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quinta-feira, março 04, 2010

DO BLOG DO BONFIM SALGADO - 05 Mrço 2010

PARECE QUE FOI ONTEM – Bonfa- 27/02/2010


No dia 19 de novembro de 1995, um domingo ensolarado, o jornal “Diário do Amapá”, publicou a entrevista que hoje trazemos ao Blog (bonfa.wordpress.com), com absoluta exclusividade. Foi há 15 anos. Porém, os temas, parecem atuais no tempo e no espaço. O nome da coluna era “Gente Daqui”.

“É fácil vê-lo andando, solene e compenetrado, pelas ruas de Macapá. Às vezes, no braço, pende um clássico garda-chuva e um tradicional monte de livros e cadernos. Antonio Munhoz Lopes, ex-seminarista, pesquisador, professor de Literatura, Português, Latim e História da Arte. Advogado por formação, globe-trotter, descende de espanhóis e elegeu o Pará e o Amapá, como terras de sua predileção. Quem não conhece o professor Munhoz? Este refinadíssimo intelectual, escritor de quilate quase inigualável, ostenta o currículo e as glórias de ter contribuído, ao longo de décadas, à formação humanística de várias gerações de amapaenses. Um orgulho da cidade. Um ser humano que vale a pena conhecer de perto.”

(Entrevista e Texto: Bonfim Salgado)

ANTONIO MUNHOZ LOPES

Filiação: José Ayres Lopes e Izabel Munhoz Lopes (falecidos)

Comida: Pato no tucupi e maniçoba.

Perfume: Não tem um favorito.

Música: Erudita.

Profissão: Professor Secundário e Universitário.

Amigos: Uma porção, no mundo inteiro.

Amizade: A melhor coisa do mundo.

Flor: Todas elas, dependendo de quem olha, são bonitas.

Melhor hora: Ao nascer do sol. As coisas parecem mais sagradas.

Religião: Católica Apostólica Romana.

Bonfim Salgado – Munhoz, é difícil, terrivelmente difícil, entrevistar amigos. Comecemos por Macapá. Há quanto tempo você está aqui?

Antonio Munhoz – Em outubro passado, fez exatamente trinta e seis anos que por aqui cheguei. Vim com meus 27 anos. Portanto, sou hoje mais amapaense que paraense. Estou com 63 anos bem vividos, no ápice de todas as minhas potencialidades.

BS – Consta que você nasceu numa quarta-feira de Cinzas, é verdade?

AM – Sim, é verdade. E como já disse à Lana, jornalista paraense, não sou triste, por isso. Ao contrário, sou bem alegre, comunicativo, e adoro a vida com tudo o que ela tem de bom. A vida para mim, até hoje, tem sido uma constante novidade.

BS – Voce nasceu mesmo em Belém?

AM – Sim, sou paraense legítimo, paraense da gema. Gosto de farinha e de pato no tucupi, assim como de maniçoba, casquinha de muçuã, de bacuri, açaí e cupuaçu. Aliás, quanto mais eu viajo, mais eu gosto de Macapá e de Belém. Sinto-me, por assim dizer, preso às raízes.

BS – Como foi essa história do seminário?

AM – Vivi muitos anos – a minha adolescência toda – em dois seminários, em Belém (Pará), e São Luís (Maranhão). De ambos, guardo inesquecíveis recordações. Foram alguns dos melhores anos de minha vida. O seminário me marcou profundamente. No meu lado bom, ainda sou seminarista.

BS – E no lado mau?

AM – Também! (risada).

BS – Pois bem. Então, por que você não chegou a ser padre?

AM – Porque não fui escolhido. “Muitos são chamados, mas poucos os escolhidos”, não é assim? Deus, também tem os seus prediletos. Ele sabe a quem escolher, a quem deve marcar com o seu sinete. Deus sabe o que quer e a quem quer.

BS – Qual é a sua definição de um padre?

AM – Um homem que deve viver no mundo, entrosado no mundo, sentindo e tentando resolver os problemas do mundo, sem ser, todavia, do mundo.

BS – O cônego Ápio Campos, respeitado escritor e intelectual paraense, uma vez, descreveu o Munhoz delegado de polícia. Como é essa história?

AM – Ele fez lirismo, poesia à meu respeito. Disse ele que eu andava prendendo muita gente e dava à polícia local “um clima de cenáculo literário”. Dizia, ainda, que meu escrivão era quase um poeta, meus auxiliares aproveitavam as folgas para ler contos e romances e que “os próprios encarcerados eram obrigados a ler, em obediência à portaria baixada, várias páginas de antologia por semana.”

BS – Cadeia literária, heim?

AM – Cadeia, não, biblioteca. (risos).

BS – Há quanto tempo você é membro do Conselho Estadual de Cultura?

AM – Há onde anos. Sou decano. Pena é que o Conselho, no momento, esteja perdendo as suas características de Conselho de Cultura, tornando-se uma espécie de associação de amigos da arte e da literatura. Um clube de amigos. O Conselho está enveredando por um caminho errado.

BS – Diga-nos dois grandes prazeres de sua vida?

AM – Há outros, muitos outros, mas dois dos mais importantes são , sem dúvida alguma, ler. Nunca passei um dia sem ler. E viajar. Viajar, não como mero passatempo. Mas como um enriquecimento cultural.

BS – Quais as cidades do mundo, no seu ponto de vista, mais bonitas?

AM – Em primeiro, não posso deixar de citar Paris, que é sempre uma surpresa. Depois, Praga, simplesmente deslumbrante. Veneza, Florença, São Petersburgo, Buenos Aires, Toledo. O nosso Rio de Janeiro, é uma cidade que só há pouco conheci. Há outra cidade que me fascinou muito, Bruges, na Bélgica. Há outras que, no momento, eu não lembro.

BS – Você escreveu coisas belíssimas sobre a Mazagão da África?

AM – Sim, até mesmo para chamar a atenção dos amapaenses, para essas raízes históricas. Estive três vezes na Mazagão africana. Tenho um fascínio pelo Marrocos, onde já estive quatro vezes. Destaco, nesse país, as cidades imperiais, principalmente, Fez, a mais antiga, berço de milenária monarquia e centro cultural e religioso do Marrocos.

BS – O que é viver em Macapá?

AM – É viver ainda com uma certa tranqüilidade, apesar da violência que domina a cidade. Veja: no último assalto à minha casa, levaram todas as garrafas de uísque escocês, os vinhos do Porto, os CDs. De música erudita e uma sacola cheia de perfume francês, presentes de amigos.

BS – Ladrãozinho refinado e de bom-gosto, não é mesmo?

AM – Concordo. Eu trabalho de manhã, de tarde, de noite. A minha vida se resume apenas no trabalho. Por isso, em julho, ninguém me agarra. Minhas férias são sagradas. Como não sou de ferro, aproveito para conhecer o mundo.

BS – E o nível intelectual da juventude amapaense, como está?

AM – Parece incrível, mas intelectualmente falando, está involuindo. De início, a juventude não gosta de ler. Não tem o mínimo interesse pelas coisas do espírito. Em sala de aula, a dissipação é completa. Disciplina, para os jovens, é coisa do passado. É uma lástima. E na balbúrdia, ninguém evolui. Há dias, numa sala do terceiro ano Colegial, quase fui agredido, quando disse que as letras das composições dos “Mamonas Assassinas” eram puro lixo. Como disse Celso Manson, da revista Veja, “Mescla de grosseria e cretinice.” Infelizmente, o mau-gosto domina o mundo.

BS – E na política? Você já foi candidato alguma vez?

AM – Por que, para quê? Como os valores já não são os mesmos do passado, os políticos de hoje, na sua maioria, não pensam mais em trabalhar pelo povo, mas apenas em beneficiar-se, olhando para o seu bolso, para a sua conta bancária. Político, na sua verdadeira acepção, hoje, é como agulha em palheiro. Encontrar um de verdade é dificílimo.

BS – E o Brasil, tem jeito?

AM – Tem jeito, sim. É só os homens públicos criarem vergonha na cara e se conscientizarem da importância do papel que devem desempenhar, para o progresso da Nação. Na verdade, eles não pensam na gente, isto é, no povo. Só pensam em si, naquilo que é bom para eles. A Nação que se lixe.

BS – E o famoso livro – não escrito – que você nos deve?

AM – De fato, você tem razão. Ainda há pouco, em Belém, o amigo Acyr Castro, jornalista, me cobrava ao menos um livro sobre minhas viagens. Mas, tempo que é bom e necessário, para escrever, eu não tenho, francamente. Vamos esperar um pouco. Vou criar coragem de deixar as aulas. Aí, sim, o tempo vai ser todo meu. Escrever, exige tempo e, com o tempo, conquista-se o mundo.

BS – O que você ainda deseja da vida?

AM – Saúde, paz de espírito, dinheiro, disposição para viajar e lucidez, para viver ainda muitos anos. Tenho a sensação de que só agora é que estou começando a viver. Viver é um dom de Deus.

“ Eis o homem. Aquele que cita os museus, catedrais históricas, pintores renascentistas e autores clássicos, numa simples conversa de meia hora. O professor Munhoz, homem do mundo, cabeça arejadíssima e atenta, olha no relógio. Levanta-se, agradece educadamente, fala com todo mundo à sua volta e sai. Está ligeiramente atrasado para uma aula de Literatura, no Colégio Amapaense.”

Aqui, eu faria uma simples pergunta: Esse texto, publicado há 15 anos, serve ou não para os dias e acontecimentos atuais do Amapá e do Brasil











SERRA, DILMA, CIRO, VIVOS E MORTOS

AGENDA GERAL

ESTÃO EMBOLADOS

Ora, após aqueles obas-obas e ufanismo do tal congresso do PT, isso já era esperado. A última pesquisa do Datafolha, indica que a diferença percentual – entre a ministra Dilma Rousseff (PT) e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB) – caiu de 14 para apenas 4%. Os economistas sabem melhor que nós o seguinte: quatro pontos, não significam vantagem, nem maioria e devem ser computados como “empate técnico.” Dilma e Serra encontram-se literalmente embolados na preferência popular

TASSO NO HORIZONTE

Como a tucanada não costuma dormir de touca, há um plano B, para escolher o vice de Serra: o chapão pode ter o nome do senador cearense Tasso Jereissati. As conversas foram fechadas na semana passada, logo após Serra ir a Minas, entender-se com o governador Aécio Neves. Os mineiros querem-no para o Senado e Aécio está disposto a montar o cavalo encilhado, para cavalgar a preferência de quase 80%, que o eleitorado mineiro lhe dá, hoje. Por que arriscar o certo, pelo duvidoso? Uma eleição presidencial é sempre um jogo extremamente pesado e difícil.

ENTERRO PREMATURO

Não tinha lhes avisado que esse ensaio de candidatura presidencial de Ciro Gomes (PSB), era pura balela? Pois aí estão os números das pesquisas. O problema foi que a vaidade do rapaz subiu-lhe à cabeça, quando determinada pesquisa, em outubro/novembro de 2009, deu-lhe uns 12% positivos. Foi o bastante para ele sair Brasil a fora, boquejando liderança, mudança disso e daquilo, “novas alternativas sustentáveis”, e esse discurso blá-blá-blá do PSB, que não leva a lugar nenhum. Resultado da ópera: ele admite rever seus planos e candidatar-se mesmo ao governo de São Paulo. Onde, cá pra nós, acho que ele vai dar com os burros, a carroça e as melancias n`água.

SAPÁTOS ALTOS

Altos, não, altíssimos, anda calçando a ministra da Casa Civil. Dilma Rousseff. Ela pensa que já é a presidente do Brasil. Sua discursalha, carrega aquelas cores altamente demagógicas e água com açúcar do PT nacional. Partido que também pensa que somos todos idiotas e cavalgaduras. Lula/Dilma, insistem nas comparações entre o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os marketeiros oficiais dizem que deve ser assim e pronto. O que não se entende é dona Dilma fugir, apavorada, de uma convocação, para comparecer à comissão do Senado (para explicar a política de direitos humanos do governo federal), quando deseja, simplesmente, governar a nação. Que diabos de candidata é essa, que tem medo de meia dúzia de senadores? Devia ter ido lá, dado seu recado, tomado cafezinho e água gelada e descido pela rampa de cabeça erguida.

ASSEMBLÉIAS CARÍSSIMAS

Apesar de protagonizar um dos escândalos mais cabeludos de 2009, a Câmara do Distrito Federal, deve gastar este ano a bagatela de R$ 14 milhões, per capita, com seus deputados. É a mais cara do país. Depois deles, os parlamentares mais caros são os de Minas (R$ 10,3 milhões) e os de Santa Catarina (R$ 8,2 milhões). Vejam só a farra: estamos em pleno ano eleitoral, mas as 27 casas legislativas do país, receberão juntas R$ 6,7 bilhões, incluso aí um aumento de 13% em relação a 2009. Tudo bem. Mas, digam-me, onde vocês viram os trabalhadores em geral terem aumento de salários de 13% no Brasil?

BENESSES E MORDOMIAS

No Amapá, não se tem notícia de que a Assembléia Legislativa do Estado, quando menos, mantenha um serviço social, um centro de informática para a juventude, por exemplo. Todavia, nossos 24 deputados devem custar nada menos que R$ 6,1 milhões cada. O que, divididos pela população atual, significa uma tunga em nossos bolsos (bolsos de todos!), de R$ 235,09. Comparando, Roraima, cujo orçamento caiu em 2010 – igual ocorreu aqui – tem o maior custo (per capita/habitante) entre os 27 estados: R$ 258,00. Deu pra entender como se fabricam as mordomias e benesses nesse país de mentiras?

BOM PROJETO

O economista Chelala tem razão. Esse projeto da futura hidrelétrica em Ferreira Gomes, pode viabilizar, a curto e médio prazos, o desenvolvimento sócio-econômico pleno daquela região e do Estado. A previsão de gerar quase 300 megawatts de energia, sem dúvida, coloca a obra como melhor alternativa que o tal linhão de Tucuruí – que exigirá investimentos altíssimos, sem oferecer-nos nem metade das vantagens de ter uma nova usina hidrelétrica no Amapá. Que dará um basta nessa acachapante condição de – em pleno século 21 – ainda gastarmos 800 mil litros/dia de diesel, para rodar motores de onerosas termelétricas.

E O DISCURSO?

Ontem, num desses programas radiofônicos matinais – aliás, todos insistem em começar às 7h – ouvi, atentamente, as perorações da deputada federal Dalva Figueiredo (PT). Ela só faltou falar da fórmula da bomba atômica. Disse quase tudo. Deixando claro que os petistas, por várias razões, não querem assunto com os tucanos (PSDB), principalmente ouvir falar de aliança com o deputado Jorge Amanajás. Pela enésima vez, indago: por que essa intransigência? A nobre deputada não poderia ter aproveitado melhor o horário e divulgado um programa viável, moderno e democrático do PT, para o Amapá? Tem que ter discurso. No grito, não dá.

CORDIAIS & FAGUEIROS

Pelo menos agora, nesse início dos embates eleitorais, o relacionamento entre os próceres, caciques e sobas do PT do Amapá – quem diria! – anda às mil maravilhas. Ontem e hoje, no rádio, a deputada federal Dalva Figueiredo e o pré-candidato ao Senado, advogado Wagner Gomes, trocavam elogios e juras de amor político eterno. Menos mal. A distinta deputada Dalva, eleita porta-voz, quase oficial, da direção nacional do partido no Amapá, parece ter engolido um gravador. Está falando pelos cotovelos. Sinal de que, lá adiante, quando o caldeirão da campanha estiver fervendo e triturando uns e outros, menos avisados, pelo menos ela pode dizer: “Bem feito. Não lhes falei que política, no Amapá, é um troço complicado?”

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