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domingo, fevereiro 07, 2016

MEU ESPIRITO INGOVERNÁVEL.

c-bernardo2012@bol.com.br
Meu espirito vai onde quer, entra em qualquer lugar e de vez em quando fala comigo. Pratico assim o espiritismo sem nunca ter entrado num centro – seria eu espírita? Do dia 4 de fevereiro de 2011 para cá meu espirito não deixa de se manifestar no dia 4 de fevereiro. Nunca imaginei esse entrosamento entre nós.  
Em 2011 a cidade fazia 253 anos e eu 59, bem cedo estávamos na Igreja São José para a segunda manifestação comemorativa do aniversário da cidade de Macapá – a primeira corre à conta dos canhões da Fortaleza São José. Meu compromisso de mais de trinta anos era estar de corpo e alma nesses dois lugares., sempre estive.  
Aos costumes, estava na igreja acompanhando a missa, mas não me sentia bem, alguma coisa que nunca sentira revirava meu corpo de dentro para fora – uma esquisitice.
Minha esposa, Consolação, estava ao meu lado, a igreja cheia a não poder mais entrar ou sair pessoas, para mim o ar também não entrava nem saia e sufocava, o meu espirito sabia o que era e ainda não tinha me dito nada.
Em questão de minutos era só ele que estava naquela igreja, ao meu corpo negou-se o chão, a boca amargou, a vista deixou de enxergar, as pernas amoleceram e uma dor inaudita tomou conta de tudo. Aguentei o tranco, disse que me sentia febril e fui saindo.
Meu carro não estava longe, mas precisei de uma eternidade para alcança-lo. O que me valeu foi o espirito ter se recusado a deixar a igreja, ficou lá em certa intimidade com os santos enquanto me arrastava para casa. Depois de metros rodados achei que não chegaria e foi então que voltei ao meu espírito e através dele falei com Deus: “Cura-me senhor bem aqui, onde dói”.
Dali fui aos confins da minha existência, revi coisa e outra da minha infância ao nascimento dos meus filhos, mas tudo embaçado. Meu espirito e eu não tínhamos a intimidade necessária a tornar aquele drama mais claro para mim, como dias depois ficou: o câncer chegou, gritou comigo como quis, jogou-me na cama e dela ao leito do hospital.       
No hospital outra vez meu espirito e eu nos olhamos nos olhos, foi ele que voltou a falar com Deus: “Ó Senhor, foi para aliviar o meu sofrimento que me trouxe aqui” – e Deus ouviu e concedeu.
Hoje, 4 de fevereiro de 2016, cinco anos depois, aos costumes nunca interrompidos voltei à Missa de aniversário de 258 anos da cidade de Macapá na mesma igreja São José. Cheguei cedo para procurar e encontrar o mesmo lugar que ocupei em 2011, infelizmente não mais as mesmas pessoas em volta.
E dessa vez deu-se que meu corpo estava ali e meu espirito alhures enquanto corria a missa. Fez de volta o trajeto até minha casa, depois voou ao Hospital Santa Cruz, foi ao Rio de Janeiro para reencontrar meu pai e dar-lhe notícias do meu corpo, retornou a Macapá fazendo-me outra vez sentir no corpo o lento caminhamento dos quimioterápicos em minhas artérias e veias, os enjoos, as defecações incontroláveis, luzes e cheiros insuportáveis, dores e medos tenebrosos.
De repente esse meu espirito reentrou em mim, reassumiu o domínio do meu corpo sossegando também minha alma conforme a liturgia da belíssima missa celebrada pelo Padre Aldenor em ação de graças pelos 258 anos da cidade de Macapá.
Chovia bastante, a igreja estava cheia de mim, de senadores, deputados vereadores, promotores e procuradores de justiça, prefeitos, governador... talvez apenas de corpo presente.      

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