Translate

segunda-feira, março 19, 2012

MINHA COLUNA

VIVA O NOTEBOOK.
Cesar Bernardo Souza

Educar é cada vez mais um desafio gerador de dividendos para políticos e cada vez menos de ganho político. Ou seja, a demagogia política eleitoreira embarcada na garupa larga da educação tem feito, no Brasil, a felicidade dos políticos habilidosos com as palavras, e bons interpretes dos seus “planos de governo”, “discutidos” com a população durante a campanha eleitoral. Na maioria das vezes político e plano não passam de habilidades de marqueteiros para lá de talentosos. Perde-se, portanto, o ganho politico.
Pessoas de todas as idades já ouviram discursos “compromissos” firmados em praça púbica pró educação. Por ultimo passou-se a ouvir acréscimos do tipo: “vamos estar implementando uma educação de primeiro mundo em nossas escolas”.
Essas afirmações ou “compromissos” também passam a “promessa de campanha”, dependendo da causa/efeito que se tenha que produzir contra ou a favor do governo eleito. Não se pode deixar de perceber que a tarefa a ser cumprida não é de um partido, mas de um governo eleito por uma coligação partidária.
Daqui em diante já se pode perceber que é enorme o espaço de manobra que se abre para o não cumprimento da promessa. Partidos elegem, um partido governa. Como de dois em dois anos tem eleição, é nesse mesmo espaço de tempo que outras coligações se formam em torno do governo no poder para se eleger o sucessor. No âmbito de tudo isso o que deixa de valer é justamente o que se prometeu na campanha anterior. Nova campanha novo lema eleitoral: é tática profissional do marqueteiro em mesma medida que é o seu novo (rico) ganha pão.
Simples assim? É porque a sustentar essa, como diria?, estratégia está nas ruas a enorme força de convencimento da militância. Que por sua vez compõe-se de eleitores.
É a maioria relativa quem elege, logo se esta não se dispõe a cobrar promessas eleitorais porque o eleito se apressará em cumpri-las? Às vezes pela vaidade.
No Brasil de hoje o Partido Socialista Brasileiro (PSB) cismou que pode oferecer educação de “primeiro mundo” apenas distribuindo notebooks aos professores. Aqui no Amapá o candidato prometeu essa maravilha a todos os professores da rede estadual de ensino. Empolgou com a promessa fornecedores e professores. Massageou o ego internáutico do alunado jovem. Juntou assim a fome com a vontade de comer e, resultado: elegeu-se com décimos de vantagem sobre seus adversários.
E qual o problema? Os notebooks demoraram a chegar, mas estão em depósito conforme garante o governador. Os professores que estão em greve hoje lutando em praça pública pelo direito ao salário mínimo da educação, amanhã receberão cada qual seu notebook. E o aluno, bem...
Então qual a problemática? É que ninguém, nem cá nem lá, pode dizer que a educação vai melhorar só por causa disso. Aliás, parte do “primeiro mundo” já desistiu desse projeto:
(Gustavo Ioschpe: A tecnologia não nos salvará (por enquanto).
 “Perguntei ao MEC quais os estudos que embasam a ideia de que a distribuição desse material terá algum impacto sobre a qualidade do ensino, mas não houve resposta. Nem poderia. Praticamente toda a pesquisa sobre o assunto, não apenas no Brasil como no exterior, mostra que não há relação entre a presença de computadores na escola e o aprendizado do aluno. Imagine então um aparelho dado ao professor. O programa surgiu por vias tortas. A primeira intenção era distribuir laptops a todos os alunos da rede pública. Mas a experiência internacional tem mostrado que essa medida é muito custosa e pouco eficaz, a ponto de cidades americanas que a implementaram já a terem cancelado há anos. Os alunos estavam usando os computadores para colar em provas e baixar pornografia. Mesmo no Brasil, o estudo sobre o impacto do programa Um Computador por Aluno em sua fase piloto mostrou que só se beneficiavam do laptop aqueles alunos que o levavam para casa; aqueles usados apenas na escola não produziam melhorias no aprendizado. O MEC fez então essa mudança de curso e resolveu destinar a verba aos professores, em uma medida que certamente agradará à categoria mas não tem sustentação na pesquisa nem na lógica.
No mesmo momento em que Brasília anunciava a medida, o governo do estado de São Paulo mostrou que desperdício pouco é bobagem. Ao mesmo tempo em que briga na Justiça para não cumprir a (inócua, diga-se) lei do piso salarial dos professores, o estado divulgou um investimento de 5,5 bilhões de reais, ao longo de dez anos, para equipar suas salas de aula com lousas digitais. Chama atenção a envergadura do projeto, em um momento em que também há farta divulgação de que experiências pioneiras nos EUA têm mostrado que os distritos que receberam essas máquinas vêm tendo desempenho pior do que a média de seu estado. (Toda a bibliografia mencionada neste artigo está na íntegra em twitter.com/gioschpe.) Mas, vaidade das vaidades, porque voltar atrás de uma promessa de campanha que tornou a candidatura do governador Camilo Capiberibe vitoriosa? Mais do que isso: se foi justamente ela o diferencial que lhe valeu os décimos da vitória?
Em casos assim, cabe ao eleitor exigir o descumprimento de promessas eleitorais? 


    


 

Nenhum comentário: