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sábado, dezembro 15, 2012

DESEJO DE MATAR XXVIII



Estourasse agora mesmo a rolha de uma garrafa e dela saísse um gênio, desses que realizam desejos, e a mim fosse permitido um só pedido para se realizar, pediria: nenhuma criança no mundo sofra duramente até que complete seus dezesseis anos.
Ontem, algumas horas ao lado de crianças do Hospital de Pediatria, enquanto a elas se oferecia o grupo do Poesia na Boca da Noite, não pude deixar de pensar nas crianças mortas numa escola primária americana, na cidade de Newtown - Connecticut. Os números já se aproximavam de trinta.
Minha noite de sono foi curtíssima, já quase amanhecia o dia quando dormi um pouco. Até esse momento voltou-me à lembrança imagens do terrível terremoto que vitimou tantas crianças na Turquia em 1999. Imagens ao mesmo tempo renovadoras da fé na vida e na perfeição que é a espécie humana, na medida em que crianças iam sendo resgatadas sob escombros depois de cinco, seis dias sem água e comida e com pouco oxigênio para respirar, no mais das vezes contaminado pelo perigoso processo de decomposição dos cadáveres em volta.
Especialmente me assaltou boa parte da noite a imagem do garotinho que encontrou o resgate depois de cento e quarenta e oito horas debaixo da tragédia. Vendo novamente a luz, acenou olimpicamente para a multidão que o aplaudia.
É lembrar essa passagem trágica da humanidade e não me esquecer da simplicidade com que simplicidade o Sr. Benedito Padeiro (Volta Grande/MG), explicava sua causa: “força da destruição vem do nada”.
E vem de onde o desejo de matar manifesto nessas ações fratricidas que frequentemente registram-se nos Estados Unidos? Seria isso uma potencialização da cultura americana que o cinema nacional faz questão de cultuar na execução de qualquer gênero hollywoodiano?
Não imagino com que grau de realização o americano assiste seus filmes, sempre marcados por destruição, matança, explosões, sangramento, exploração do limite físico humano. Isso pode estar no “DNA” desses assassinos de ocasião. Pode ser quadro de valores para eles.
Muitos de nós sem nunca ter ido aos Estados Unidos fazemos juízo de valor ouvindo falar da beligerância e também da grandeza do povo americano, sempre muito competente e capaz de grandes vitórias e sacrifícios, umas que triunfam outras que, ao final, purificam.
Olhando agora para o país através dos olhos de mais essa enorme tragédia é possível enxergar, nesse momento, um país e um povo parecidos com o oceano agitado que encanta e afronta e com um lago quieto que de repente deslumbra e transborda: forças que vem do nada.
Mesmo nós, brasileiros, permanentemente escandalizados como os nossos assassinatos urbanos sentimos pena da família americana, nos comovemos com o presidente Obama chorando suas crianças mortas, e sem palavras para explicar a mente criminosa. Tudo uma pena, um desperdício de vidas preciosas.
Sei lá se tem razão o Sr. Benedito ou o poeta Fernando Pessoa, um dizendo  “a força da destruição vem do nada” e o outro, celebre, poetando: “Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor...”.












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