foi um tempo em que a existência do homem pareceu sem significado. Não ficou mais espaço para a intimidade, para as novas ilusões ou reflorescimentos de velhas esperanças, e a alma, como que em doloroso período de expectação e silencio forçado ficou pelo caminho. Nada capaz de renovar seus sonhos, suas aspirações – espíritos cristalizados.

Quase dois mil anos depois essa mesma humanidade se vê refém de um vírus poderoso, Coronavirus19, manifesto na forma de inusitada pandemia. A essa altura da manifestação de parte da força desse vírus, o que vemos é uma humanidade querendo ignorar seus milhares de mortos e, milhões de reféns Covid19. Os que têm sorte chegam a hospitais, porém, a maioria, fica à própria sorte em suas casas.

Tudo nos levando a aceitar que vivemos novo vácuo entre Deus e o homem, morrendo como em legiões de escolhidos para um combate desigual: um vírus e o vazio como o que ficou nos oitenta anos seguintes à crucificação de Jesus.

Lamentamos esses mortos como se nada tivessem sido em vida, nada importassem aos que ainda vivos  piedosamente se desfazem de seus mortos com chavões: descanse em paz – que Deus possa... – vá em paz – cumpriu sua missão – Deus no comando.

Mas o Brasil e os brasileiros tiveram Tom Veiga Louro José -nome tão esquisito quanto os caminhos do povo e nação brasileiras Todos os dias úteis da semana o Louro, Tom e a Ana Maria entravam na maioria das residências do país. Um papagaio estilizado falante, tão necessário que, respeitosamente, fez da Ana Maria Braga, durante duas décadas, coadjuvante de seu próprio programa de televisão.

O interprete desse papagaio, Tom Veiga, tinha pouco a expiar nessa terra, já que aos 47 anos viu terminada sua missão  terrena foi em paz por comando de Deus, ao encontro do Criador. E para alegria minha, felicidade até, a desencarnação do Tom Veiga causou grande comoção a toda gente brasileira. Teria havido imenso e incontrolável movimento de massas humanas se não estivesse esse imenso país de joelhos para um vírus. Tudo foi além do descanse em paz, que Deus possa, vá em paz, cumpriu sua missão, Deus no comando.