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segunda-feira, fevereiro 17, 2020

MÃES DOWN

Em algum tempo alguém disse, e muito bem, que “...uma mãe, afinal, é uma mãe., quando nasce o filho, quando cuida do filho, quando o filho adoece ou quando não está doente; quando vê com lágrimas nos olhos a entrada no primeiro dia da escola; quando o defende com garra por motivos justos ou injustos; quando luta incondicionalmente e custa a admitir o erro do filho ou salta de alegria com seus acertos; pobre ou rica; instruída ou não, as mães em um determinado momento ficam iguais, são fãs irrequietas com o sucesso dos filhos, por mais prosaica que seja a homenagem, para elas um pequeno pedaço de glória é um motivo de comemoração, palmas, sorrisos...”.
As mães são isso mesmo, mas podem ser mais, como me ocorre admitir mediante três “crianças” que conheço de duas mães que há tantos anos avisto e não conheço tanto assim. As aspas aí acima colocam entre elas pessoas portadoras de Síndrome se Dow, sobre as quais tenho meus olhos postos há muitos anos.
Pela medida cronológica comum a mim e elas, não são mais crianças. A julgar pelo aspecto fenotípico de suas mães, trinta e cinco, quarenta anos pode ser a idade temporal dessas três pessoas Dow.
Duas delas revi hoje na igreja e de tão crianças que se apresentam até divertem o nosso lado lúdico, naturalmente. Outra, a mais velha entre elas, já não vejo de uns três anos para cá. Dito isso, sobre elas não preciso dizer mais – é sobre suas mães que quero oferecer essas maltraçadaslinhas.
Essas parecem a mim mais mães que as demais em nível e em linha: ricas ou pobres, instruídas ao não em escolas superiores, pele dessa ou daquela cor, urbanas ou rurais sãs ou mais ou menos doentes, isso ou aquilo, são mais mães.
Por isso mesmo terei o mais cuidado que possa com minhas palavras porque tudo o mais suportaria, menos ofende-las, arranha-las um mínimo que seja. Pelos filhos que têm, pela angustia que vivem.
O caso de ontem na igreja era de duas irmãs Dow. Exigiram muito de sua mãe de sorte a não interferirem no andamento da Missa e concentração dos fiéis ao redor. Queriam atenção, queriam brincar com sinais, com toques, com risos.
A mãe controlava-as com calma, paciência, tolerância e energia. Em dado momento socorreu-se com outra mãe pedindo que passasse um banco a trás, se assentasse noutra extremidade e com isso ajudasse-a a conter as crianças entre elas.
No olhar daquela mãe só se via amor por aquelas filhas. O mesmo amor que sempre vi nos olhos da mãe da outra criança Dow, que já não vejo há anos. Mãe não, disse que não podia arranha-las: super mães. Ambas, no entanto, com uma falha talvez não de suas responsabilidades: precocemente envelhecidas.
A Síndrome de Dow não é doença nem defeito, apenas uma ocorrência trissômica causada por um cromossomo extra no par 21, assim denominada em memória do Dr. John Langdon Down, o médico britânico que descreveu integralmente a síndrome em 1866. Mas, é causa de forte preconceito, talvez causa também do envelhecimento precoce e surgimento dos cabelos brancos que as valorosas mães Dow normalmente exibem.