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sexta-feira, junho 24, 2016

GENTE MEDONHA

Depois da Lava jato o Brasil é outro – os brasileiros ainda são os mesmos, mas logo não o serão. O noticiário tem sido a mesmice: indiciados, conduzidos coercitivamente, interrogados, delatores, delatados, condenados, amarrados com tornozeleiras eletrônicas.
Fora da Lava Jato, tudo na mesma: roubalheira sem fim, os de sempre roubando o mesmo Brasil.
Dado ao noticiário de todos os dias, todos os dias penso no que diria o meu amigo Bonfim Salgado se ainda estivesse aqui na terra perdendo tempo em conversas comigo – agora fala-me do alto.
Tagarelamos muito sobre essa opção nacional pela corrupção, vezes iguais nos perguntamos que diabos habitavam os corredores dos tribunais de justiça, e com que força atuavam sobre seus juízes impedindo que se decidissem a por fim na roubalheira nacional e grilhões nos tornozelos dos ladrões que estavam submetendo a nação. A isso Bonfim respondia: “é uma gente medonha”.
Bonfim foi para mim como o são os verdadeiros bons amigos, quando ele morreu senti perto o dia em que também eu iria desse mundo. Não diria que morreu, mas diminuiu muito com a ausência dele o estilo do escrever jornalístico aqui na pagina Amapá. Era laborioso na arte de pintar jornais com as letras, tanto que dava a impressão de que todos podíamos fazer igual. Ilusão, impossibilidade, ele sabia naturalmente escrever “difícil” com extrema simplicidade, mas com isso não inibia, ao contrário estimulava seus leitores.
Nos tempos dos nossos drinques, quase diários, que também eram tempos dos seus grandes escritos, pensava eu lá do alto da minha mesquinharia: se não fosse eu próprio gostaria de ser o Bonfim com a caneta nas mãos, na base dessa notória mesquinharia diria a mim mesmo: você não pode querer ser um João Ubaldo, um Cony, um Jânio, um Élio Gaspari.
Parecendo adivinhar esses meus querer ser, muitas vezes ao telefone, na mesa de bar, nas redações, aqui em casa o Bonfim dizia-me a saudação costumeira: “não entendo, porque você tendo tudo do amapaense seja mineiro”. Assim fomos de monólogos e diálogos até que sem mais nem menos chagou a morte para ele, se bem que o sei que teve nisto um pouco da sua mania de não voltar atrás de decisões tomadas.
Ele no reino dos justos e nós aqui na nação do “petrolão”, do Machado e do Cerveró e do Barusco e do Youssef e do Vacari e do Delcidio e deles e não mais nossa, segue a vida segundo a Vara do Juiz Federal Dr. Sergio Moro. Vida que segue muito pouco segundo a parábola do mestre - a Cesar o que é de Cesar.
Claro está que a moeda que tanto roubaram é o Real, porém, na equivalência do Dólar, ou seja, três por um, quatro por um. Nem um níquel da quadrilha fora encontrado nos bancos do Brasil, tudo lá fora, em dólares - embora pareça que o STF não acredita nisso.
Debocham, delatam, pintam e bordam, devolvem o que eles próprios declaram que roubaram, se explicam como refinados assaltantes, e ao fim e ao cabo são condenados a viver reclusos por dois ou três anos em suas mansões (construídas com parte do botim) vigiados por uma tornezeleira cara, paga pelo contribuinte.
Até ouço o Bonfim esclarecendo essa fase da vida nacional: “fosse na China pagariam a bala que os fuzilariam, aqui nem a tornezeleira, é uma gente medonha”.             




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