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quarta-feira, fevereiro 24, 2016

ILHINHA

c-bernardo2012@bol.com.br

Minhas ambições são modestas, curtas as minhas asas – é a indignação quem me eleva aos ares. Dia desses, sem mais nem menos, a internet avisa do falecimento da Alexa. Que dor, tantas vezes me convidou a visita-la em Colónia, ali na Alemanha. Convidado não fui, intruso o câncer chegou primeiro.
Por causa desse doloroso acontecimento voltei a pensar na visita que não fiz a amigos em Lisboa, Paris e Londres. Em nossa mesa de refeições, aqui em casa, prometi a Anete Ferreira e ao esposo José que os visitaria em Lisboa e lá vão anos dessa promessa a cumprir.
Essas coisas são recônditas!, não sabem, mas meu ego vai além. Não cobiço a Europa, a America, a Ásia, a África ou a Oceania antes da minha ilha. Aliás, não ilha nem ilhota nem ilhona: ilhinha.
Quando a encontrar e dela tomar posse lhe darei o nome de Sozinha. Serei por mim mesmo proclamado imperador, terei uma imperatriz e quem sabe um ganso para guardá-la de todos os inimigos.
Não terei serviçais, nem impostos nem conta de luz nem súditos, nunca temerei que surja no meu império um Juiz Sergio Moro. Mas, é certo, em Sozinha o sol, as estrelas, a água, a brisa, os cocos, tudo será meu e da imperatriz. Todos os dias direi a ela: o sol é só nosso, as estrelas brilham só para nós, toda essa água em volta é para nosso deleite, a brisa também.
Quando a imperatriz entediada reclamar, explicarei: majestade, estamos no cume do mundo, tudo o mais está abaixo, a ilhinha é que é Sozinha, nós não. O que nos importa Lisboa, Londres, Paris, Buda e Peste, embora ai estejam preciosos amigos nossos?
Ali é um sol, uma lua, uma brisa e pouca água para milhões de pessoas. Aqui em nossa ilhinha, tudo é só para nós dois e um nadinha de nada para o ganso, guardião de Sozinha.
Mediante vestigios de resistencia à minha argumentação trarei à realidade a imperatriz: Vê a matança em Paris? A barbárie na Síria? Tantas mortos afogados no Egeu? O terror na Turquia? A humilhação na Venezuela? A ambiciosa astúcia do Evo na Bolivia? A roubalheira no Brasil? O cinismo no Brasil? A audácia no Brasil?
Tudo isso, minha rainha, é linha por linha do que disse Prometeu às ninfas: “Dei fogo aos homens; esse mestre lhes ensinará todas as artes”.   

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