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Vi adolescentes hoje animados
com a catequese que os levará ao batizado e à primeira comunhão. A Catedral São
José estava cheia deles e de seus pais apesar da chuvarada que veio da
madrugada – costumamos dizer: “chuva para derrubar urubu do galho”.
O vigário, Pe. Francisco,
falou-lhes das inevitáveis preparações para vida, dos medos, das decisões. Sábias
palavras, as do vigário, jovem ainda. Lembrei a saga da águia que chega aos quarenta e tem que se reprogramar para nova vida até os setenta anos. Essa ave prodigiosa se fortalece muito até os trinta e cinco anos, daí até os quarenta se prepara para o grande sacrifício que a renovará totalmente.
Chegada a hora a águia voa
mais para o alto, se aloja numa reentrância da parede de pedra do penhasco e aí
bate com o bico até arranca-lo inteiramente – sangra, espera, se recompõe. Com o bico novo, forte,
arranca todas as unhas – sangra, espera, se recompõe. Com as unhas novas
arranca as penas já ressecadas, pouco eficientes contra o frio e a umidade.
Depois
desse doloroso ritual, que dura em média 120 dias, surge a nova águia
totalmente preparada para os próximos trinta anos de vida.
Para os cristãos católicos
a quaresma é esse período de renovação. O Pe. Francisco falou muito claramente
do ritual desses quarenta dias para as crianças catecúmenas – elas entenderam. Esse período de transformação da águia também chega para a maioria de nós, frequentemente também depois dos quarenta anos.
Chegou para mim à altura dos 59 anos – desafiadores: 18 dias “arrancando o bico” no leito hospitalar, 180 dias “arrancando as unhas” numa sala hermética de quimioterapia, 4 anos “trocando as penas” entre exames médicos, internações, cirurgias, médicos, remédios. Outros cinco anos tenho para vencer até que, ao fim, veja-me renovado.
Eis o “livro” da vida para as águias, para os cristãos e não cristãos, para os enfermos: viver – renovar – viver.
Simples assim!
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