O
Poesia na Boca da Noite voltou ao Hospital de Pediatria para mais um encontro
com as crianças internadas ali. Levou poesia de criança e brincadeiras de
adultos para as crianças. Dessa vez fui lá, com nó na garganta e lagrimas nos olhos
permaneci lá.
Quando
cheguei olhei para o andar superior do hospital e vi atrás de pequena abertura
da vidraça da janela uma mãe tendo ao colo uma criança parecendo de meses.
Ela assistia
o que se passava em baixo e expressava-se aflita, como que a traduzir para o
bebê o que ela ouvia e via. Sem perdê-la de vista fui chegando para encontrar na
“arvore” da poesia o “meu” poema, ao acaso. Dizia o poetinha (9 anos) Asaf
Assunção:
A arvore da poesia está representada pelo triangulo verde, à esquerda da foto.
“Existem
borboletas de varias cores,
Brancas,
azuis, amarelas, verdes, pretas...
Todas
elas brincam na luz
E
todas tem lindas asas
Com
formatos diferentes
Elas
voam livremente
Formando
arco-iris
No
imenso céu azul
Da
minha janela eu avisto um tão bela
Que
passa agora por mim”.
Depois
quis me integrar, como ajuda veio-me ao colo espontaneamente um das menores
crianças da turma presente na tenda da poesia. Nada disse. Vasculhou meu bolso
e dele tirou meus óculos, não gostou e à conta tomou-me das mãos o telefone
celular.
O encanto do garotinho se deteve no modo fotografia, em cuja tela ele
via outras crianças.
Enquanto
isso crianças se enfileirava para declamar para as outras acomodadas para ouvir.
Um encanto total: crianças mostrando poesia a crianças. Mas, encanto dos
encantos: avós recitaram poesias para os seus netos internados no hospital –
duas delas se apresentaram sobre o pano da poesia.
A avó recitou para o netinho
Rapidamente
os tons da noite tomaram conta do ambiente, outra lembrança não me trouxe que não
fosse correr novamente a vista para a janela onde vi na chegada a mãe e o bebê.
Elas continuavam lá.
Foi
então que dei com os olhos na mamãe e neném indígenas, a curiosidade e o embevecimento
do curuminzinho não deixava pensar que estivesse tão doente assim. Ele queria
poesia., puxava a mãe pela saia.
Kanaiu e Dário Waiãpi
Fui
a elas, a mamãe índia se chama Kanaiu Waiãpi, a criança me foi apresentada por
seu nome “de guerra”, mas ante a minha incapacidade de compreender o que a mãe dizia
ficou-me o nome civil: Dário Waiãpi.
Está
internado por causa de malária, Kanaiu não tem esperança de que seu neném vá
ter alta até o natal.
Minha
neta estava comigo, nas cadeiras do fundo ela acompanhava a festa com visível surpresa.
Não me disse, mas adivinhei que descobria naqueles momentos a extensão do
Poesia na Boca da Noite. As mágicas que iam sendo feitas, as brincadeiras
inventadas pelas poetas “palhaços”, as encenações a foram encantando.
Não
deixei que nossos olhares se cruzassem em momento algum porque assim, creio,
evitaria que percebesse que rezava agradecendo a Deus por ela cheia de saúde em
meio a tantas crianças esperando autorização daquele hospital para voltarem ser
apenas criança.
Médicas e Enfermeiras também declamaram poesias para seus pacientes mirins
Chegando
a minha hora de recolhimento fui ao encontro da Alcinea, um pouco afastada do
palco dos acontecimentos – espairecia rendida a tantas emoções.
Chamei-lhe
a atenção para a janela do andar superior do hospital, a mãe ainda tinha seu
bebê ao colo, continua lá... quem sabe compondo uma poesia para seu bebê.!?
Os poetas se embeveceram com os próprios feitos. Foi, realmente, emocionante.
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