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quarta-feira, fevereiro 23, 2011

MINHA HOMENAGEM À LUARA

AMIGOS PARA SEMPRE É O QUE NÓS DEVEMOS SER.
cesarbernardosouza@bol.com.br.

Para muitos o coração é a sede dos sentimentos, não devia ser tão pequeno como um punho fechado, também é “deposito” das memórias cerebrais. Assim não fosse nenhum ou poucos sofrimentos estariam a nos esmagar tanto depois, especialmente da morte das pessoas que de alguma forma amamos. Fiquei pensando nisso e boa parte do tempo em que estive no velório da Luara, ontem, 22 de fevereiro.
Sabê-la morta não me convenceu, vê-la sobre a pedra mortuária mortificou-me “de morte”. Apesar de mãe de Luiza, uma menina já dos seus 6 anos, Luara era outra de 27, com pouquíssima vida para trás e toda para frente em se supondo que vivamos medianamente cerca de oitenta anos. Não sei se ela viveu muito ou pouco, mas morreu cedo!
Deixou marcas indeléveis nas pessoas com as quais conviveu, uma delas o sorriso sem igual. Quando Luara mudou-se para o lado da minha casa, coisa de 25 anos atrás trouxe para as redondezas a beleza impressionante desse sorriso, embora não fosse uma dessas crianças extrovertidas que acham graça em qualquer coisa ou têm facilidade para provocar o riso em seus interlocutores. Iluminava quando ria.
Aos poucos fomos vendo Luara crescendo, engrossando o corpo, se modificando segundo suas idades fisiológicas sem, contudo modificar seu modo de andar: digamos como que uma patinha. Era outra de suas marcas indeléveis.
Estudante, praticamente todos os dias a víamos passar indo ou voltando da escola, sempre ou quase sempre acompanhada da mãe Katia. Muitas vezes atrás da mãe, distante uns dez metros, sinalizando algum pequeno desacordo entre elas. Coisa própria de adolescentes e jovens.
Aqui em casa existem fotografias desse tempo de Luara misturada às outras crianças que às vezes se juntavam por causa da piscina. Danilo, meu filho, e ela tinham praticamente a mesma idade.. eram amigos.
Muita pretensão minha ou de certo ouvi dizer sobre “namoro” entre eles muito antes da “idade certa” de namorar. Coisa das crianças.
Mais dias menos dias vejo Luara passar na rua em frente de casa, porém com o andar de “patinha” mais pesado que de costume . Aliás, para ser justo, devo dizer: mais charmoso que de costume. Ela estava grávida há alguns meses da Luiza.
Não sei que palavras escolhi para saudá-la em sua radiante beleza de mãe gestante, mas não me esqueço que me respondeu com o mais belo sorriso que se possa imaginar e que não se pode esquecer. Depois ela “desapareceu” por alguns dias.
Reapareceu com a sua criança no colo, mas outra Luara: mais seios, mais anca, mais sobriedade no semblante, mas o mesmo sorriso iluminador.
Nossos “encontros” foram escasseando até que nos vermos se transformou em acaso., contudo meu coração e cérebro já tinham criado em mim um sentimento bom pela Luara.
A ultima vez que a vi pisando a nossa rua pode ser medido em cerca de trinta dias atrás. Passei por ela na Rua Marola Gato quase no final do seu terço inicial, bela em seu traje azul marinho que agora o soube uniforme de trabalho da loja onde se empregara. Quer dizer: Luara “ batalhava o leite da sua cria”.
Kátia, sua mãe e “adotiva” da pequena Luiza enquanto Luara trabalhava, todos os dias a via conduzindo a neta para a escola. Às vezes a via quando levava e quando trazia a pequenina para casa, lembrando-me de quando fazia o mesmo com a Luara. Vendo-a recentemente nessa tarefa, dirigindo-me a ela como nos permite e recomenda a amizade nem percebi que sofria por causa do estado de saúde da filha. Somos assim, descuidados!
O “chicote” foi e voltou. Intempestivamente Consola me disse que Luara estava gravemente enferma, já internada carecendo de cuidados médicos especialíssimos. Dois dias depois Consola entrou no quarto chorando copiosamente, até me assustando porque não faz muito que ela mesma precisou de nove dias de internação hospitalar. Mas, pior, chorava porque Luara acabara de falecer.
Fui ao velório dela, a bem dizer: um lindo velório feito de centenas de pessoas que a amavam, admiravam, queriam bem. Segui seu féretro até o Cemitério São José. Rezei por sua alma enquanto seu corpo permaneceu à beira do tumulo. Aplaudi quando em fim a urna funerária baixou à sepultura. Chorei mais um pouco vendo encerrar dessa maneira a história da minha vida junto com a Luara.

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