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quarta-feira, julho 06, 2016

ESTÚPIDOS......

SÓ PARA ESTÚPIDOS
Duas coisas procuro logo ao chegar numa cidade qualquer: igreja e banca de jornais. Fiz isso ontem aqui em São Paulo e hoje pela manhã antes que os meus acompanhantes acordassem para o café fui comprar jornais.
E só deu Negra Li: “Negra Li vai registrar queixa após sofrer ataques racistas”.
Liliane de Carvalho, cantora, compositora, atriz, solitista do coral da USP, rapper..., cidadã brasileira. A internet mostra que se trata de uma bela mulher, porém, negra. O “porém” aí da frase não é meu, é da motivação do texto que quero escrever.
O Brasil, quanto a isso e a quase tudo que o macula, não muda. Meio século atrás, em 1964, um hotel aqui em São Paulo recusou hospedaria à cantora Elza Soares. Jornais da época, no geral, disseram: “estrêla de palco e televisão, musa de Garrincha e moça de cor. Está bom de se fazer um “revival” da Lei Afonso Arinos...”. O empresário da a artista agiu judicialmente contra o hoteleiro criminoso.
Negra Li é a Elza Soares 52 anos depois. Mas, o caso de agora bem  trabalhado poderia ser uma poderosa e lucrativa propaganda a nossa favor – dos brasileiros, e não apenas de nós negros.
Já estamos nas Olimpíadas Rio 2016, que se projeta com a maior e melhor de todos os tempos – a questão do Bem Vindo ao Inferno (Welcome to Hell) não é coisa de Brasil nem do Rio de Janeiro olímpico, mas de policiais civis e governo civil, portanto, da democracia administrativa mal encaminhada por ambos: governo e polícia.   
Hoteleiro racista e policiais estúpidos tratam apenas de seus interesses, o primeiro imaginando que seus demais hospedes brancos pensam como ele e esses policiais imaginando que aeroporto é fórum trabalhista.
Praticas assim, para o mundo de hoje, que a internet mostra como quer ao mundo inteiro, são vantagens comparativas para o Brasil de hoje. Especificamente sobre o racismo, democracia racial brasileira não é fraqueza que se deva ocultar – é atrativo a mostrar. Da forma que trata os racistas e as vitimas é, essa democracia racial, um artigo de propaganda e atração turística não tão procurado, mas tão bom como a comida mineira, os índios amazônicos, a cultura gaúcha, a saga nordestina ou como todas as belezas da “cidade maravilhosa”.
E por quê? Por causa de planilhas das delegações atléticas que vão competir e brilhar nas olimpíadas no Brasil, Rio de Janeiro, ao longo de um mês – será um Rio de Janeiro que certamente nunca vi: cheio de estrangeiros.
São pessoas interessantes que já começaram a chegar, em grande parte habitante de países onde só há gente de uma cor, ou onde há uma barreira rígida separando as cores das pessoas – é aí que está o que nos favorece: a democracia racial brasileira, a nossa mistura descuidosa, é espetáculo fascinante e incomum para eles, é, justamente, o querem ver, como funciona e se realmente funciona.
Pode ser que ocorra - porque há estúpidos em todo lugar do mundo – um ou outro visitante estúpido, perigosamente reacionário e, portanto, indesejável, que busque no Brasil/Rio de Janeiro (ou evite, porque pode existir) um hotel que não seja exclusivo de brancos.
Em maioria, o turista chega aqui (principalmente o que vem dos países onde o negro é segredado pela linha de cor), anseia ver com os seus próprios olhos que país é o nosso onde a cor das gentes não importa.
Mas a estupidez  de brasileiros racistas impunes pode decepciona-los, engana-los se verificarem que aqui a segregação também é regra - apenas mais hipócrita.