LEVANTE E ESCREVA
Dezembro/2002
O colega da página ao lado está muito doente, muito
certamente leitores do Diário do Amapá e ouvintes do Luiz Melo Entrevista já sentiram falta
das letras e da voz arrastada do Carlos Bezerra. Ainda ontem ele carimbou uma
crônica e assinou em baixo., a grande verdade é que o gigantesco guerreiro está
lutando tudo que pode pela vida.
Em
abril de 1999 Carlos adoeceu gravemente, a sua ausência prolongada nos meios de
comunicação impôs à cidade de Macapá um silêncio doloroso e barulhento, cujo
estardalhaço incomodou também Santana e todos os lugares até onde se pode ouvir
a Antena 1.
Escrevi a seu respeito: “. . . o vazio marcado pela
ausência da sua caneta passa de uma página para a outra desse nosso jornal,
reverbera e repercute por toda a cidade já acostumada às suas crônicas diárias,
lidas todas as manhãs nos microfones da Antena 1 . . . Já disse que sobre o
Carlos Bezerra direi tudo que puder enquanto ele for vivo o suficiente para
concordar ou discordar do que disser a seu respeito. . . Dessa vez só tenho a dizer que desejo-lhe
prontíssimo restabelecimento. . .
Das letras de Carlos Bezerra li “José da Silva, o brasileiro” e fiquei na expectativa de ler também
de sua lavra “João de Souza, o amapaense”.
E não é só, quero ver mantido meu direito de lê-lo todos os dias, escreva ele
sobre o que quiser e como quiser. Portanto, até por egoísmo exijo que o Carlos
Bezerra deixe já o leito do hospital, levante e escreva...”
Hoje, três anos e oito meses depois quase posso repetir
tudo que escrevi, com a diferença de que é preciso cuidado em não emocioná-lo
mais do que pode suportar nesses momentos de tão grande esforço para outra vez
deixar o leito hospitalar., praticamente o de mesmo número na mesma ala do
mesmo hospital.
Dona
Antonia, esposa, está a postos, firme como esteio de aquariquara. É ela que
primeiro atende o telefone, para dizer com voz firme que o Carlos está melhor,
que passou bem a noite, que já está voltando a ser o rabujento de sempre. É
também dona Antonia que corre atrás dos alimentos, dos remédios, dos
atendimentos e do conforto que o Carlos precisa receber enquanto convalesce.
Como se não bastasse ver prostrado o gigante Bezerra, dona Antonia ainda tem
que livrar a residência do corte de energia elétrica por falta de pagamento,
imagina!
Dias
bicudos não é Carlos Bezerra? Mas não muito diferentes daqueles de abril de
1999, no século e milênio passados, quando daí mesmo do quarto desse hospital
talvez tenha lido o que escreveu o Hélio Pennafort no ETECÉTERA do Dito Popular,
publicado em 07/04: “Depois de umas
quantas horas de passeio pelo rio, nada melhor do que pegar uma sombra no
bambuzal que enfeita a ribanceira”.
A
analogia é a seguinte, querido amigo: Depois de tantos dias neste hospital, de
tantos vazios no jornal Diário do Amapá,
de tanto silêncio na Antena 1, de tantas angustias nos corações dos seus
amigos, nada melhor do que voltar devagarinho para casa, para o quarteirão,
para o bairro, para a cidade, para a vida dura de jornalista.
Por
Deus, Carlos, levante e escreva., estamos aguardando, companheiro.
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