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terça-feira, julho 15, 2014

DISTANTES DA PAZ

c-bernardo2012@bol.com.br
Os habitantes de Israel e da Palestina parecem habituados às batalhas e às bombas, mas isso não importa nada depois das explosões. Sobram crianças e adultos mortos aos pedaços, horrorizando o resto mundo com imagens de prédios e até quarteirões inteiros no chão, e debaixo dos escombros centenas de pessoas, dezenas de cadáveres.
De vez em quando vem desse palco macabro imagens fantasticamente renovadoras da fé na vida e na perfeição que é a espécie humana, na medida em que crianças estão sendo resgatadas sob esses escombros depois de dias sem água e comida e com pouco oxigênio para respirar. No mais das vezes respirando um ar contaminado pelo processo de decomposição dos cadáveres em volta.
Dois dias atrás assistimos pela televisão o resgate de um bebe com poucos meses de vida, uma coisa emocionante que até faz a gente chorar quando finalmente salva a criança saúda o mundo chorando como se estivesse saindo da placenta materna.
Acho que o mundo inteiro se alegrou com isso, e desejou vida longa àquela criança.
Homens duros, marcados pela guerra, soldados alguns, aparecem no vídeo vasculhando ruínas até mesmo em busca de alguma fotografia que lhes fique como lembrança material da esposa e filhos mortos e sepultos sob aquelas montanhas de cimento e aço.
Essa guerra sem fim que travam Israel e Palestina tem que razoes irrefutáveis, que ponham de um lado e outro dois povos donos de países transformados em altar por causa da dor, e em templo por causa da fé no futuro.
Nunca soube nada sobre Israel ou Palestina, dos seus guerreiros, dos seus gênios, poetas, cientistas, desportistas, artistas de qualquer arte. Mas, sempre ouvi falar dessas e outras batalhas cheias de muitas renuncias e sacrifícios que nem sempre triunfam, mas que ao final purificam.
Olhando o Oriente Médio pelos olhos dessas guerras, mas com a suavidade do rosto do recém-nascido que encontrou o resgate depois de dias da tragédia, é possível descobrir na guerra povos parecidos com o oceano agitado que encanta e afronta e com um lago quieto que de repente deslumbra e transborda.
Porém, vendo agora aquela gente posta nas ruas a espera de outros misseis, ou por causa das consequências de tantos outros que já chegaram ao seu destino, admite-se que pais, filhos, parentes, amigos, israelense e palestino de alguma forma, pelos longos dias à frente não podem mesmo pensar em nada concretamente, não terão palavras bem ordenadas, ficarão vazios de sonhos, aparecerão na televisão para o resto mundo com o semblante opaco, sem auréola na fronte. Tudo uma pena, um desperdício de vidas preciosas.
Pode ser que não chegue a um sequer daqueles irmãos orientais, um par de sapatos, um mísero quilo de arroz frutos da solidariedade do povo brasileiro apenas porquê a Israel e Palestina estão  plantados onde nos parece terminar a terra, e o Brasil onde se acredita começar o céu. Tudo isso é possível, e, pode até não importar nada que o seja. Eles são guerreiros, as crianças são treinadas para a guerra, se acostumaram com a guerra e por isso, continuarão a guerra.
Mas, palestinos e israelenses saibam que os brasileiros conhecem bem o peso das tragédias humanas sociais e econômicas que se abatem sobre eles por causa de intolerância histórica entre si.
Contudo, temos solidariedade, fé no futuro, braços para o abraço  e um desejo incontido de que encontrem a paz,  conforto espiritual e consigam recapturar a alma de sob tantos escombros.
Outra vez aparece a sensibilidade poética de Fernando Pessoa: “...Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor...”.



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