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segunda-feira, setembro 24, 2012

A TESE.



A tese é das mais malucas que já concebi, me ocorreu de tanto olhar o mapa da Amazônia: estabelecer barreiras legais para impedir a entrada de grandes navios mercantes para o interior da Amazônia a partir dos portos nas de Santana, no braço esquerdo do rio Amazonas e, de Vigia, no braço direito. 
 
Para ver o que vejo naquele mapa é preciso viajar no seguinte itinerário: No sentido do Oceano Atlântico para o continente, partindo de Santana no Amapá e da Vigia no Marajó, entre no rio Amazonas, percebendo que por ele e pelos rios Xingu, Tapajós, Paru de Este, Jari, Jatapu, Tocantins, Araguaia, Madeira, Negro, Juruá, Trombetas, Branco, Japurá, Jutaí, Itaqui, Ji-Paraná, Juruena, Solimões, Javari, Içá, Paru de Oeste até outra vez encontrar o Amazonas em território estrangeiro, navios de grande calado, acima de 50 toneladas navegam nas águas desses 4.767.717 quilômetros quadrados do território amazônico  brasileiro com  melhor desenvoltura do que quando em mar bravio.
Sobre esses navios viajam mercadorias de importes financeiros que atingem a escala do bilhão de dólares/ano. Um grande volume dessas mercadorias chega do exterior para o abastecimento interno brasileiro, enquanto volume igual ou maior sai do Brasil para o exterior, com grande destaque para os produtos florestais madeireiros.
 
Contabilizando a mão de obra que está operando todo o sistema de navegação de base e de ponta, aí teremos milhares de embarcadiços, estivadores, carpinteiros navais, mercadores, merceeiros,  pescadores, trabalhadores noturnos, etc, formando um contingente de milhões de trabalhadores interligados numa grande cadeia de produção.
E quantas são as embarcações participantes primárias e secundárias desse sistema? Se forem dezenas de milhares, milhões será a medida para o fluxo de combustível e demais insumos de sustentação dessa frota flúvio-marinha.
Já não e o caso de reflexões mais pragmáticas sobre os riscos de desastres ecológicos e impactos ambientais permanentes e inevitáveis que a operacionalização desse enorme sistema representa?   

Parece que não tem importância, mas desbarrancamento das margens dos rios por causa da energia das ondas causadas pelo deslocamento de água por essas grandes embarcações é o problema cumulativo.
Muito maior, iminente e ameaçador é o risco de desastre ecológico de proporções imprevisíveis a partir do despejo de óleo no estuário em decorrência de possíveis acidentes que levem ao rompimento de casco dos grandes navios petroleiros já muito frequentes no circuito amazônico de importação e exportação. Aliás, que Deus nos livre dessa possibilidade.
 
E olha que são quilômetros e quilômetros de franca hidrovia dentro desse sistema, por onde também passeia a rica biodiversidade amazônica que em grande parte sustenta a ida humana regional.  
Não estaria na hora de pelo menos criarmos um complexo de pedágio e de fiscalização, nos mesmos moldes dos que existem nas rodovias? Essa hora chegará.
Essa realidade hidro econômica regional circunstanciada pela navegação interna de grandes embarcações visto de outra forma não deixa ser a maior de nossas vantagens comparativas. Mas que precisa se transformar logo em dividendos financeiros e políticos capazes de ajudar significativamente o próprio financiamento da região, a começar por oferecer ao ribeirinho chances reais de autopromoção socioeconômica.
Em síntese, é dizer (e providenciar para) que navios de alto calado não entrariam mais nos rios amazônicos, as embarcações nacionais de médio e pequeno calado 
 
receberiam em Santana e/ou Vigia as cargas de importação e de exportação nacionais.
Não existe capacidade instalada em toda a Amazônia suficiente para mitigar efeitos de grandes vazamentos de combustíveis em águas interiores. Não é demais lembrar que duas marés diárias fazem parte desse cenário, marés que se rebatem sobre imensas áreas de planície.
É claro que estudos sérios precisam ser realizados a este propósito, entretanto algo me diz que a minha tese não é tão maluca assim.


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