ESVREVA A SUA.
Cesar Bernardo de Souza
O escritor Salman Rushdie escreveu uma carta para o
cidadão 6.000.000.000º do planeta, essencialmente ele analisou nesta carta o
futuro dessa criança que nasceria na Índia, provavelmente. Nasceu na Europa.
Um trecho da carta diz, textualmente:
“Querido Seis Bilionésimo Ser Humano. Como mais novo membro de uma espécie
notoriamente curiosa, é provável que você não demore muito para começar a fazer
as duas perguntas-chave, os dois xix da questão, com as quais os outros
5.999.999.999 de nós temos nos batido por algum tempo: Como viemos parar aqui?
E, agora que estamos aqui, como devemos viver?.”
Daí em diante o escritor fala ao 6º bilionésimo cidadão
sobre Deus, sobre as religiões, sobre seus líderes e sobre seus seguidores.
Desliza suavemente num raciocínio admirável, mas não surpreendente ao “avisar”
ao seu missivista que a história da humanidade foi até agora muito sedutora,
apesar dos aurigas e dos avatares que conseguiram transformar a crença em
prisão.
Previne que o missivista tem chance de presenciar o
nascimento do nove bilionésimo cidadão do planeta porque, admite-se que
“colapsos” dos programas de planejamento familiar nos países mais populosos
ocorrerão por conta do subjugo das religiões: “Se gente demais está nascendo
como resultado, em parte, das censuras ao controle de natalidade, gente demais
também está morrendo porque a cultura religiosa ao se recusar a encarar os
fatos da sexualidade humana recusa-se também a lutar contra a disseminação das
doenças sexualmente transmissíveis”- diz Rushdie.
As guerras ditas santas são, para o escritor, as grades
da grande prisão que vislumbramos sempre que nos perguntamos como viemos parar
aqui. Cético com a obra humana literária, ele diz ao seu missivista para não
buscar essa resposta em livros da nossa história.
O imperfeito conhecimento
humano, diz ele, talvez seja uma rua esburacada, porém é o único caminho para a
sabedoria que vale a pena trilhar.
E
cita Virgilio que, ao acreditar que o apicultor Aristeu era capaz de gerar
espontaneamente novas abelhas a partir da carcaça putrefata de uma vaca, estava
mais próximo da verdade sobre as origens do que todos os grandes livros do
passado.
Pois bem, essa pessoa a
quem Rushdie escreveu a carta nasceu na Bósnia, em Sarajevo, às 0h02 do dia 12
de outubro de 1999. Doze anos passados, dias atrás, dois minutos antes da meia-noite deste
domingo, nasceu a menina Danica Mae Camacho, em Manila, nas Filipinas,
confirmada pela ONUN como a cidadã 7.000.000.000ª (7 bilionésima) do planeta. Escreva a ela a
sua carta. Publique-a.
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