Translate

sexta-feira, março 18, 2011

PENSE NISSO!

TUMULO E FLOR


cesarbernardosouza@bol.com.br



Parece que não, mas há uma intensa relação ecológica entre uma flor, um tumulo e um cemitério. Flor sobre tumulo representa, essencialmente, sentimento emocional entre pelo menos duas pessoas, a morta e a viva que a colocou lá. E pode simbolizar uma ligação bem mais ampla entre famílias, comunidades, uma nação e mesmo entre nações.

Uma flor sobre o tumulo do Airton Senna pode estar ali por iniciativa de um cidadão de qualquer lugar do mundo, o mesmo pode se dar no tumulo do Michel Jacson, Ghandhi, Jesus. É universal esse sentimento por trás da flor.

Tão ampla relação ecológica a partir de uma flor e de um tumulo também pode apontar para enormes problemas ambientais referenciados por cemitérios. Problemas graves o suficiente para confrontar realidades importantes que ao cabo nos levem a mais esforços para compreendermos melhor a problemática, e a partir daí ampliarmos a nossa capacidade de mitigá-la, de formatarmos melhor também as nossas cobranças sobre procedimentos politicamente corretos da gestão publica e privada dos cemitérios.

Quando se olha (e vê) uma flor sobre um túmulo cresce dentro dos olhos um “jardim” de túmulos, nesse caso (por que não dizer) uma montanha de marmorite, mármore, lajota, bronze, níquel, cimento, madeira, tinta, lona plástica, folha de alumínio, plástico, vidro, ferro... tudo ao alcance dos olhos e das mãos.

E não é só, aos “olhos” do coração, dentro desses túmulos, na faixa infra-superficial, estão corpos humanos ainda em decomposição, muita madeira, ferro, cobre, níquel, bronze, tecidos e tantos outros “poluentes” que são enterrados com os cadáveres como adornos dos caixões. Como revestimento desses túmulos tem muito mais cimento. Tudo isso foi extraído do mundo natural às vezes sem tanta necessidade.

Quando multiplicamos tudo isso pelos milhões de pessoas que anualmente morrem no mundo passamos a entender melhor o tamanho da problemática que está por trás dos cemitérios. E não desconsideremos que com o avanço de dengue no mundo, mais Aedes aegypti, mais pesticidas aplicados no perímetro desses espaços quase sempre urbanos, centrais.

Chegará o dia, e deve estar perto, em que essa realidade urbana terá que dar lugar a outra mais natural e igualmente respeitosa aos mortos. Logo chegará a até nós a “mania” de enterrar nossos mortos em túmulos menores, em caixões confeccionados a partir de materiais reciclados (papelão, moinha de madeira, folhas secas..), embalsamar com produtos muito menos tóxicos, substituir caixões por mortalhas, cobertores, lençóis de algodão. O chão dos cemitérios será coberto por gramados e não mais cimento.

Passaremos a identificar os mortos e ligá-los aos seus familiares com letras, cruzes e imagens bem menores das que hoje usamos com certo estardalhaço. Sobre essas lápides do futuro nunca deixaremos de ver flores, mas certamente cultivadas em jardins. As de plásticos serão abolidas.

É claro que nos cemitérios também tem árvores, pássaros, outros animais, elementos que também estão intimamente relacionados com a flor vista sobre o tumulo, mas que esses valores ambientais não se percam.



Nenhum comentário: