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Vivi, como todos, momentos inusitados e quase inesquecíveis,
um deles quando levei meus alunos para uma aula de ecologia no campo- corria o ano de 1994. A turma
era numerosa, aliás, precisava ser para justificar os custos da aula e a
responsabilidade sobre a segurança de tantos alunos adolescentes. A Professora
Lourdes, bióloga, atuaria me auxiliando.
Nosso destino era quase à foz do Rio Curiau, nossa preleção
aos alunos no momento do embarque teve por fundamento um pensamento de Gandhi “Cada
dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o
que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”,
e outro de Sêneca: “Se vives de acordo com as leis da natureza, nunca serás
pobre; se vives de acordo com as opiniões alheias, nunca serás rico”.
A Profª. Lourdes (de bermuda e blusa rosa), alunos e mateiros.
A escola tinha nos facultado o aluguel de um bom ônibus,
novo e confortável, os alunos eram uma empolgação só, o trajeto era rico de
paisagens ecológicas muito facilmente trabalháveis pela didática. À época eu
estudava muito, todas as minhas aulas eram previamente impressas e distribuídas
aos estudantes. Profª. Lourdes era e continua sendo uma das mais brilhantes biólogas
da minha relação de convivência. Faltava nada para o sucesso. Nem a estradinha
do terço final do trajeto poderia ameaçar, apesar de faltar muito para chegar à
categoria de carroçável.
Em fim chegamos ao nosso destino, uma área realmente
interessante: floresta densa de várzea, um cerradinho para um lado, igapó do
outro, a marca de antropização do quintal da residência aonde sediaríamos os
alunos e, o rio majestoso no seu curso final se apresentando barrento por causa do
encontro com o Rio Amazonas.
Deixei os alunos aos cuidados da Profª. Lourdes e fui me
reapresentar ao dono da propriedade - já tinha estado com ele antes - que falaria sobre seu modo de vida, cederia
e conduziria sua pequena canoa para a experiência de alunos. O homem não estava
em casa, a esposa avisou que ele tinha ido caçar logo ali, estava nos
aguardando, era só gritar o grito sinal da família. O que foi feito.
Os alunos aguardavam quem vinha nadando
Desembarcamos os alunos e aguardamos na barranca do
rio, de repente começamos ouvir lambadas compassadas sobre a água, no ritmo de
quem nadava. Era o homem que se apresentava para o inicio efetivo da nossa
aula: do jeito que ele vinha já era um item da ecologia que buscávamos entender.
Uma batida na água era suave outra uma pancada.
De repente o homem irrompeu ante nós, trazia nas
mãos a caça abatida: um macaco, já pelado, ainda com as patas negras.
A carne de alguns macacos faz parte da dieta do caboclo amazônico
Foi o fim do mundo. Horror para alguns alunos. Brincadeira
para outros. Espanto para todos. Perdi o controle da situação, não sabia o que
dizer. Socorreu-nos a Profª. Lourdes., citando Leonardo da Vinci:“A necessidade é a melhor mestra e
guia da natureza. A necessidade é terna e inventora, o eterno freio e lei da
natureza”.
E depois
Goethe: “A natureza reservou para si tanta liberdade que não a podemos nunca
penetrar completamente com o nosso saber e a nossa ciência”.
Foi uma mão na roda, passado o choque consegui
auxiliar a Profª. Lourdes na aula que eu deveria ter conduzido auxiliado por
ela. Faz tempo que não nos encontramos, mas das vezes anteriores concordamos
que o inusitado criou para nós a oportunidade de uma aula riquíssima, inesquecível
até.
Se fosse uma cotia não teria impressionado tanto
Mas não era para tanto, o próprio Sêneca (4 a.C –
65 d.C), mais de dois mil anos antes já tinha dito: “Os progressos obtidos por meio do
ensino são lentos; já os obtidos por meio de exemplos são mais imediatos e
eficazes”.
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