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sábado, janeiro 23, 2016

PROFESSORA YEDA DE ARAÚJO PORTO.


c-bernardo2012@bol.com.br

De vez em quando passo mal, momentos em que não tenho sido capaz de evitar pensar que a vida possa estar chegando ao fim. Ontem passei por mais uma noite assim, mas não toda escura.  
Quando assim sempre me vem à cabeça a lembrança dos meus professores – é o desfile da própria vida diante da vida que tenho hoje. Talvez alguns não ressurjam, mas no geral lembro um por um, cada qual com sua época, com as marcas que deixaram em mim.
Graças a Deus eles são uma “infinidade”. Para um só aluno, são infinidade sem aspas: Aparecida Torres – Yolanda Marques – Tereza Rios – Clélia Lamim – Lalá Furtado – Maria José Nazar – Mariinha Maciel – Lilllian - Marisa Guedes – Maria José Abreu -Vania Aguiar – Aparecida Aguiar - Lélia Andrade - Pontes – Ir. Celina – Ir. Ivone – Ir. Antonieta – Ir. Luiza – Ir. Emereciana – Ir. Dirce - Ir. Dilce - Ir. Cornélia – Ir. Teresinha – Nilza Cavalcante – Adriano Peraclio – Moita – Mathias – Ivan – Emetério – Mariano – Deyse – Iracy – Angela – Arthur – Marlene – Duzi - Bruno Carbocci - Ercilio - Roberto L. Bonfin - Rodholfo Caniato – Celso Monerat – Arnaldo Bittencourt – Olymar Bittencourt – outros e outras tantas.
Cada um deles e todos eles foram modulando novas vidas que sabiam que estavam à minha frente, como de fato o foi. Mas, ainda não citada, um desses professores, no caso uma professora, fez marca profunda em minha vida: Yeda de Araújo Porto.
E foi assim: esteve comigo por pouco tempo, apenas ao longo dos quatro anos em que convivemos nas respectivas obrigações do ensino primário no Grupo Escolar “Capitão Goday” – quatro breves e longos anos. Não me lembro de aula ministrada por ela a mim, mas não me lembro de outra Diretora que não fosse ela nesse período.
A Prof. Yeda era uma diretora muito rígida e em momentos, temida. E era uma mulher bonita, alegre, elegante, educada, que, portanto, não devia ser temida. Mas era., e não só por mim.
E foi por fazer-se temida que deixou em mim a melhor marca que a escola conseguiu impingir-me. Não teria eu saído a coisa melhor sem isso, me conhecendo como conheço sei que sem os limites que ela a mim determinou outros caminhos na vida teria tomado – todos com sinuosidades perigosas. Gosto muito da Professora Yeda por causa dos limites que ela me impôs – na marra.
De uns anos para cá ela caiu doente, como eu tem câncer no intestino. Em 2013 foi quando a vi pela última vez, na igreja, em julho quando estive em Volta Grande, nossa cidade, mais uma vez em férias. Ela estava bem, mas percebi que queria colocar distancia entre si e pessoas não assíduas em suas relações de convivência. Mesmo assim nos dissemos de uma conversa mais amiúde em sua casa, o que até hoje não ocorreu.
Varias vezes intentei chegar a ela, por terceiros ao seu redor mandei recados dessa minha intenção. Depois de pouco mais não desisti, mas resolvi que deveria observar com cuidado o seu direito à privacidade - especialmente eu que conheço na alma e no corpo as “exigências” que faz o câncer de intestino. A Professora sofria!
Ela já passou dos 80 anos, não sei como vive, mas desejo que o venha fazendo de forma suportável, sem grandes sacrifícios. Não sei que homenagens lhe chegam, mas me alegraria com ela se viesse a saber que isso não lhe falta. Afinal, ao seu tempo, erro não há em dizer que um povo inteiro foi seu aluno – logo, há um povo inteiro na condição de seu ex aluno.
Como disse, ontem estive mal, outra vez submetido aos rigores da doença, mas com ela em meus pensamentos., aliás, melhores pensamentos. Como a revi ontem virtualmente, gostaria de revê-la pessoalmente. Nada que lhe suceda quanto ao câncer ela pode me esconder, a não ser seus pudores de mulher. Mas, ela sabe e também eu, grandes professores não têm sexo, ou melhor, gênero.
E revê-la não depende apenas de sua autorização, há também entre nós uns cinco mil quilômetros de distancia geográfica a vencer até que nos coloquemos ao alcance de alguma mesma sombra. Mas – viva a modernidade – há também a internet, essa que pode imediatamente levar a ela essas minhas palavras de desejo. Palavras e intenções que ela pode transformar em homenagem ou não. Além da internet existem pessoas que podem convence-la de pelo menos ler o que acabo de escrever. Aliás, eu não, minhas mãos não...meu agradecido coração.    


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