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sexta-feira, dezembro 14, 2012

HOSPITAL E POESIA



O Poesia na Boca da Noite voltou ao Hospital de Pediatria para mais um encontro com as crianças internadas ali. Levou poesia de criança e brincadeiras de adultos para as crianças. Dessa vez fui lá, com nó na garganta e lagrimas nos olhos permaneci lá.
Quando cheguei olhei para o andar superior do hospital e vi atrás de pequena abertura da vidraça da janela uma mãe tendo ao colo uma criança parecendo de meses. 
 Ela assistia o que se passava em baixo e expressava-se aflita, como que a traduzir para o bebê o que ela ouvia e via. Sem perdê-la de vista fui chegando para encontrar na “arvore” da poesia o “meu” poema, ao acaso. Dizia o poetinha (9 anos) Asaf Assunção: 
                                                     A arvore da poesia está representada pelo triangulo verde, à esquerda da foto.
 “Existem borboletas de varias cores,
Brancas, azuis, amarelas, verdes, pretas...
Todas elas brincam na luz
E todas tem lindas asas
Com formatos diferentes
Elas voam livremente
Formando arco-iris
No imenso céu azul
Da minha janela eu avisto um tão bela
Que passa agora por mim”.
Depois quis me integrar, como ajuda veio-me ao colo espontaneamente um das menores crianças da turma presente na tenda da poesia. Nada disse. Vasculhou meu bolso e dele tirou meus óculos, não gostou e à conta tomou-me das mãos o telefone celular. 
O encanto do garotinho se deteve no modo fotografia, em cuja tela ele via outras crianças.
Enquanto isso crianças se enfileirava para declamar para as outras acomodadas para ouvir. Um encanto total: crianças mostrando poesia a crianças. Mas, encanto dos encantos: avós recitaram poesias para os seus netos internados no hospital – duas delas se apresentaram sobre o pano da poesia.

A avó recitou para o netinho

Rapidamente os tons da noite tomaram conta do ambiente, outra lembrança não me trouxe que não fosse correr novamente a vista para a janela onde vi na chegada a mãe e o bebê. Elas continuavam lá.
Foi então que dei com os olhos na mamãe e neném indígenas, a curiosidade e o embevecimento do curuminzinho não deixava pensar que estivesse tão doente assim. Ele queria poesia., puxava a mãe pela saia.
Kanaiu e Dário Waiãpi
Fui a elas, a mamãe índia se chama Kanaiu Waiãpi, a criança me foi apresentada por seu nome “de guerra”, mas ante a minha incapacidade de compreender o que a mãe dizia ficou-me o nome civil: Dário Waiãpi.
Está internado por causa de malária, Kanaiu não tem esperança de que seu neném vá ter alta até o natal.
Minha neta estava comigo, nas cadeiras do fundo ela acompanhava a festa com visível surpresa. Não me disse, mas adivinhei que descobria naqueles momentos a extensão do Poesia na Boca da Noite. As mágicas que iam sendo feitas, as brincadeiras inventadas pelas poetas “palhaços”, as encenações a foram encantando.
Não deixei que nossos olhares se cruzassem em momento algum porque assim, creio, evitaria que percebesse que rezava agradecendo a Deus por ela cheia de saúde em meio a tantas crianças esperando autorização daquele hospital para voltarem ser apenas criança.
 Médicas e Enfermeiras também declamaram poesias para seus pacientes mirins
Chegando a minha hora de recolhimento fui ao encontro da Alcinea, um pouco afastada do palco dos acontecimentos – espairecia rendida a tantas emoções.
Chamei-lhe a atenção para a janela do andar superior do hospital, a mãe ainda tinha seu bebê ao colo, continua lá... quem sabe compondo uma poesia para seu bebê.!? 
 Os poetas se embeveceram com os próprios feitos. Foi, realmente, emocionante.

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