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quarta-feira, julho 24, 2013

O BRASILEIRO É CONTRA A DEMOCRACIA.



c-bernardo2012@bol.com.br
Provavelmente teremos no Brasil uma “era” pós Francisco, o Papa que acalmou um pouco as ruas brasileiras. Essa temporada pós não é uma invenção sem pé nem cabeça, tem fundamento científico e respaldo num grande ou maior instituto latino-americano do gênero: Corporação Latinobarômetro, Ong com sede em Santiago do Chile.
Desde de 1995 que dados dessa corporação estão dizendo que o brasileiro não quer a democracia. Não sei por que a imprensa brasileira não põe às claras esses números, não abre sobre e com base neles o devido debate.
A face demagógica da nação não perde oportunidade na mídia para apoiar as reivindicações que as ruas estão colocando dentro dos palácios: “é preciso ouvir o clamor popular”. A verdadeira face nacional, no entanto, tem mostrado a violenta (tolerada) ação de “vândalos infiltrados no movimento”.
Vejamos o que disseram os números da corporação Latinobarômetro numa serie, de 1996-2004, que avaliou o apoio popular à democracia em 18 países latino-americanos: 46% dos argentinos e 33% dos uruguaios aceitavam um regime não democrático e no Brasil esse numero estava em 54%. Mais preocupantes foram os números de aprovação, satisfação com a democracia: 28% no Brasil, 34% na Argentina e 45% no Uruguai.
Costa Rica apareceu como o país latino americano com o maior grau de satisfação, com 48%, o menor coube ao Peru, com apenas 7%.
Aliás, sobre isso e sobre esses números, em 2005 o Senador Sarney alertou os políticos sobre a responsabilidade de que se achavam investidos.
Em 2011 o jornal Folha de São Paulo discutiu o assunto a partir dos números publicados na 16ª edição da pesquisa Latinobarômetro.
Escreveu o jornal: “...o índice de apoio dos brasileiros à democracia diminuiu nove pontos percentuais de 2010 para 2011. A queda do apoio à democracia no Brasil (de 54% para 45%) é mais acentuada do que a média da região, que caiu de 61% para 58%, após quatro anos de aumento...”.
Os números da Corporação Latinobarômetro são vastos, de fácil acesso e podem estar a merecer melhor tratamento da imprensa brasileira. Dizem por exemplo que apesar de o Brasil ser um dos países latino-americanos mais críticos em relação à democracia, 66% dos entrevistados não apoiariam de forma alguma um governo militar. É o décimo país da lista encabeçada pela Costa Rica, onde 90% rejeitam essa forma de governo.
O estudo também mostrou que a reeleição é vista com bons olhos na America Latina, com aprovação de 77%.   
Hoje mesmo, enquanto escrevia esse artigo, a televisão Globo demonstrou mais uma vez que é falsa, arranjada, a acusação da Policia Militar do Rio de Janeiro contra um rapaz chamado Bruno preso por “portar” uma mochila recheada de coquiteis molotov.
Um pouco antes ou assim que o Papa Francisco deixar o Brasil as ruas brasileiras deverão voltar a rugir: democraticamente contra a democracia?






terça-feira, julho 23, 2013

BOTECOS DA VIDA



c-bernardo2012@bol.com.br
Vivi muito, mas andei pouco. Mesmo assim conheci algumas cidades  grandes e pequenas, em todas elas soube de um botequim bem frequentado – em muitos deles tive meu cartão de ponto. Em dois fui o cara: Boteco do Dri e Boteco do Pequilo.
O do Dri não era propriamente um boteco, passava a sê-lo quando a “turma” entrava na posse do espaço: primeiro a “freguesia” cercava o balcão, um ou dois mais chegados se juntavam ao Dri assumindo a garçonaria do boteco, deixando ao proprietário a tarefa de atender “outros” fregueses.
O estabelecimento ficava bem no centro do bairro central da cidade de Volta Grande, a menor, a melhor, a mais simpática e a mais bela cidadezinha de Minas Gerais.
Tá lá até hoje, mas depois que fechou o boteco do Dri por causa do seu falecimento, a cidade piorou muito – quase não consegue consenso sobre assunto inútil nenhum no cotidiano.
O boteco do Pequilo era daqui de Macapá, tinha duas particularidades que o tornavam o boteco: a clientela provinha da “nata” da sociedade, era aonde, à época, se poderia encontrar a maior densidade de intelectuais por metro quadrado. A segunda característica era o próprio dono: o melhor botequista da terra – uma espécie de Sô Lunga moderno.
Justo agora que não posso mais tomar uma cachacinha é que me bate tamanha saudade dos botecos da vida, não que me fustigue qualquer vestígio de recaída alcoólica. Nada disso, é que os fatos da atualidade estão sem as “devidas” interpretações.
Duvido que num ou noutro botequim passasse como passou em brancas nuvens a recomendação do Sr. Secretário-geral da Fifa, Jérome Valke, de que organizadores da Copa do Mundo no Brasil-2014 precisavam levar "um chute no traseiro".
O Henricão, lá do boteco do Dri, com toda a certeza retrucaria: “É por isso que não gosto de gringo, nem de presidente mulher para engolir um cara desses”.
Contaria com o pronto apoio do Ronaldo Quintão: “Ó, né só presidenta fraca não, não vê aquele lá dos Estados Unidos? Todo mundo apostou no homem e de repente ele aparece cheio de trejeito pros lados de um cachorrinho chamado sabe como? Bo!
Ah, peraí isso é nome de cachorro presidencial...Bo? É por isso que aparece um frances desses pé de pano querendo chutar na bunda de todo mundo”.
O botequim do Pequilo também já não existe mais – vi falar que o caderno de fiado cresceu o olho do Moraes, para quem a empresa foi vendida. Mas se existisse não teríamos nem chegado ao Juquinha, voando de helicóptero Agusta AW109 Grand New do Rio para Guaratiba e de Guaratiba para o Rio à conta das mordomias do governador Cabral.
O dr. Chucre, assíduo lá no nosso boteco, já teria cortado essa onda lá atrás com a Michele, a cachorrinha presidencial da Dona Marisa Lula da Silva:
-Amanhã mesmo vou entrar com uma ação de improbidade no Ministério Publico contra essa safadeza. Faz semanas que preciso ir a Belém e não vou porque o dinheiro não dá, como é que vou tolerar essa cadela voando prá e prá cá? Daqui a pouco ela caga lá de cima na cabeça da gente!    
Esses caras eram assim, duros, mas claros, diretos. Estou pensando neles por causa da pane no metrô do Rio, que paralisou na tarde de hoje (23) a operação de trens entre as estações Cinelândia e Saenz Peña, na Linha 1, e Cinelândia e Pavuna, na Linha 2., em plena reunião de milhões de pessoas na Jornada Mundial da juventude.
E do nascimento do principesinho até agora sem nome lá na Inglaterra.
Em qualquer dos nossos dois botequins funcionando nos dias de hoje a justiça dos ébrios prevaleceria, o próprio Henricão faria essa justiça:
-Parar metrô logo dentro da visita do Papa? No Rio de Janeiro, na hora da missa? Cadê o frances da Fifa pra dar com o pé na bunda dessa gente?
=O que tem de cachorro passeando por aí de aeronave com o dinheiro publico não está no gibi, mas não vai faltar fdp pra criticar os gastos que a realeza britânica vai fazer com o inglesinho que vai ser rei depois que todo mundo morrer por lá.
Diria o Ronaldo: Palhaçada enfiar o carro do papa no meio do transito pesado no centro do Rio de Janeiro. Quando eu chego ali já tô nervoso, fico logo puto....
Ronaldo  teria mudado muito, pois no nosso tempo ele explicaria: coisa que não faço é discutir religião em botequim.


  

sexta-feira, julho 19, 2013

NADA DE FICÇÃO

c-bernardo2012@bol.com.br
O Jornal Nacional (Globo) abriu a edição de hoje, 19/07) informando que a Presidente Dilma Rousseff acabara de findar uma conversa ácida com o vice presidente americano sobre a espionagem daquele país em nosso país. Já vimos antes quanto isso irritou a presidente e não podemos imaginar como terminará. Dilma Rousseff nunca foi uma qualquer em assuntos de espionagem internacional. A Presidente Dilma Rousseff tem muitas informações ao seu dispor e tudo indica que tem cuidados refinados com isso, para que a história ou “arestas” dela não se repitam.
Pelos duas pessoas existem nesse mundão de Deus com histórias para contar capazes de ocupar muito o tempo da presidenta Dilma: o ex espião da Cia (autor de CIA Diary: Inside the Company) Philip Agee, e a jornalista brasileira Claudia Furiati. Ambos, séculos atrás, trouxeram para paginas de jornais – O Pasquim, especialmente – uma história escabrosa de espionagem da Cia sobre a vida política brasileira.
Algumas citações históricas a seguir, apenas cinco, dão dimensão a tal história. E por si mesmas explicam quanta preocupação (mera coincidência?!.,) o quadro atual de insatisfação popular e a tal espionagem americana trazem à presidente Dilma:
-“...Começou em 62. A CIA pretendia produzir o caos sócio-politico, sabendo que os militares brasileiros, como em toda a America Latina, procurariam restabelecer a ordem, derrubando o governo....”
-“...A CIA resolveu fomentar um movimento popular contra o regime, através da sua estação no Rio de Janeiro, financiando secretamente  uma campanha multimilionária para a eleição de deputados anticomunistas, planejando transformá-los em “contra-força à tendência esquerdista no governo Goulart....”
-“...A CIA mandou depositar entre 12 e 20 milhões de dólares nas contas do Ibad (Inst. Bras. De Ação Democrática) e da Adep (Ação Democrática Popular), para a campanha de 25 candidatos ao Senado, 250 à Camará Federal e 600 estaduais, em oito estados da federação.....”  
-“...Jim Noland, chefe do setor Brasil na Divisão Cia do Hemisfério Ocidental, em fevereiro de 1964 em Washington, avaliou que no caso das eleições para governadores de estados, a vitória de um aliado de Goulart em Pernambuco, Miguel Arraes, apesar da vitoria de Carlos Lacerda no Rio de Janeiro e Ildo Meneghetti no Rio Grande do Sul, produzia um resultado insatisfatório... Na Camara Federal, o balanço obtido entre os três principais partidos (UDN, PSD e PTB) também não se encaixava nas expectativas...”   
-“...Não houve ameaça de contra-golpe, mas o governo Castelo Branco ameaçava invadir o Uruguai se as atividades dos brasileiros ali exilados (Brizola, Darcy Ribeiro, Goulart...) não fossem devidamente controladas. Também chegou-se à necessidade de intervir no estado de Goiás para impedir uma conspiração liderada por Brizola...”
A Presidenta em lá suas razões para estar muito braba com os “requintes” da espionagem denunciada ao mundo pelo ex-analista da CIA Edward Snowden.
Dilma ainda hoje se pergunta: mundo encantado do poder ou encanto do mundo do poder?


quarta-feira, julho 17, 2013

MINHA AULA INESQUECÍVEL.



c-bernardo2012@bol.com.br
Vivi, como todos, momentos inusitados e quase inesquecíveis, um deles quando levei meus alunos para uma aula de ecologia no campo- corria o ano de 1994. A turma era numerosa, aliás, precisava ser para justificar os custos da aula e a responsabilidade sobre a segurança de tantos alunos adolescentes. A Professora Lourdes, bióloga, atuaria me auxiliando.
Nosso destino era quase à foz do Rio Curiau, nossa preleção aos alunos no momento do embarque teve por fundamento um pensamento de Gandhi “Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”, e outro de Sêneca: “Se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre; se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico”.
 A Profª. Lourdes (de bermuda e blusa rosa), alunos e mateiros.
A escola tinha nos facultado o aluguel de um bom ônibus, novo e confortável, os alunos eram uma empolgação só, o trajeto era rico de paisagens ecológicas muito facilmente trabalháveis pela didática. À época eu estudava muito, todas as minhas aulas eram previamente impressas e distribuídas aos estudantes. Profª. Lourdes era e continua sendo uma das mais brilhantes biólogas da minha relação de convivência. Faltava nada para o sucesso. Nem a estradinha do terço final do trajeto poderia ameaçar, apesar de faltar muito para chegar à categoria de carroçável.
Em fim chegamos ao nosso destino, uma área realmente interessante: floresta densa de várzea, um cerradinho para um lado, igapó do outro, a marca de antropização do quintal da residência aonde sediaríamos os alunos e, o rio majestoso no seu curso final se apresentando barrento por causa do encontro com o Rio Amazonas.   
Deixei os alunos aos cuidados da Profª. Lourdes e fui me reapresentar ao dono da propriedade - já tinha estado com ele antes - que falaria sobre seu modo de vida, cederia e conduziria sua pequena canoa para a experiência de alunos. O homem não estava em casa, a esposa avisou que ele tinha ido caçar logo ali, estava nos aguardando, era só gritar o grito sinal da família. O que foi feito.
Os alunos aguardavam quem vinha nadando
 Desembarcamos os alunos e aguardamos na barranca do rio, de repente começamos ouvir lambadas compassadas sobre a água, no ritmo de quem nadava. Era o homem que se apresentava para o inicio efetivo da nossa aula: do jeito que ele vinha já era um item da ecologia que buscávamos entender. Uma batida na água era suave outra uma pancada.
De repente o homem irrompeu ante nós, trazia nas mãos a caça abatida: um macaco, já pelado, ainda com as patas negras.
A carne de alguns macacos faz parte da dieta do caboclo amazônico
Foi o fim do mundo. Horror para alguns alunos. Brincadeira para outros. Espanto para todos. Perdi o controle da situação, não sabia o que dizer. Socorreu-nos a Profª. Lourdes., citando Leonardo da Vinci:“A necessidade é a melhor mestra e guia da natureza. A necessidade é terna e inventora, o eterno freio e lei da natureza”.
E depois Goethe: “A natureza reservou para si tanta liberdade que não a podemos nunca penetrar completamente com o nosso saber e a nossa ciência”.
Foi uma mão na roda, passado o choque consegui auxiliar a Profª. Lourdes na aula que eu deveria ter conduzido auxiliado por ela. Faz tempo que não nos encontramos, mas das vezes anteriores concordamos que o inusitado criou para nós a oportunidade de uma aula riquíssima, inesquecível até.
Se fosse uma cotia não teria impressionado tanto
Mas não era para tanto, o próprio Sêneca (4 a.C – 65 d.C), mais de dois mil anos antes já tinha dito: “Os progressos obtidos por meio do ensino são lentos; já os obtidos por meio de exemplos são mais imediatos e eficazes”.



   
    

terça-feira, julho 16, 2013

IMUNIDADE BAIXA.

c-bernardo2012@bol.com.br


Ainda estou com a imunidade emocional bastante baixa, choro muito e quase todos os dias. Ontem foi dia de choro por causa de companheiros doentes, lá na clinica conversei por mais de hora com uma valente mulher que faz tratamento há vinte e um anos. Sinceramente não me vejo nela amanhã.
A sua história, já podem imaginar, é emocionante. Porém dolorosa, que ela conta não alegremente e sim sem qualquer vestígio de raiva, reclamação, imputação de culpa. Tem mais de sessenta tumores pelo corpo, viajou para Belém para novo pet scan porque um novo nódulo apareceu na tíbia, quase à altura da articulação do joelho: e dói terrivelmente. Ontem ela estava na clinica recebendo drogas quimioterápicas heterodóxicas.
Assim que a deixei e passei a viajar em meu carro tive pressa para chegar em casa e dizer para a minha esposa que eu precisava de ser mais forte, que meu sofrimento é bem menor do que o dela. Contudo, venci os cinco quilômetros chorando sem parar porque sei quanto pesa uma aplicação de quimioterapia: estive submetido a ela por quinhentas e cinquenta e duas horas.
 Meu peito doía um pouquinho, recebeu duas agulhadas sem anestesia – a agulha mede 5 centímetros. Mas não dor maior do que ver na televisão o aspecto terminal de um companheiro, para o qual o apresentador pedia ajuda - continuei chorando.
À noite recebi em casa um amigo em busca de socorro para o companheiro que necessita urgentemente tentar o seu X% de chance em São Paulo, no Hospital Barretos. 
Hoje um amigo doente também veio me pedir para arranjar um comprador para a sua chácara, não tem mais com que pagar suas contas. Triste tudo isso.
 Também hoje o Padre Paulo foi visitar o colega para o qual o apresentador de televisão está pedindo ajuda, fez-me detalhado relato lá no Ijoma, deu detalhes da agonia do pobre homem, e da família: ele fica na cozinha e junto a ele as crianças da casa... pode estar também com tuberculose. É de chorar....
Mas não foi só isso, Padre Paulo fez relato da saga de uma criança que estava numa casa albergue publica aqui em Macapá, com câncer. Foi levado para hospital em São Paulo (pressão do Ministério Público) não resistiu e morreu anteontem, até aí é preço cobrado pela doença tenebrosa. Mas essa criança seria enterrada, ou foi, lá mesmo pela impossibilidade (financeira) de trazer o corpo de volta. Não é de chorar?
Pois é, foram mais seis ou sete quilômetros até em casa dirigindo e chorando tanta impotência, tanta miséria humana.
Agora estou aqui escrevendo e soluçando porque – devia gargalhar – alguém dos Estados Unidos manda me dizer: “Sabe eu tenho uma casa simples, mas tem 8 quartos. Você podia ficar aqui, eu te levaria ao hospital, traduziria para você. Voce sabe que aqui tem todos os recursos e novas tecnologias... o hospital é muito grande e fica aqui em KISSIMMEE....”.
A angustia que faz chorar é essa: por que alguém de tão longe, que não me conhece a não ser lendo o que escrevo me trata assim e aqui não encontramos piedade sequer para uma criança?
O que está errado em tudo isso não será consertado com lagrimas, crises de choro como as que me acometem., sei bem disso. Mas como eu disse ando com a imunidade emocional muito baixa.

Obs: Não ilustro esse texto com fotografias porque entre nós, doentes, tem que prevalecer a preservação de imagens e nomes. Nem  sequer citação de nomes fictícios.