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terça-feira, abril 12, 2016

ALMAS

c-bernardo2012@bol.com.br
Algo está errado com a alma, que tinha que ser como sombra – uma pessoa sua sombra, a minha, a sua, a dele, a dela. Não podia andar ao passado, ao futuro, deixando-nos um presente vazio ferindo-nos com coisas vãs. Foi mesmo no Éden que se perdeu a alma una a cada um, deu-se quando Adão caiu no conto do vigário da serpente. Saiu de si uma alma para Eva outra para a cobra.
Escribas lá da pedra lascada andaram a dizer que o homem não é um, carrega Caim e Abel em si mesmo, vive em luta de fé e contra fé, moeda cara e coroa, bom e ruim, deus e demônio, diz-se inclusive que todo homem tem seu lado mulher. Sei lá, certo mesmo é que o homem que vê os dois lados de uma questão é um homem que não vê absolutamente nada.
Ando assim ultimamente, sem saber onde estou.
Lá atrás na adolescência ou na juventude deixei minha alma girar como quisesse, como pudesse. Fui até a paixão de querer ver nos olhos de uma garota luz que nunca me clareou. Aí, outra vez, um homem e duas almas: sonho e paixão, depois segredo e saudade.
Mas não se livra, ninguém, da estrada por onde corre e prospera a dubiedade da alma andarilha que com tanta facilidade vai do passado ao futuro. Essa estrada que nem com desfaçatez se ignora é a saudade, qual seja: apego a um passado que interfere no presente.
Não é estrada boa nem ruim, nem reta nem tortuosa, uma vez que ora é felicidade retardada, ora é lembrança que machuca, ora é reconciliação mental, ora, maioria das vezes, é amor que nunca vai embora. Assim, claro como água limpa, a alma posta no passado ou no futuro deixa-nos perambulando num tempo presente repleto de ausência.
Ainda bem que chegamos ao fim dessa estrada, mesmo sem saber  onde estamos, acabou-se o desconforto de intensas saudades: o face book resolveu quase todas as maiores expectativas de reencontros.
Quanto a mim, pôs-me a alma como a sombra que me deve plagiar os mínimos movimentos à qualquer luz, sem nunca se afastar de mim mais que o dobro das minhas dimensões, nem desaparecer com a luz a pino.
Acompanhado e não apenas guiado pela alma sei sentir falta de quem deixei no passado, sei trazer de volta sons, imagens e até cheiros. Sei voltar temporariamente ao passado e sei resistir a chegadinhas ao futuro.
Vê como tem sim algo errado com a alma? Só com ela voltamos no tempo, suportamos bem o presente, damos chegadinhas no futuro.     

 

 






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