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quarta-feira, julho 17, 2013

MINHA AULA INESQUECÍVEL.



c-bernardo2012@bol.com.br
Vivi, como todos, momentos inusitados e quase inesquecíveis, um deles quando levei meus alunos para uma aula de ecologia no campo- corria o ano de 1994. A turma era numerosa, aliás, precisava ser para justificar os custos da aula e a responsabilidade sobre a segurança de tantos alunos adolescentes. A Professora Lourdes, bióloga, atuaria me auxiliando.
Nosso destino era quase à foz do Rio Curiau, nossa preleção aos alunos no momento do embarque teve por fundamento um pensamento de Gandhi “Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”, e outro de Sêneca: “Se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás pobre; se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico”.
 A Profª. Lourdes (de bermuda e blusa rosa), alunos e mateiros.
A escola tinha nos facultado o aluguel de um bom ônibus, novo e confortável, os alunos eram uma empolgação só, o trajeto era rico de paisagens ecológicas muito facilmente trabalháveis pela didática. À época eu estudava muito, todas as minhas aulas eram previamente impressas e distribuídas aos estudantes. Profª. Lourdes era e continua sendo uma das mais brilhantes biólogas da minha relação de convivência. Faltava nada para o sucesso. Nem a estradinha do terço final do trajeto poderia ameaçar, apesar de faltar muito para chegar à categoria de carroçável.
Em fim chegamos ao nosso destino, uma área realmente interessante: floresta densa de várzea, um cerradinho para um lado, igapó do outro, a marca de antropização do quintal da residência aonde sediaríamos os alunos e, o rio majestoso no seu curso final se apresentando barrento por causa do encontro com o Rio Amazonas.   
Deixei os alunos aos cuidados da Profª. Lourdes e fui me reapresentar ao dono da propriedade - já tinha estado com ele antes - que falaria sobre seu modo de vida, cederia e conduziria sua pequena canoa para a experiência de alunos. O homem não estava em casa, a esposa avisou que ele tinha ido caçar logo ali, estava nos aguardando, era só gritar o grito sinal da família. O que foi feito.
Os alunos aguardavam quem vinha nadando
 Desembarcamos os alunos e aguardamos na barranca do rio, de repente começamos ouvir lambadas compassadas sobre a água, no ritmo de quem nadava. Era o homem que se apresentava para o inicio efetivo da nossa aula: do jeito que ele vinha já era um item da ecologia que buscávamos entender. Uma batida na água era suave outra uma pancada.
De repente o homem irrompeu ante nós, trazia nas mãos a caça abatida: um macaco, já pelado, ainda com as patas negras.
A carne de alguns macacos faz parte da dieta do caboclo amazônico
Foi o fim do mundo. Horror para alguns alunos. Brincadeira para outros. Espanto para todos. Perdi o controle da situação, não sabia o que dizer. Socorreu-nos a Profª. Lourdes., citando Leonardo da Vinci:“A necessidade é a melhor mestra e guia da natureza. A necessidade é terna e inventora, o eterno freio e lei da natureza”.
E depois Goethe: “A natureza reservou para si tanta liberdade que não a podemos nunca penetrar completamente com o nosso saber e a nossa ciência”.
Foi uma mão na roda, passado o choque consegui auxiliar a Profª. Lourdes na aula que eu deveria ter conduzido auxiliado por ela. Faz tempo que não nos encontramos, mas das vezes anteriores concordamos que o inusitado criou para nós a oportunidade de uma aula riquíssima, inesquecível até.
Se fosse uma cotia não teria impressionado tanto
Mas não era para tanto, o próprio Sêneca (4 a.C – 65 d.C), mais de dois mil anos antes já tinha dito: “Os progressos obtidos por meio do ensino são lentos; já os obtidos por meio de exemplos são mais imediatos e eficazes”.



   
    

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