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domingo, fevereiro 14, 2016

DOMINGO BEM CEDINHO...


c-bernardo2012@bol.com.br

Também hoje eu devia ter me acordado para viver mais um dia, afinal tenho lutado muito por cada novo dia de vida. Mas, não era para sair da cama nem ouvir rádio nem ir à missa nem ligar computador. Fiz tudo isso e agora quero voltar ao sono, hibernar pelo resto do dia, e não consigo.
Não sei explicar o porquê da minha baixíssima capacidade de reagir aos estímulos que o câncer ainda me transmite, mas infelizmente tem sido assim., como hoje. Dormi mal, aliás, pouco, desde às três da manhã esperava cansado o dia amanhecer – às 7 sairia para a Missa.
Choveu forte e muito no finzinho da madrugada, o barulho da chuva no telhado e no quintal fez com que não ouvisse integralmente as palavras litúrgicas de Dom Fernando e Pe. Marcelo enquanto celebravam a missa dominical que a televisão mostra ao vivo, bem cedinho. Aumentar demais o volume da televisão não podia, não moro sozinho. Às 7 horas tomei o carro e fui para a igreja, não prescindo da missa presencial.
Ocupo sempre o mesmo lugar na nave. Antes de me assentar, na chegada, cumprimento várias pessoas que também ritualistas ocupam os mesmos lugares. Algumas dessas pessoas estão doentes como eu, talvez peçam a Deus em suas orações o mesmo que peço ou ofereçam o mesmo que ofereço – temos sofrimentos para colocar no altar do Senhor.
O senhor Antônio e a dona Antônia, velho casal antigos nubentes têm câncer – ele na próstata ela na mama. Ao cumprimenta-los: bom dia! elevo a Deus a primeira oração por eles. Depois do cumprimento às vezes choro, hoje chorei muito.
Fomos comungar: ela, ele, eu na fila. Ele tomou a hóstia da mão da ministra da Eucaristia de forma estranha – apressado, com dois dedos. Dona Antônia percebeu, se assustou um pouco e instintivamente ofereceu o corpo para ele se apoiar.
Fiz menção de apoia-lo também, mas D. Antônia me recriminou com o seu olhar de Maria, doce e cortante. O Sr. Antônio estava passando mal, o câncer o oprimia na forma dura de sempre, mas ele era apenas dela. Depois da Missa um escorando o outro foram-se.
Corri para casa, antes dei uma paradinha na banca de jornais, comprei os meus e a revista semanal. Foi só chegar e meu telefone tocou, quase não escutei a voz do outro lado. E não devia ter ouvido mesmo: era dona Neiva....coitadinha, devia dizer. Mas não digo.
Pedia ajuda, ela tem leucemia, um câncer horroroso, está fraquinha e com muita necessidade de viver. Precisa da sua dose de plaquetas, que, infelizmente, é um produto em falta no Instituto de Hemodiálise do Amapá. Não sei o que fazer por ela já que deixou comigo o pedido de socorro.    
Que domingo,,,que domingo!

  



    

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