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Ainda
estou com a imunidade emocional bastante baixa, choro muito e quase todos os
dias. Ontem foi dia de choro por causa de companheiros doentes, lá na clinica
conversei por mais de hora com uma valente mulher que faz tratamento há vinte e
um anos. Sinceramente não me vejo nela amanhã.
A
sua história, já podem imaginar, é emocionante. Porém dolorosa, que ela conta
não alegremente e sim sem qualquer vestígio de raiva, reclamação, imputação de
culpa. Tem mais de sessenta tumores pelo corpo, viajou para Belém para novo pet
scan porque um novo nódulo apareceu na tíbia, quase à altura da articulação do
joelho: e dói terrivelmente. Ontem ela estava na clinica recebendo drogas
quimioterápicas heterodóxicas.
Assim
que a deixei e passei a viajar em meu carro tive pressa para chegar em casa e
dizer para a minha esposa que eu precisava de ser mais forte, que meu
sofrimento é bem menor do que o dela. Contudo, venci os cinco quilômetros
chorando sem parar porque sei quanto pesa uma aplicação de quimioterapia:
estive submetido a ela por quinhentas e cinquenta e duas horas.
Meu
peito doía um pouquinho, recebeu duas agulhadas sem anestesia – a agulha mede 5
centímetros. Mas não dor maior do que ver na televisão o aspecto terminal de um
companheiro, para o qual o apresentador pedia ajuda - continuei chorando.
À
noite recebi em casa um amigo em busca de socorro para o companheiro que
necessita urgentemente tentar o seu X% de chance em São Paulo, no Hospital
Barretos.
Hoje
um amigo doente também veio me pedir para arranjar um comprador para a sua
chácara, não tem mais com que pagar suas contas. Triste tudo isso.
Também
hoje o Padre Paulo foi visitar o colega para o qual o apresentador de televisão
está pedindo ajuda, fez-me detalhado relato lá no Ijoma, deu detalhes da agonia
do pobre homem, e da família: ele fica na cozinha e junto a ele as crianças da
casa... pode estar também com tuberculose. É de chorar....
Mas
não foi só isso, Padre Paulo fez relato da saga de uma criança que estava numa
casa albergue publica aqui em Macapá, com câncer. Foi levado para hospital em
São Paulo (pressão do Ministério Público) não resistiu e morreu anteontem, até
aí é preço cobrado pela doença tenebrosa. Mas essa criança seria enterrada, ou
foi, lá mesmo pela impossibilidade (financeira) de trazer o corpo de volta. Não
é de chorar?
Pois
é, foram mais seis ou sete quilômetros até em casa dirigindo e chorando tanta
impotência, tanta miséria humana.
Agora
estou aqui escrevendo e soluçando porque – devia gargalhar – alguém dos Estados
Unidos manda me dizer: “Sabe eu tenho uma
casa simples, mas tem 8 quartos. Você podia ficar aqui, eu te levaria ao
hospital, traduziria para você. Voce sabe que aqui tem todos os recursos e
novas tecnologias... o hospital é muito grande e fica aqui em KISSIMMEE....”.
A
angustia que faz chorar é essa: por que alguém de tão longe, que não me conhece
a não ser lendo o que escrevo me trata assim e aqui não encontramos piedade
sequer para uma criança?
O
que está errado em tudo isso não será consertado com lagrimas, crises de choro
como as que me acometem., sei bem disso. Mas como eu disse ando com a imunidade
emocional muito baixa.
Obs: Não ilustro
esse texto com fotografias porque entre nós, doentes, tem que prevalecer a
preservação de imagens e nomes. Nem sequer citação de nomes fictícios.
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